Nascido em 1899 em Budapeste, na
época a capital da província húngara do Império Austro-Húngaro, Guttmann era
oriundo de uma família judia, sendo os pais, Abraham e Ester, bailarinos de
profissão, que o educaram musicalmente desde pequeno, razão pela qual, ainda
muito novo, também se dedicou à dança. Durante a adolescência, apaixonou-se
também pelo futebol, um desporto recém-chegado na Europa central, proveniente
de Inglaterra. Os pais insistiram para que ele prosseguisse na dança e, aos dezasseis
anos, já era professor de dança clássica. Em 1917, porém, a paixão pelo futebol
levou-o a abandonar a dança, começando a jogar no Törekvés SE, onde se
tornou profissional.
Muito mais tarde, já como
treinador do Honvéd HFC, enfrentou Puskás pela substituição de um
jogador, tendo nos balneários anunciado a sua renúncia. O seu estilo ofensivo
reinou nas duas décadas de 1950 e 1960, em vários países, clubes
e continentes.
Depois da sua saída da Hungria,
tornou o Enschede holandês (agora FC Twente). Assim que chegou a
Itália, levou o AC Milan à vitória no campeonato em 1954/1955. No ano
seguinte, foi para o futebol uruguaio, sendo campeão com o CA Peñarol.
Em 1957, fez outra mudança, desta vez para o Brasil, com o São Paulo FC.
Béla Guttmann pôs uma condição: contratar Zizinho, “Mestre Ziza”, 35
anos, o jogador que encarnou o “futebol arte” no Brasil, o modelo e ídolo de
Pelé, tendo-se tornado, uma vez mais, campeão.
De regresso à Europa, o destino
foi Portugal, primeiro no FC Porto, onde também foi campeão, e depois
para um dos “grandes” de Lisboa, o SL Benfica, onde se senta ao lado do
técnico brasileiro do São Paulo, José Carlos Bauer, ex-jogador dos Mundiais
de 1950 e 1954. Este conta-lhe que vira uma grande promessa em Lourenço
Marques, Moçambique. Béla Guttmann manda um emissário e, em dias, no final de
1960, Eusébio da Silva Ferreira chega a Lisboa.
Na final do Torneio de Paris,
1961. Béla Guttmann, desespera-se contra o Santos FC de Pelé, que vencia
por 3-0 no intervalo. A 20 minutos do final, colocou para jogar o Pantera
Negra, Eusébio, que marcou três golos seguidos. Guttmann dizia a Eusébio e
aos seus outros jogadores: «Metamos três golos e já veremos». Estes meteram
então três golos, vencendo o Santos por 6 a 3. A revista “France
Football” titulou «Eusébio 3 - Pelé 2». Béla Guttmann e Eusébio, à
parte de ganharem os campeonatos portugueses, fizeram do Benfica uma das
melhores equipas da Europa nos anos 1960. Foi o apogeu e o final feliz
da grande história da vida de Béla Guttmann.
Segundo o jornalista brasileiro
Fabio Lima, ele tinha uma regra para a sua carreira de treinador: nunca ficava
mais de três anos numa equipa, pois considerava que este era o tempo… antes dos
seus jogadores se desgastarem e perderem a motivação.
Em 1962, depois de ter
conquistado duas Taças dos Campeões Europeus, ele pediu um aumento, que
lhe foi negado. A razão pela qual Guttmann saiu de forma tão abrupta de Lisboa
teve tudo a ver com a recusa da direcção do Benfica em aceitar pagar-lhe
uma bonificação pela conquista da Taça dos Campeões duas vezes seguidas.
Teorias alternativas afirmam que ele declarou numa entrevista que seriam
necessários mais de 100 anos até que outro clube português conseguisse
conquistar duas vezes uma taça continental. Qualquer que seja a versão em que queiramos
acreditar, todas as previsões de Guttmann - verdadeiras ou ficção - tornaram-se
realidade.
«Sem mim, nem em cem anos o
Benfica vai conquistar outra taça europeia!» - esta a maldição que paira
sobre o clube.
Em 28 de Fevereiro de 2014, o Benfica
inaugurou na porta 18 do Estádio da Luz uma estátua em bronze de Béla
Guttmann com dois metros da autoria, do escultor húngaro Szatmari Juhos Laszlo.
O objectivo simbólico é o de «quebrar a maldição» lançada pelo ex-treinador.
No entanto, a alegada maldição de
Béla Guttmann persiste: o Benfica chegou a duas finais Europeias,
mas não saiu vencedor - em Maio de 2013 e em Maio de 2014, respectivamente
contra o Chelsea FC e o Sevilla FC.
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