Filha de José Manuel Pinto
Correia, grande-oficial da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada a título
póstumo a 10 de Junho de 1991, e de sua mulher Maria Adelaide da Cunha e
Vasconcelos de Carvalho Amado. É irmã da jornalista Margarida Pinto Correia.
Viveu vários anos da sua infância
em Angola, onde o pai, o professor de Medicina José Pinto Correia, foi
obrigado a cumprir serviço militar como médico durante a guerra colonial (Guerra
do Ultramar). Aí lhe nasceu a paixão pela Biologia. Foi uma
excelente aluna, primeiro frequentou o Liceu Francês Charles Lepierre,
depois o Liceu Rainha D. Leonor.
Como escritora, é autora de uma
vasta obra, que iniciou em 1983. O seu mais conhecido romance é “Adeus, princesa”, que publicou aos 25 anos de
idade, no qual retrata a alma da juventude do Alentejo no final da tentativa de Reforma agrária. Tem
meia de uma centena de títulos publicados, incluindo
ficção, literatura infantil, ensaios, biografia, crónicas
de opinião, divulgação científica e estudos de História da ciência.
Motivada
pelo sonho de um dia vir a ser Park Ranger numa reserva africana (nas
revistas que o pai assinava, nomeadamente a “National Geographic”, fascinavam-na (particularmente
as fotos de Jane Goodall com os chimpanzés), Clara Pinto Correia foi
estudar Biologia para a Faculdade de Ciências da Universidade
de Lisboa. Aí terminou a licenciatura em 1984. No ano seguinte, integrou o
corpo docente da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa como
assistente estagiária de Biologia celular e Histologia
e Embriologia e, simultaneamente, como
doutoranda no Laboratório de Biologia Celular do Instituto
Gulbenkian de Ciência, em ambos os casos sob orientação
do professor J. David-Ferreira. Deixou-se se ficar
aí até 1989, ano em que foi para o Estados Unidos como visiting scientist do laboratório de Sabina Sobel,
na Universidade de Nova Iorque em Buffalo para execução do projecto de doutoramento.
Em Outubro de 1992 foi-lhe
conferido, com distinção e louvor por unanimidade, o grau de Doutor em
Biologia Celular pelo Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar
da Universidade do Porto. Regressa aos EUA, entõ como postdoctoral fellow no laboratório de
James Robl, no Department of Veterinary and Animal Sciences da University
of Massachusetts at Amherst, para desenvolver um projecto de investigação
relacionado com as interacções núcleo-citoplasmáticas na
clonagem de embriões de mamíferos. Em 1994, trocou o
trabalho de bancada por um contrato de dois anos para fazer uma
especialização em História das Ciências no Department of History of
Science da Harvard University, e escrever um
livro sobre História das Teorias da Reprodução, em ambos os casos sob
orientação de Stephen Jay Gould e supervisão de Everett Mendelshon. Publicado o livro “The Ovary of Eve - Egg &
Sperm & Preformation”, em 1996 regressou a Portugal para criar na Universidade
Lusófona de Humanidades e Tecnologias a licenciatura em Biologia e o
mestrado em Biologia do Desenvolvimento. Paralelamente, foi contratada
como «research associate» de Stephen Jay Gould no Museum of
Comparative Zoology da Harvard University, cargo que manteve até
2002, e como «adjunt professor» no Department of Veterinary and
Animal Sciences da University of Massachusetts at Amherst, que
manteve até 2001. Em 2004 prestou provas de agregação em
História e Filosofia das Ciências na Universidade de Lisboa.
Actualmente é professora
catedrática da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, onde
dirige a licenciatura em Biologia e o mestrado em Biologia do
Desenvolvimento. Lecciona em ambos os cursos os módulos associados à
história do pensamento biológico e à história das
teorias da reprodução. É também «research associate» de John Murdoch no Department
of History of Science da Harvard University e investigadora do Centro
de Estudos de História das Ciências Naturais e da Saúde do Instituto
Rocha Cabral.
No laboratório do prof. James
Robl na University of Massachusetts, que
trabalhava com o objectivo de clonar bovinos transgénicos em grande número, Clara
Pinto Correia introduziu novas técnicas de localização de estruturas
intracelulares por imunofluorescência que tinha
aprendido durante os seus trabalhos de doutoramento. Era consensual
entre todos os cientistas, pois era isso que ensinavam os livros de
biologia celular e do desenvolvimento, que o centrossoma
que preside à organização do primeiro ciclo celular era de origem materna. Até então, o modelo usado era única e
exclusivamente o rato e a extrapolação parecia natural. Acontece
que Clara Pinto Correia, depois de usar como modelo o coelho, descobriu que
o centrossoma que preside à organização do primeiro
ciclo celular era de origem paterna. Usando como modelo
o bovino, obteve os mesmos resultados. Entretanto, outros grupos de
investigação internacionais à medida que ensaiavam outros modelos chegavam à mesma conclusão. Os livros foram mesmo
reescritos.
O interesse
de Clara Pinto Correia pela História da Biologia vem dos tempos de
estudante. Porém, terá sido Stephen Jay Gould o seu guru intelectual, que a
levou pelos caminhos da história das ciências. Foi com ele que Clara Pinto
Correia fez a sua primeira grande investigação sobre história das teorias da
reprodução, na Harvard University que viria a culminar
na edição do livro “The Ovary of Eve - Egg & Sperm &
Preformation”. Esta investigação levou-a a fazer a sua segunda grande
descoberta, sobre a história da preformação. Tudo
começou com o pressuposto de que os preformacionistas do século XVII tinham desenhado
pessoas pequeninas enroscadas dentro do núcleo do espermatozóide. E estas pessoas tinham até um nome. Eram os “homúnculos”.
Porém, quando Clara Pinto Correia começou a investigar as fontes, nomeadamente
o precioso “Traité de
Dioptrique” de Nicholas Hartsoeker (1694), não encontrou o termo em lado algum. A investigadora acabaria por
concluir que o termo “homúnculo” nunca foi usado pelos preformacionista
dos séculos XVII e XVIII, mas trata-se antes de uma
invenção da literatura secundária dos anos 1930. Esta descoberta, modesta na sua grandiosidade pois não salvou vidas nem deu
a paz ao mundo, acabaria por obrigar a uma revisão dos livros de texto. Um
deles foi o conhecido “Developmental Biology” de Scott Gilbert que, na
sua 4ª edição. apresentava o famoso espermatozóide de
Hartsoeker com o seu “homúnculo” em posição fetal, mas que na edição
seguinte já tinha segregado o termo “homúnculo”.
Actualmente, Clara Pinto Correia
é investigadora responsável pelo projecto MAPA MUNDI -
O impacto das viagens imaginárias na organização do
pensamento ocidental (séc. XIV-XVIII), a decorrer no Centro de
Estudos de História das Ciências Naturais e da Saúde do Instituto Rocha
Cabral. Este projecto visa proceder a uma análise interdisciplinar
(Ciências naturais/Estudos do género/Psicologia/Tradição oral
portuguesa/Cartografia) de quatro grandes clássicos
europeus da narrativa de viagens, como “As viagens de John Mandeville”,
“O Livro do Infante D. Pedro” de Gil de Santisteban, a “Terra Austral Conhecida” de Gabriel de Foigny, e
o “Suplemento à viagem de Bougainville” de Denis Diderot.
NB - Apresentou
programas de ciência e cultura na rádio e televisão, nomeadamente: “Música
para camaleões” (Rádio Comercial, 1986)), “Rumo à lua” (RTP
2, 1996), “Morfina” (CNL, 1999), “Morfina” (CNL,
2000) e “Travessa do cotovelo” (RTP 2, 2001)).
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