Em sua homenagem foi fundada a Sociedade Broteriana,
agremiação científica que, através do seu Boletim, teve grande
importância no desenvolvimento da Botânica em Portugal.
Filho mais novo de José da Silva Pereira e Avelar,
médico pela Universidade de Coimbra, e de Maria René da Encarnação
Frazão. Aos 19 anos, recorreu à arte do canto para angariar meios de
subsistência, devido à morte do seu avô e, após ter ficado órfão de pai aos 2
anos, e a sua mãe ter perdido a razão, conseguiu um lugar de capelão cantor na
patriarcal de Lisboa. Entretanto, tinha estudado Latim, Grego e Música
e adquirido conhecimentos de Direito Canónico suficientes para ir para
Coimbra fazer exame três anos seguidos, não concluindo, porém, a formatura
devido à reforma da Universidade de 1772, que proibia exames sem a
respectiva frequência.
Foi, em 1778, redactor das “Gazetas de Lisboa”,
ao reaparecerem depois da sua suspensão desde 1762. As suas ideias filosóficas,
e a amizade que o ligava a Filinto Elísio (1734/1819), tornaram-no suspeito ao Santo
Ofício, e viu-se obrigado a emigrar, juntamente com o seu amigo. Em 5 de
Julho de 1778, embarcaram ambos para Paris.
Foi em Paris que, seguindo o uso dos estudiosos da
época, adoptou o apelido de Brotero (amante dos
mortais). Durante os 12 anos em que esteve em Paris, frequentou
assiduamente as aulas e institutos de Ciências Naturais, ao mesmo tempo
que procurava meios de subsistência com trabalhos originais e traduções que
vendia aos livreiros.
Assistiu ao curso de História Natural, que
Valmont de Bomare abriu em Paris em 1781, e às lições de Botânica de
Jacques Brisson na Académie de Pharmacie. Concluídos os principais
estudos de História Natural doutorou-se na Escola de Medicina de
Reims. Deixou depois de exercer clínica e dedicou-se exclusivamente ao
estudo da Botânica. Deixou Paris, depois de haver presenciado os
acontecimentos iniciais da revolução francesa e chegou a Lisboa em 1790,
na companhia de Filinto Elísio.
Pela reputação que ganhara, foi nomeado lente de Botânica
e Agricultura na Universidade de Coimbra, por decreto de 25 de
Fevereiro de 1791.
Já em 1788, havia publicado em Paris o “Compêndio
de Botânica”. As suas prelecções alcançaram grande êxito. Iniciou a
primeira escola prática de Botânica, reorganizando o jardim, que fora
principiado sob a direcção do antigo lente, Domenico Vandelli (1730/1816).
Dedicou-se à investigação botânica e daí resultaram
obras importantes como a “Flora Lusitânica” (1804) e a “Phytographia
Lusitaniae selectior”, cuja publicação, começada em 1816, terminou em 1827.
Nos seus trabalhos de colheita de exemplares, passou
por diversas situações de perigo: três quedas na Serra da Estrela, um ataque de
salteadores no Alentejo e uma tentativa de assassínio por pastores que
suspeitavam que Brotero inspeccionava os baldios para conseguir que lhe fossem
doados.
Por decreto de 27 de Abril de 181,1 foi nomeado por D.
João VI director do Real Museu e Jardim Botânico da Ajuda; e
jubilado por decreto de 16 de Agosto de 1811. Em 1820, foi eleito deputado às Cortes
Constituintes pela Estremadura. Depois de ter assistido aos trabalhos
legislativos durante 4 meses, pediu dispensa que lhe foi concedida.
Entre outros livros escreveu, “Flora Lusitânica”,
onde identificou cerca de 1800 espécies, muitas delas desconhecidas até então.
Embora o seu trabalho tenha sido reconhecido na
Europa, em Portugal, apesar da qualidade também reconhecida das suas aulas e
das suas obras, sofreu muito com invejas e obstáculos diversos. A investigação
botânica sofreu muito com a sua morte, entrando em decadência. Os jardins
botânicos de Coimbra e da Ajuda deixaram de ser devidamente
cuidados, ficando num estado deplorável até meados do século XIX.
É possível verificar o prestígio que Brotero tinha na
Europa pela correspondência que manteve com prestigiados especialistas da época
e pelo facto de botânicos como Sprenger, Cavanilles, Boissier, Willkomm e De
Candolle terem atribuído o nome de Brotero a plantas que identificaram.
Foi membro de diversas sociedades: Horticultural
Society de Londres; Linnean Society de Londres; Acadmia Real das
Ciências de Lisboa; Société Philomatique; Société d’Histoira
Naturalle de Paris; Physioographica Society de Lunden, Suécia; Sociedade
de História Natural de Rostock; Academia Cesarea de Bona, e outras.
Acabou por falecer aos 83 anos de idade em casa, na Calçada
do Galvão, em Belém (registo de óbito na paróquia da Ajuda, Lisboa), com
testamento. Foi sepultado no Convento de São José de Ribamar dos Religiosos
Arrábidos, perto de Algés. Nunca casou, nem teve filhos.
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