Herbert de Sousa nasceu no norte de Minas Gerais e,
junto com os seus dois irmãos - o cartunista Henfil e o músico Chico Mário,
herdou da mãe a hemofilia e, desde a infância, sofreu com outros problemas,
como a tuberculose. Foi criado em ambientes inusitados: a penitenciária e a
funerária, onde o pai trabalhava. Mas a sua formação teve grande influência dos
padres dominicanos, com os quais travou contacto na década de 1950.
Integrou a JEC (Juventude Estudantil Católica) e a JUC (Juventude
Universitária Católica). Foi um dos fundadores em 1962, da AP (Acção
Popular), junto com José Serra, Aldo Arantes, Vinícius e Caldeira Brant,
entre outros líderes estudantis. Actuou como coordenador da entidade nos anos
de 1963 e 1964.
Graduou-se em 1962 em Sociologia na Faculdade
de Ciências Económicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Durante o governo de João Goulart, assessorou o MEC, chefiou a Assessoria
do ministro Paulo de Tarso Santos e defendeu as Reformas de base,
sobretudo a reforma agrária. Com o golpe militar, em 1964, mobilizou-se contra
a ditadura, sem nunca esquecer as causas sociais. Porém, com o aumento da
repressão, foi obrigado a exilar-se no Chile, em 1971. Lá assessorou Salvador
Allende, até à sua deposição em 1973. Conseguiu escapar do golpe de Pinochet,
refugiando-se na embaixada panamiana. Posteriormente, morou no Canadá e no
México. Durante esse período foram reforçadas as suas convicções sobre a
democracia - que ele julgava ser incompatível com o sistema capitalista.
Foi homenageado como «o irmão do Henfil» na
canção “O Bêbado e a Equilibrista”, de João Bosco e Aldir Blanc, gravada
por Elis Regina - «Meu Brasil / que sonha com a volta do irmão do Henfil /
com tanta gente que partiu…» - à época da Campanha pela Amnistia aos
presos e exilados políticos. Amnistiado em 1979, voltou ao Brasil.
Em 1981, junto com os economistas Carlos Afonso e
Marcos Arruda, fundou o IBASE - Instituto Brasileiro de Análises Sociais e
Económicas e passou a dedicar-se à luta pela reforma agrária, sendo um dos
seus principais articuladores. Nesse sentido, conseguiu reunir, em 1990,
milhares de pessoas no Aterro do Flamengo, Rio de Janeiro, em
manifestação pela causa.
Betinho também integrou as forças que resultaram no
impeachment do presidente da República, Fernando Collor de Mello. Mas o projecto
pelo qual se imortalizou foi, provavelmente, a Acção da Cidadania contra a
Fome, a Miséria e pela Vida, movimento em favor dos pobres e excluídos.
Em 1986, Betinho descobriu ter contraído o vírus da
imunodeficiência humana numa das transfusões de sangue a que era obrigado a
submeter-se periodicamente devido à hemofilia. Na sua vida pública, esse facto
repercutiu-se na criação de movimentos de defesa dos direitos dos portadores do
vírus. Junto com outros membros da sociedade civil, fundou e presidiu até à sua
morte a Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS. Dois dos seus
irmãos, Henfil e Chico Mário, morreram em 1988 em consequência da mesma doença.
Mesmo assim, não deixou de ser activo até ao final da sua vida, dizendo que a
sua condição de soropositivo o forçava a «comemorar a vida todas as manhãs».
Betinho morreu em 1997, já bastante debilitado pela AIDS.
Deixou dois filhos: Daniel, filho do seu primeiro casamento com Irles Carvalho,
e Henrique, filho do segundo casamento com Maria Nakano, com quem viveu durante
27 anos.
Em 18 de Agosto de 2010, a Comissão de Amnistia concedeu
à família de Betinho uma indemnização mensal, além de um montante retroactivo,
em razão da perseguição política sofrida por ele durante a ditadura militar,
comprovada por documentos encontrados nos arquivos do antigo Departamento de
Ordem Política e Social (DOPS). A sua viúva, Maria Nakano, também
recebeu o direito a uma pensão vitalícia.
Em 2006, foi lançado o filme “Três Irmãos de Sangue”,
sobre a vida dos irmãos Betinho, Henfil e Chico Mário. Idealizado pelo músico
Marcos Souza, filho de Chico Mário, o filme teve direcção e guião de Ângela
Patrícia Reiniger.
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