O seu pseudónimo, Françoise Giroud, é quase um
anagrama de Gourdji e foi inventado por Maurice Diamant-Berger, quando
ela começou a trabalhar numa estação de rádio, por volta de 1938. Esse pseudónimo
foi oficializado quando da publicação do decreto 76860/1976, no “Journal
officiel” da República Francesa.
Além de ter sido uma figura de destaque do jornalismo,
Giroud destacou-se também na política, tendo sido vice-presidente do Partido
Radical-Socialista e da União para a Democracia Francesa (UDF).
Foi também secretária de Estado da Condição Feminina do primeiro-ministro
Jacques Chirac (de 16 de Julho de 1974 a 24 de Agosto de 1976) e secretária de
Estado da Cultura do primeiro-ministro Raymond Barre (de 24 de Agosto de
1976 a 30 de Março de 1977), ambos durante a presidência de Giscard D’Estaing
(1974/1981). Como ministra da Cultura, Françoise Giroud inaugurou, em Fevereiro
1977, o Centre Georges Pompidou.
Lea France Gourdji era filha de Salih Gourdji, director
da Agence télégraphique ottomane em Genebra, e de Elda Farragi, ambos
judeus mizrahim do Império Otomano.
Lea France Gourdji começou a trabalhar aos 14 anos de idade,
mas deixou a escola. Após obter um diploma de dactilografia na escola Remington,
encontrou emprego numa livraria do boulevard Raspail, em Paris, em Maio de 1931.
Graças às relações de amizade da sua família com Marc
Allégret, este apresentou Françoise Giroud ao escritor André Gide, que a empregou
como secretária durante algum tempo. Ela começou então uma nova carreira
cinematográfica, em Paris.
Desde 1935, o nome de “France Gourdji” aparece no
filme “Baccara” de Yves Mirande. Em seguida, tornou-se a primeira mulher
francesa autora do guião de um filme, o do director Marc Allégret (por quem ela
se apaixonou, embora ele tivesse uma relação com André Gide) e de Jean Renoir,
do qual se tornou a assistente de direcção a partir de 1937, depois de Jacques
Becker, com quem escreveu guiões em parceria, dessa vez assinando o nome
Françoise Giroud. Essas diferentes actividades levaram-na a descobrir o seu talento
de escritora.
Logo após a guerra, ela foi contratada por Hélène
Lazareff como directora da redacção e criação da revista “Elle”, na
época uma publicação moderna e feminista. Ela foi sua directora de 1945 a 1953.
Françoise Giroud também colaborou ao mesmo tempo com
os jornais “France Dimanche”, “L’Intransigeant” e “France Soir”,
escrevendo artigos biográficos. As suas convicções afirmaram-se e revelaram-se
através dos seus posicionamentos contra a guerra da Argélia, quando ela fundou
a revista “L’Express”, em 1953, com o seu amante Jean-Jacques
Servan-Schreiber.
O seu apartamento foi então alvo de um atentado com
carga explosiva em 1962. Mas ela continuou dirigindo a revista até 1974, como
directora da redacção e, em seguida, enfim como presidente do grupo Express-Union,
entre 1970 e 1974.
Além da sua carreira jornalística, Françoise Giroud
publicou vários ensaios, como “La Nouvelle Vague, portrait de la jeunesse”
en 1958, inventando esta expressão que serviu para qualificar, ulteriormente, o
estilo dos novos cineastas vindos dos “Cahiers du cinema”.
Apesar de ser filiada no Partido radical, cujo
programa prometia a modernização social, Françoise Giroud apoiou François
Mitterrand nas eleições presidenciais de 1974. O candidato Valéry Giscard d’Estaing
foi eleito, mas ele nomeou-a, mesmo assim, secretária no gabinete do primeiro
ministro, encarregada da Condição feminina. Ela exerceu este cargo entre
Julho de 1974 e Agosto de 1976, período durante o qual lançou o programa “Cento
e uma medidas” em favor das mulheres (instituição de direitos relativos às
mulheres, luta contra as discriminações, abertura das profissões ditas
masculinas, etc.).
Em seguida, foi nomeada como secretária da Cultura
até Março de 1977, tornando efectivas as decisões tomadas antes de sua nomeação,
como a lei sobre a arquitectura de 31 de Janeiro de 1977 e a criação das Direcções
regionais das Actividades culturais (DRAC).
Candidata às eleições municipais francesas de 1977 em
Paris, a pedido de Valéry Giscard d’Estaing e de Michel d’Ornano, ela esteve no
centro de um escândalo: o senador Maurice Bayrou, Compagnon de la Libération
(Companheiro da Liberação), fez queixa no tribunal por uso ilegal da Medalha
da Resistência. Djenane, irmã de Françoise, que criou e coordenou um dos
primeiros movimentos de resistência em Clermont-Ferrand desde 1941, recebera
essa medalha após haver sido internada no campo de Ravensbrück. Segundo Christine
Ockrent e Laure Adler, uma carta recebida pela mãe delas, teria provado que a
medalha havia sido atribuída às duas irmãs, mas que Françoise, que se tinha
juntado ao movimento em 1944, não tinha ido buscar a sua· Em consequência desse escândalo, ela retirou a
sua candidatura às eleições parisienses e não foi nomeada novamente para o
mesmo cargo no novo governo de Raymond Barre. A sua boa fé, entretanto, acabou
por ser reconhecida, e o procurador da República arquivou o processo em 1979.
Françoise Giroud abandona a política em 1979 e,
inspirando-se na sua experiência política, escreveu “La Comédie du pouvoir”
(“A Comédia do poder”) e, em seguida, “Le Bon Plaisir” (“O Bom
Prazer”) em 1983, livro que foi adaptado para o cinema. Esse último livro,
publicado pelas edições Mazarine, conta a história de um presidente da
República que dissimula a existência de um filho adulterino. No entanto, ela
ignorava a existência do filho oculto de François Mitterrand.
Associada a um grupo de intelectuais franceses, entre
os quais Bernard-Henri Lévy, Jacques Attali, Philippe Mahrer, Marek Halter,
Alfred Kastler este Prémio Nobel de Física, Guy Sorman e Robert Sebbag,
bem como a médicos, jornalistas e escritores, ela funda em 1979 a Associação
Acção Contra Fome (ACF).
Ela era membro do comité de honra da Associação
pelo direito de morrer de maneira digna (ADMD).
Quando Giroud deixou o seu lugar no governo, “L’Express”
acabara de ser vendido a James Goldsmith, e Raymond Aron, editorialista da
revista, opõe-se à sua reintegração. Ela assina crónicas no “Journal du
Dimanche” (JDD), mas foi licenciada por haver criticado o “Paris
Match” que traía o segredo de François Mitterrand e Mazarine Pingeot.
Em 1983, Jean Daniel propôs-lhe o cargo de
editorialista no “Nouvel Observateur”, revista na qual ela escreveu
durante vinte anos crónicas de televisão. Ela produziu igualmente várias emissões
de televisão e publicou ensaios, biografias e romances que tiveram sucesso. Ela
foi então convidada para membro do júri do prémio Femina em 1992. Ela
também fez parte do comité de patrocínio da Coordenação francesa para a
Década da cultura da paz e da não-violência.
Em 16 de Janeiro de 2003, ao sair da estreia de uma
representação na Opéra-Comique, já enfraquecida por uma primeira queda
na semana precedente, escorregou na grande escadaria e cai batendo com a cabeça
no chão. No dia seguinte, ainda trabalhou a tarde inteira, com Albina du
Boisrouvray, na redacção de um livro de entrevistas. Ao cair da noite, ela entrou
em coma, sendo levada ao Hospital Americano de Paris, onde morre no dia
19 de Janeiro, sem ter recobrado a consciência. Foi incinerada em 22 de Janeiro
no crematório do cemitério Père-Lachaise. Conforme era sua vontade, a
filha, Caroline Eliacheff, dispersou as suas cinzas numa roseira.
Françoise Giroud teve dois filhos: um menino
(Alain-Pierre Danis, nascido em Nice em 1941 e falecido em 1972, num acidente
de ski, em Tignes, e que era um filho oculto de Elie Nahmias, director de uma
empresa petrolífera) e uma menina, Caroline Eliacheff, nascida em Boulogne em
1947, do seu casamento com o produtor de cinema Anatole Eliacheff.
No final dos anos 1950, quando ela esperava um
filho de Jean-Jacques Servan-Schreiber, precisou de abortar; em seguida,
desenvolveu uma gravidez extra-uterina e foi submetida a uma cirurgia, em
consequência da qual, se tornou estéril. Françoise Giroud acreditava que a sua
esterilidade teria provocado a separação de Servan-Schreiber, que sempre se
negara a divorciar-se da primeira mulher para se casar com ela e que, afinal,
deixou Giroud para se casar com uma estagiária de vinte anos, Sabine Becq de
Fouquières. Desesperada, Françoise teria enviado cartas anónimas de teor anti-semita ao casal e seus familiares. Entretanto, no
seu livro “Histoire d’une femme libre”, publicado postumamente em 2013,
ela nega ter enviado tais cartas. O rompimento com Servan-Schreiber também
teria motivado Giroud a uma tentativa de suicídio, por ingestão de
barbitúricos, em 1960.
Após a tentativa de suicídio, ela iniciou, em 1963,
uma nova fase, muito mais séria e intensa, da sua psicanálise, com Jacques
Lacan.
Em 1984, a morte do seu último companheiro, o editor
Alex Grall, que ela ajudou a morrer dignamente, leva-a novamente à depressão.
Católica por circunstância e ateia por convicção,
Françoise Giroud negou o seu judaísmo durante toda a vida, obedecendo à vontade
de sua mãe. Ela só revelaria a sua origem ao seu neto Nicolas (nascido do
casamento de Caroline Eliacheff com o realizador Robert Hossein), o futuro
rabino Aaron Eliacheff, na Primavera de 1988. Ela se explicará sobre este
assunto num romance póstumo, “Les Taches du léopard” (Fayard,
2003).
Era condecorada como comendadora da Legião de Honra
e commandeur da Ordem Nacional do
Mérito.
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