Começou como florista num
restaurante, na sua cidade natal, cantando cançonetas populares enquanto vendia
as flores.
O seu grande sonho era
brilhar em grandes palcos. Sabendo não ter um talento aguçado, fez os pais
investirem em aulas de dança e de canto.
Posteriormente, alterou a sua
profissão, a sua voz e o seu nome artístico, tendo utilizado sucessivamente “Miss
Helyett”, “Miss Tinguette” e “Mistinguette”.
Estreou-se no Cassino de
Paris, em 1895, aparecendo também em espectáculos no Folies Bergère,
no Moulin Rouge e no Eldorado.
A sensualidade das suas
apresentações cativou Paris, tornando-a a mais popular vedete de sua época e a
mais bem paga do mundo. Em 1919, as suas pernas foram cobertas por uma apólice
de seguros, pela importância segurada de 500 000 francos, milionária na época.
Nos
anos 1920, encenou operetas de sucesso: « Paris qui danse »,
«Paris qui jazz», «En douce », « Ça, c’est Paris »
e « Oui, je suis de Paris».
A maioria das suas músicas
usava como acompanhamento musical a corneta, característica da sua época. As suas
músicas são marcadas pela sensualidade e alegria nas letras. Tinha também um
talento enorme para escolher as canções pela popularidade das mesmas. Por isso,
Mistinguett também é conhecida como um símbolo dos anos loucos - os loucos anos
1920.
Mesmo sendo um símbolo dos
anos 1920, Mistinguett teve uma carreira muito longa. Conhecida desde o
fim do século XIX, não deixou de trabalhar até à sua morte, nos anos 1950.
Também lançou muito da moda.
Bem antes de Coco Chanel, Mistinguett já usava os seus cabelos curtos e cruzava
elegantemente as pernas, além de fumar muito, hábito que, antes dela, era
restrito apenas aos homens. Foi um símbolo de ousadia e de vanguarda, isso
quando o século XX ainda nem despontara completamente.
Após 1933, a sua carreira
começou a entrar em lentíssimo declínio. Mesmo assim, nunca parou de trabalhar.
Numa época sem cirurgias plásticas e cosméticos avançados, chamou a atenção a
jovialidade que ela demonstrava mesmo após ter passado dos 60 anos. Aparentava
ter 20 anos a menos, tanto que no filme “Rigolboche”, de 1936, quando
ela tinha 61 anos, fazia o papel de uma cantora que mostrava as suas belas
pernas e era mãe de um garoto de 6 anos. Era apelidada de “indestrutível”.
Trabalhou nos primeiros
filmes da indústria cinematográfica francesa, época em que os filmes ainda eram
mudos. No cinema falado, trabalhou em “Rigolboche”, em 1936, e em “Carrocelo
del varietà”, de 1955, um ano antes de morrer. No entanto, não gostava de actuar
em filmes, dizendo que não tinha a mínima graça trabalhar olhando para uma
máquina de olho de vidro, conforme ela própria dizia.
Mistinguett foi sobretudo uma
artista que precisava de contacto directo com o público. Isso explica o seu
sucesso: mesmo sem ter voz potente e sem dançar com desenvoltura, hipnotizava
plateias.
Manteve um longo
relacionamento com o jovem Maurice Chevalier, treze anos mais novo que ela,
muito embora tenha mantido outros tórridos envolvimentos amorosos, que se
tornaram lendários no seu tempo, como o caso com um marajá indiano e o filho da
Rainha Vitória, da Inglaterra.
No início do século XX, teve
um romance com o engenheiro e diplomata Leopoldo José de Lima e Silva, de rica
família do Rio e cônsul do Brasil em Paris, com quem teve um filho, nascido em
1901.
Em 1923, esteve no Brasil na
inauguração do hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro. A sua
presença foi muito alardeada, mas mesmo assim Mistinguett, famosa por ter as
mais belas pernas do mundo, foi proibida de exibi-las.
Gravou discos relativamente
tarde, em 1920, quando tinha 45 anos. O seu primeiro sucesso em discos foi “Mon
Homme”, com letra de Albert Willemetz, autor de numerosas canções e
revistas teatrais para o Folies Bergères, então nos Estados Unidos da
América. A canção foi popularizada sob o seu título em inglês, “My Man”,
na voz de Fanny Brice, integrando o repertório de numerosos cantores populares
e de jazz. A própria Mistinguett regravou-a algumas vezes. A versão mais
conhecida é de 1938, e a última foi gravada em 1949.
Outra canção estreada por ela
foi a inesquecível “Ça c’est Paris”, gravada em 1926 e 1927, em duas
versões muito parecidas. A música foi regravada em numerosas versões e é conhecida
até hoje.
O repertório de Mistinguett
gira em torno de 150 títulos, gravados entre 1920 e 1942. Mas existem registos
de gravações realizadas em 1949, entre as quais a última versão de “Mon
Homme” e de “C’est vrai”.
Entre os títulos mais
célebres do seu repertório destaca-se a já citada “Ça c’est Paris”, “C’est
Vrai” (que aparentemente foi resposta a críticas feitas a Mistinguett, como
o facto de exibir as suas pernas, gastar muito e se cuidar), “Oui, je suis
de Paris” (cantada no filme “Rigolboche”, de 1936), “Je cherche
un millionaire”, “Je vous ai reconnu”, “Un petit boy c’est gentil”,
“Si tu vas sur le port” e “Nuits de Paris”, além de muitas
outras.
Durante uma das muitas tournées
nos Estados Unidos, foi-lhe pedido por um repórter do “Time Magazine”
que explicasse a sua popularidade. Ela simplesmente respondeu: «É um tipo de
magnetismo. Eu digo ‘chegue mais perto’ e trago-os a mim».
Foi contemporânea da vedete
americana naturalizada francesa, Josephine Baker.
No início dos anos 1950,
trabalhou na célebre peça “Paris s’emmuse”, em cartaz durante vários
meses. Foi a sua última revista.
Em 1954, publicou as suas
memórias, sob o título “Toute ma vie” (“Toda a minha vida”), que
foi um grande best-seller.
Faleceu aos 80 anos de idade,
estando sepultada no cemitério de Enghien-les-Bains, na Île-de-France, em
França.
Quando morreu, foi destaque
em todos os jornais de Paris. Diziam que ela, apesar dos seus 80 anos, ainda
tinha as mais belas pernas do mundo. E a escritora Colette dizia que
Mistinguett não era apenas uma artista do Music-Hall, mas um «património
nacional».
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