EFEMÉRIDE - António de Sommer Champalimaud, empresário português, nasceu em Lisboa no dia 19 de Março de 1918. Morreu, igualmente em Lisboa, em 8 de Maio de 2004. Figura polémica e incontornável na história económica do século XX português, citado muitas vezes como o homem mais rico do país, apareceu na lista dos multimilionários da revista americana “Forbes” em 2004, ocupando a 153ª posição. Construiu o seu império empresarial durante a ditadura do Estado Novo, com a protecção de Salazar. Estendeu os seus negócios a Angola, a Moçambique e ao Brasil.
Fez os seus estudos no colégio jesuíta A Guarda, na Galiza, e ingressou na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, onde chegou a frequentar o Curso de Ciências Físico-Químicas. A morte do pai, em 1937, ditou a sua entrada no mundo dos negócios. Prevendo-se a falência da Companhia Geral de Construções, a empresa do pai que estava tecnicamente falida e que toda a família desejava vender, António Champalimaud assumiu as rédeas do negócio. Era o filho mais velho de quatro irmãos e queria reerguer o legado do progenitor. Contou com a ajuda de Ricardo Espírito Santo e Silva e conseguiu um crédito de confiança para a dívida.
Decisivo para o despontar de António Champalimaud como homem de negócios, foi também o seu casamento, em 1941, com Maria Cristina de Mello, herdeira de uma das maiores fortunas de Portugal, filha do presidente da CUF, Manuel de Mello, e neta de Alfredo da Silva, o seu fundador.
Aos 24 anos, tomou posse da administração da Empresa de Cimentos de Leiria, propriedade do tio Henrique de Sommer, que viria a falecer em 1944 e lhe deixaria grande parte dos seus bens. Dinamizou a exportação de vinho do Douro e lançou os primeiros projectos de urbanização na Quinta da Marinha, em Cascais, segundo os planos encomendados na década de 1920 pelo seu pai. Os materiais de construção, o imobiliário e a exportação de vinhos eram então os seus três “negócios chave”.
Socorreu-se de empréstimos da Casa Bancária José Henriques Totta, gerida pelo sogro, para adquirir, com a ajuda de Salazar, a firma Cimentos Tejo (detentora, na altura, do maior forno de cimento do mundo, que começou a funcionar em 1960) e a Companhia de Carvões e Cimentos do Cabo Mondego. Em Angola, fundou a Companhia de Cimentos de Angola e mandou construir a Fábrica do Lobito em 1952, ano em que se juntou ao Grupo CUF. De seguida, em Moçambique, comprou a Fábrica de Cimentos Portland sediada na Matola e, novamente em Angola, fundou a Fábrica de Nova Maceira, no Dondo, em 1951, bem como a Fábrica de Nacala, em 1963.
Em 1954, numa estratégia de continuação do negócio de ferro iniciado pela família Sommer no século XIX, fundou a Siderurgia Nacional. Em 1955, Salazar publicou um alvará em que atribuiu à empresa o exclusivo da exploração, por dez anos, de vários minérios de ferro e aço – um verdadeiro “monopólio legal”. Começou a investir também na indústria da celulose, com a Companhia de Papel do Prado e da Abelheira. Das participações que acumulou, constaram ainda a Companhia Industrial Portugal e Colónias, a Fábrica de Cerveja Portugália e o Hotel Penta.
Entretanto, ia expandindo os seus negócios para outras áreas. As suas empresas eram as maiores clientes dos bancos e seguradoras Espírito Santo. Tentou comprar este grupo, mas a resposta negativa de Manuel Espírito Santo e Silva obrigou-o a virar-se para o norte do País, onde descobriu uma pequena seguradora, a Confiança. A descoberta tem um pequeno pormenor por trás: o proprietário desta empresa era também dono do Banco Pinto & Sotto Mayor (BPSM). Assim, em 1960, tornou-se o maior accionista do BPSM, adquiriu a companhia de seguros Confiança e participou na Mundial e Continental Seguros. Posteriormente, fundaria as companhias Mundial e Confiança de Moçambique. Em África, o grupo de Champalimaud encontrou um vasto mercado de expansão, o que fez com que o BPSM se transformasse rapidamente no maior banco privado de Angola e Moçambique.
Em 1969, na sequência da contestação feita pelos irmãos de Champalimaud no “Caso da Herança Sommer”, partiu para o México, para evitar uma ordem de captura. Em 1973, no entanto, os tribunais ilibaram Champalimaud, que voltou então a Portugal. Não ficou por muito tempo, porque a Revolução dos Cravos o obrigou a deixar de novo o país, antes das estatizações de Vasco Gonçalves lhe apanharem um património que, naquela época, constituía a 7ª maior fortuna europeia. Em Março de 1975, viu nacionalizada a banca e os seguros, em Abril a siderurgia e em Maio as cimenteiras e as celuloses. Champalimaud conseguiu ainda comprar as acções da Soeicom, que pertenciam à Empresa de Cimentos de Leiria e, depois de passar por França, fixou-se no Brasil. Ali conseguiu reerguer o seu património, através de actividades agrícolas, da criação de gado e da produção de cimento, refundando em 1976 a Soeicom – Sociedade de Empreendimentos Industriais, Comércio e Mineração.
Regressado a Portugal em 1992, readquiriu 51% da Mundial Confiança, comprou o Banco Pinto & Sotto Mayor e assumiu o controlo dos bancos Totta & Açores e Crédito Predial Português, aproveitando o processo de privatização das empresas públicas encetado pelo Governo de Cavaco Silva. Ao conjunto das suas participações, juntou ainda o banco de investimentos Chemical Service. Voltou a ser considerado o homem mais rico de Portugal e era dono do segundo maior grupo financeiro português - uma seguradora e quatro bancos. Tudo no lapso de dois anos e com a ajuda de polémicas decisões ministeriais, que lhe evitaram dispendiosas ofertas públicas de aquisição. Com a ajuda de Cavaco Silva, comprou o que quis para depois vender aos espanhóis e realizar mais-valias. Depois da venda do seu património financeiro, Champalimaud regressou ao Brasil, onde ainda possuía fazendas vocacionadas para a agricultura e para a pecuária, deixando de ter negócios em Portugal.
Faleceu aos 86 anos, na sua residência em Lisboa, vítima de cancro. A doença impedira-o de receber a Ordem da Liberdade, atribuída em Abril de 2004 por Jorge Sampaio. No seu testamento, legou 500 milhões de euros para a criação de uma fundação em Portugal, destinada à investigação na área da biomédica. A “Fundação D. Anna de Sommer Champalimaud e Dr. Carlos Montez Champalimaud”, designação por ele escolhida em homenagem aos pais, foi formalmente criada e tem sido, desde então, presidida por Leonor Beleza, de acordo com as suas instruções.
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