terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

REFERENDO DO DIA 11 DE FEVEREIRO

A campanha de “esclarecimento” do Não tudo tem feito para aumentar a confusão e, no entanto, a pergunta que, relembra-se, foi aprovada pela Assembleia da República, pelo Tribunal Constitucional e pelo Presidente da República, é tão só: dizer se Sim ou Não estamos de acordo com a “despenalização da mulher em caso de interrupção voluntária da gravidez, até às dez semanas e se efectuada num estabelecimento de saúde autorizado”.
Mas logo apareceu o Não a pôr em questão a própria pergunta, dizendo que isto seria o mesmo que liberalizar o aborto. E é falso!
Senão vejamos:
a) Só por opção da mulher: entende-se que não pode ser outra pessoa a impor-lhe o acto nem a induzi-la nessa solução;
b) Só até às dez semanas, porque parece estar provado que não há nenhum embrião ou feto que às dez semanas já tenha cérebro e, como se sabe, qualquer ser humano, que já não tenha actividade cerebral, pode desde logo ser objecto de colheita de órgãos para transplante, inclusive do coração;
c) Só num estabelecimento autorizado, justamente para impedir o aborto clandestino e a ausência de aconselhamento.

Porque sabe que não tem razão, a campanha do Não:
1 – Acena com uma hipotética nova lei, fingindo ignorar que é entendimento da actual maioria (e da que a antecedeu) que qualquer alteração à lei só pode ser feita após novo referendo. Por alguma razão se esteve à espera durante oito anos pelo que agora se vai realizar;
2 – Exibe sem respeito fotos e bonequinhos de embriões e fetos, fala em exterminação, em câmaras de gás, em matança de inocentes, em coraçõesinhos que já batem, compara o aborto à utilização banalizada do telemóvel, etc., etc;
3 – Afirma que as mulheres ao abortarem tomam uma decisão difícil que as vai afectar para o resto da vida, para logo a seguir dizer que, em caso de despenalização, o irão fazer sem sequer pensar, passando-lhes um atestado de menoridade e irresponsabilidade;
4 – Aponta as despesas decorrentes do aborto que irão ser pagas pelos nossos impostos, ignorando que as sequelas do aborto clandestino já o são e não são tão poucas como isso;
5 - Diz que o número de abortos vai aumentar como tem acontecido noutros países, esquecendo (?) que esse aumento é devido sobretudo à diminuição dos abortos clandestinos e aos abortos que passam a ser feitos em território nacional;
6 – Chegou a dizer, questionando a lei actual, que mesmo em caso de violação a gravidez devia ser levada até ao fim, dando depois a criança para adopção, transformando assim as mulheres em simples máquinas parideiras.

Pelo exposto se depreende que mesmo que o Não desdobre a pergunta em quatro, para lançar a confusão, a resposta deve ser sempre Sim: Sim à despenalização, Sim às dez semanas, Sim à opção da mulher, Sim ao estabelecimento legalmente autorizado.

Por trás de toda esta campanha de desinformação e confusão, sob a capa de esclarecimento, só pode haver alguma (muita) hipocrisia e porventura qualquer fundamentalismo religioso. Custa ver tantos cérebros brilhantes (?) a perderem a cabeça. Chegam a dizer que, se vencer o Sim, mergulharemos num país medieval. Se olharmos para o resto da Europa, só poderemos sorrir e pensar que o Não tem saudades da época em que estávamos “orgulhosamente sós”…

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