EFEMÉRIDE
– Fernando Augusto Pereira da Silva, oficial da marinha portuguesa,
administrador colonial e ministro da Marinha nos últimos governos da Primeira
República, nasceu em Messines no dia 13 de Janeiro de 1871. Morreu em
Lisboa, em 3 de Novembro de 1943.
Ingressou
na Escola Naval em 1889. Fez a sua primeira saída para o mar, ainda como
aspirante, em 1893, numa viagem à então África Oriental Portuguesa, escalando
diversos portos das possessões africanas. Promovido a guarda-marinha em
Julho daquele ano, foi destacado para a corveta “Rainha de Portugal”,
então afecta à Divisão Naval do Índico, sediada em Moçambique.
Durante
a sua permanência no Índico, deu-se o ressurgimento da resistência à presença
portuguesa em Moçambique, com os povos vátua – liderados por Gungunhana
– a pegarem em armas contra a crescente penetração dos portugueses no seu
território. Neste contexto, a então recém-criada cidade de Lourenço Marques
(actual Maputo) foi ameaçada por forças comandadas pelo régulo Mahazuli,
levando a que o grosso das forças navais portuguesas fosse destacado para a sua
defesa.
A
bordo da “Rainha de Portugal”, Pereira da Silva chegou à baía de
Lourenço Marques em 9 de Setembro. O primeiro ataque ocorreu na noite de 23,
sendo rechaçado mas com grandes baixas de parte a parte. Os ataques
sucederam-se durante o mês de Outubro, apenas cessando com a chegada da
expedição de socorro entretanto enviada de Lisboa.
Promovido
a segundo-tenente em Dezembro de 1895, depois de uma passagem pela fiscalização
e defesa costeira metropolitana, Pereira da Silva regressou a Moçambique,
assumindo em Junho de 1896 o comando da canhoneira “Obus”, que integrava
a esquadrilha do Zambeze.
No
ano seguinte, foi transferido para a Divisão Naval do Atlântico Sul, em
Angola, e depois para o Algarve, onde permaneceu de 1898 a 1901, ano em que foi
nomeado encarregado do serviço de electricidade do novo cruzador “Rainha D.
Amélia”.
No “Rainha
D. Amélia”, participou na viagem real aos Açores e Madeira, acompanhando o
rei D. Carlos e a rainha D. Amélia no seu périplo triunfal pelas ilhas
atlânticas e, depois, na viagem do príncipe herdeiro às colónias.
Em
1904, depois de concluído o curso de torpedos e electricidade, integrou pela
primeira vez uma comissão destinada a planear a reorganização naval, mas
permaneceu nela pouco tempo, já que em 1905 regressou à guarnição do “Rainha
D. Amélia”. Já primeiro-tenente, assumiu interinamente o comando deste
barco e depois do “D. Estefânia”, então desarmado e fundeado
permanentemente no Douro, a servir como escola de marinharia.
Mais
tarde, estava colocado em Lisboa, quando eclodiu a Revolução de 5 de Outubro
de 1910. Assumiu um papel de neutralidade colaborante com as forças
republicanas, recusando-se a intervir em defesa do governo. Esta atitude levou
a que fosse quase de imediato chamado a participar, novamente, na comissão de
planeamento da reorganização naval, da qual foi nomeado presidente em Novembro
de 1910. Participou também nas comissões que estudavam a criação de um novo
arsenal e a introdução da rádio nas comunicações navais.
Teve
um papel relevante na revolta militar de 14 de Maio de 1915, que destituiu o
governo do general Joaquim Pimenta de Castro e instalou a efémera “Junta
Constitucional de 1915” que governou Portugal até à tomada de posse do governo
presidido por José Ribeiro de Castro. Coube a Pereira da Silva proceder à
prisão de Pimenta de Castro que, acompanhado por ele, foi recolhido a bordo do
cruzador “Vasco da Gama”. Desta permanência forçada de Pereira da
Silva a bordo do “Vasco da Gama” resultou o estabelecimento de uma
sólida relação de amizade com Leotte do Rego, então comandante do navio e
figura grada da revolta de 1915.
Iniciada
a participação portuguesa na Primeira Guerra Mundial, a partir do início
de 1917, o então capitão-tenente tinha o comando do contratorpedeiro “Douro”
e passou a participar em viagens de escolta dos transportes de tropas
portuguesas para o teatro de guerra. Visitou Ponta Delgada, onde então se
instalava a Base Naval Americana, insistindo em fundear frente à cidade
para melhor ressaltar a presença do navio português face aos vasos de guerra
norte-americanos atracados no molhe. Em 24 de Setembro de 1917, enfrentou um
submarino alemão. No fim da guerra, recebeu o colar da Ordem da Torre e
Espada pelo seu brilhante desempenho.
Na
continuação do seu labor de planeamento naval, chefiou a missão destinada à
aquisição de cruzadores, cabendo-lhe o comando inaugural do cruzador “Carvalho
Araújo”, o seu último comando no mar.
Tendo
granjeado grande reputação na área do planeamento naval e da geoestratégia,
depois de funções no estado-maior naval, foi convidado para o lugar de ministro
da Marinha, cargo que assumiu em Dezembro de 1923. Apesar da crescente
instabilidade política e social que se vivia em Portugal, desencadeou um plano
de reformas, alicerçado nos seus anteriores estudos na área do planeamento
naval, que lhe trouxeram grande respeito entre os militares e entre os
políticos. É o que explica o facto de se ter mantido no cargo de 1923 a 1926, pertencendo a
sete governos consecutivos diferentes, apenas terminando o seu mandato com o golpe
de 28 de Maio de 1926.
Neste
período, a Marinha destacou-se pelo seu dinamismo e pelas proezas alcançadas:
criação de uma força aeronaval coerente, exercícios e manobras diversas,
conjugando forças submarinas, de superfície e aéreas, e ainda a aquisição e
apetrechamento de algumas unidades navais, feito notável dada a crise
permanente em que
Portugal vivia. Foi importante a reorganização das forças
navais nas colónias, com a criação da Divisão Naval Colonial.
Ainda
no âmbito da reforma da Armada de 1924, depois conhecida por Reforma
Ministro Pereira da Silva, apareceu pela primeira vez na Armada, a Brigada
de Mecânicos, uma das três brigadas então criadas, à qual competia, além
das funções de instrução geral e militar, a função de ensino técnico nos ramos
de torpedos, electricidade, radiotelegrafia e máquinas, para além da instrução
técnica complementar aos engenheiros maquinistas, de forma a habilitá-los aos
desempenhos das funções de chefes do serviço de máquinas em qualquer navio da
armada.
No
que respeita à formação militar, reorganizou a Escola Naval, que então
passou a dispor de internato, e criou a Escola Náutica, separando a
formação militar da civil. Na Escola Naval, foram introduzidos novas
técnicas de selecção e reformuladas as viagens de instrução a bordo.
A
introdução de um navio escola na Armada foi um dos mais importantes e
duradouros legados de Pereira da Silva. Utilizando um veleiro alemão capturado
no porto da Horta, Açores, aquando da entrada de Portugal na I Guerra
Mundial, e que entretanto tinha sido entregue aos Transportes Marítimos
do Estado, Pereira da Silva conseguiu que o navio fosse, em Maio de 1924,
classificado como navio-escola, recebendo o nome de “Sagres” (foi
o primeiro navio-escola com este nome, antepassado do actual). O outro
foi posteriormente transformado em navio-museu “Rickmer Rickmers”,
sediado no porto de Hamburgo.
Com
o recrudescer da instabilidade política, sucederam-se as tentativas de golpe
militar, sendo de destacar o que ocorreu em 18 de Abril de 1925, jugulado em
boa parte pela intervenção de Pereira da Silva. Novamente, em 18 de Julho de
1925, eclodiu outra tentativa de golpe, pelo que – na madrugada do dia seguinte
– se dirigiu num rebocador ao cruzador “Carvalho Araújo”, onde se juntou
aos mais altos responsáveis da Armada. Consultados, foi determinada a saída, ao
amanhecer, do grosso da esquadra surta no Tejo, seguindo o plano de manobras
previsto e isolando o revoltoso “Vasco da Gama”, que acabou por se
render. Tinha sido dominada uma nova intentona, mas o fim da I República
estava iminente.
O
seu último acto oficial como ministro foi o cumprimento de uma promessa ao seu
par das Colónias – a de mergulharem num submersível durante os exercícios
conjuntos do “Hidra”, do “Golfinho” e do “Foca”. No dia
seguinte, participou, leal a si mesmo e ao governo, no derradeiro conselho de
ministros da I República.
Após
o golpe de 28 de Maio de 1926, retomou a sua carreira no estado-maior
naval, prosseguindo a publicação das suas obras sobre geoestratégia e
programação militar.
Em
Julho de 1931, foi promovido a capitão-de-mar-e-guerra e nomeado para a chefia
da missão naval que, em Newcastle, Reino Unido, fiscalizaria a construção dos
navios do “Programa Naval de 1930” (construídos face às necessidades postas a nu pelas
sublevações nos Açores, Madeira e Guiné).
Concluído
com brilho o Curso Naval de Guerra, voltou ao estado-maior naval, sendo
nomeado vogal do Conselho Técnico Naval e de novo envolvido no seu projecto
de um novo Arsenal, que viria a ser o actual Alfeite, e no reajustamento dos
serviços e Cursos Navais de Guerra às novas missões e navios. Os
ministros da Guerra e da Marinha nomearam-no então presidente da comissão que
conceberia o Conselho Superior de Defesa Nacional.
Atingido
pelo limite de idade em Janeiro de 1933, passou à reserva, mantendo intensa
actividade literária, publicando diversos livros e artigos. Em 1935,
excepcionalmente, foi promovido a contra-almirante.
Publicou
diversas obras sobre temática naval e geoestratégia, incluindo numerosos
artigos sobre temas navais nos “Anais do Clube Militar Naval” e em
diversos outros periódicos, com destaque para a “Revista Militar”, “A
Guerra” e a “Ilustração Portuguesa”. O seu livro “Política Internacional
e Política Naval” (1934) é considerado como uma obra importante do
pensamento estratégico português.
Tendo
passado em 1941 à reforma, a saúde traiu-o e levou-lhe o magro património
amealhado. Faleceu aos 72 anos. A Armada atribuiu o nome de “Almirante
Pereira da Silva (F 472)” à primeira das três fragatas construídas em
Portugal (1966).
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