Formou-se na Faculdade de
Letras da Universidade de Lisboa, em Ciências
Histórico-Filosóficas, curso que começou a frequentar em 1944. No entanto,
já na altura se interessava por literatura, tendo assistido a aulas de Vitorino
Nemésio (que a considerou «absolutamente espantosas»),
Lindley Cintra e Andrée Crabbé Rocha.
Mas as suas «Universidades» foram as mulheres de A Ver-o-Mar, que murcham aos trinta anos, vivem e
morrem na resignação
de terem filhos e de os
perder, na rotina de um trabalho escravo, sem
remuneração, espancadas como animais de
carga («Ele não me bate muito, só o preciso») e que, mesmo afeitas, num treino de gerações, às vezes não aguentam e se suicidam
(«oh! Senhora das Neves! E tu permites!»)
depois de um parto, quando o mundo recomeça num vagido de
criança! Às mulheres de A-Ver-O-Mar «deve» a língua ao rés do coloquial.
A-Ver-o-Mar é assunto dos
livros “A-Ver-o-Mar” (crónicas,1980), “Morrer a Ocidente”
(crónicas, 1990) e “A Maresia e o Sargaço dos Dias” (poesia, 2008), além
do conto “Nos Jardins do Mar”” (1981) e de várias páginas dos dois
diários publicados da autora: “Na Água do Tempo” (1992) e “Um Olhar
Naufragado” (2008).
Um outro tema frequente na obra
de Luísa Dacosta é o da condição da mulher, abordada de vários pontos de vista,
quer no campo da ficção, quer nas páginas de reflexão que encontramos
nos diários. Um dos melhores exemplos desta temática é o livro “Corpo
Recusado”, que pode ser entendido quer como conto
quer como romance.
Foi professora do antigo Ciclo
Preparatório (actualmente Segundo Ciclo do Ensino Básico) nas escolas
Ramalho Ortigão (1968/1976) e Francisco Torrinha (1976/1997).
Participou, a partir de 1972, na experiência de Veiga Simão para o lançamento
dos 7º e 8º anos de escolaridade. Não se limitou a influenciar os alunos. Os
alunos também a influenciaram, como o prova o facto de ter incorporado nas suas obras neologismos da autoria deles,
tal como «renovescer» no lugar «renovar».
Em 1975, cumpriu um mandato no Conselho
de Imprensa, em representação da opinião pública, vindo a cumprir um
segundo mandato em 1981. Ainda em 1975, esteve em Timor por requisição do
governo daquela (então) província ultramarina, para prestar serviço na comissão
eventual encarregada de fazer a remodelação dos programas de ensino.
Dedicando grande atenção à
orientação gráfica dos seus livros, Luísa Duarte contou com
a colaboração de inúmeros artistas portugueses, entre os quais Armando Alves,
Jorge Pinheiro, José Rodrigues, Maria Mendes, Margarida Santos, Tiago Manuel,
Carlos Botelho e Cristina Valadas.
Luísa Dacosta escreveu ainda
vários textos para catálogos de exposições de artes plásticas, estando esses
textos editados nos seus diários.
Em 2011, as Correntes d’Escritas,
na Póvoa de Varzim incluíram uma homenagem a Luísa Dacosta, acompanhada de uma revista sobre a escritora.
Entre os vários prémios que
recebeu, salientam-se: em 1992 o Prémio
Máxima de Literatura, pelo seu livro “Na Água do Tempo – Diário”; em
2002, o prémio Uma vida, uma obra, instituído pela Associação de
Jornalistas e Homens de Letras do Porto, com o apoio da Delegação
Regional de Cultura do Norte; e em 2010, o Prémio Vergílio Ferreira,
atribuído pela Universidade de Évora.
Faleceu em 2015, um dia antes de
completar 88 anos.
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