“O FUTURO É JÁ HOJE”
Com o advento da Internet, logo se anteviu que iriam aparecer coisas antes nem sequer sonhadas. E elas aí estão, a surgir todos os dias.
Alguns pensaram mesmo que se caminhava para o fim dos livros e dos jornais, mas tudo se parece afinal complementar. Os próprios jornais utilizam os seus sites, não só para avançar as edições do dia seguinte, mas também para publicar informações de última hora.
Pode dizer-se que quase tudo é possível ser feito através da Internet: comunicar, pesquisar, entreter, jogar, estudar, divertir, fazer compras, etc. E tudo de modo rápido, simples e eficaz.
Foi neste contexto que apareceram também os blogues nos fins do século passado. São uma espécie de diários, organizados de tal modo que a última coisa publicada é a primeira a aparecer aos olhos do leitor. O tipo de blogue depende unicamente do desejo do seu autor: pode ser individual ou colectivo, de poesia ou de prosa, com desenhos, fotografias ou de vídeos, temático, noticioso, político, desportivo, profissional, de entretenimento, descrição de viagens, enfim de tudo o que se quiser. Têm sobre os sites a vantagem de não serem necessários grandes conhecimentos de informática. Na maioria, é também possível a inscrição de comentários pelos visitantes, com uma interacção que não encontra paralelo senão nos fóruns organizados pela rádio e pela televisão. A escrita é normalmente mais concisa, adaptada a uma leitura que é feita através de um ecrã, se bem que os conteúdos possam ser depois impressos.
O primeiro blogue foi publicado em 1997 por Jorn Barger. Vai portanto já longe o tempo, nos finais do século passado, em que o seu número oscilava entre cinquenta no ano de 1999 e alguns milhares no ano 2000. A criação de vários softwares, tornando a sua publicação simples e automática, ainda por cima a título gratuito, fez com que eles se multiplicassem a um ritmo alucinante, aparecendo como cogumelos. Em 2003 já eram cerca de quatro milhões e hoje são mais de setenta milhões, número sempre desactualizado, pois aparecem mais cem mil blogues em cada dia que passa. Jornais há que criaram rubricas a eles dedicadas e muitos dos blogues são fontes de informação de referência, a que a Imprensa, tanto escrita como falada e a televisão, frequentemente recorre.
Se pensarmos nos blogues como espaços de escrita, de reflexão e de comunicação, concluímos que eles podem ser afinal jornais instantâneos, em directo do local do acontecimento, tal como acontece com a rádio e com a televisão. Essa é a grande diferença - o queimar de etapas. Algo acontece, esse acontecimento é descrito ou comentado e aparece de imediato em casa do consumidor da notícia. O “jornalista” (com ou sem aspas) não necessita de fazer chegar à Redacção de um Jornal a sua reportagem, os seus comentários, os seus vídeos ou as suas fotos. A peça não passa por nenhum crivo, corte ou emenda, não necessita de ser composta, revista ou impressa. Ela vai, em segundos, dos dedos do autor para os olhos de cada leitor.
Se bem que defendendo a total Liberdade da Imprensa, há que concordar porém que nos blogues, ao invés do que acontece noutros meios de comunicação, pode não se conhecer a identificação dos autores, o que provocará eventualmente um aligeiramento da noção de responsabilidade. Porque o registo é feito de modo ligeiro e podem ser indicados dados fictícios, caberá ao leitor separar o trigo do joio, quando tiver de avaliar alguma matéria mais melindrosa. A um blogue não assinado ou com origem desconhecida, deve ser dado o mesmo crédito e tratamento que se daria a uma rádio ou televisão pirata ou a uma qualquer folha impressa, mas sem identificação dos autores.
No que concerne a quem escreve, o prazer é total. É uma escrita sem intermediários, com um contacto directo com os leitores, com uma apresentação e tipo de letra segundo o seu critério, com fotos, imagens ou ilustrações à sua escolha. No caso de aceitar comentários, há até a possibilidade de ter o feedback imediato acerca do que publica, com apoios, críticas, achegas ou mesmo desacordos. Pode, é verdade, receber igualmente comentários anónimos, sejam eles bem ou mal intencionados, mas este é o problema do “real/virtual” tão conhecido dos utentes da Internet.
Os blogues vieram para ficar, mas todos os outros meios de comunicação permanecerão no respectivo espaço, cada um à sua maneira. Por vezes até se entrelaçam, citando-se entre si. Os jornais, as rádios, as televisões, a Internet, os blogues, mesmo os celulares, são meios de comunicação que continuarão cada vez mais a trazer a actualidade até nossas casas. O Homem é cada vez mais inundado por informação, em grande quantidade e por vezes até contraditória. A ele caberá, em última instância, digerir, escolher, apreender e saber informar-se. É um desafio para o futuro e o futuro, como dizia o poeta Maiakovski, é já hoje!
Com o advento da Internet, logo se anteviu que iriam aparecer coisas antes nem sequer sonhadas. E elas aí estão, a surgir todos os dias.
Alguns pensaram mesmo que se caminhava para o fim dos livros e dos jornais, mas tudo se parece afinal complementar. Os próprios jornais utilizam os seus sites, não só para avançar as edições do dia seguinte, mas também para publicar informações de última hora.
Pode dizer-se que quase tudo é possível ser feito através da Internet: comunicar, pesquisar, entreter, jogar, estudar, divertir, fazer compras, etc. E tudo de modo rápido, simples e eficaz.
Foi neste contexto que apareceram também os blogues nos fins do século passado. São uma espécie de diários, organizados de tal modo que a última coisa publicada é a primeira a aparecer aos olhos do leitor. O tipo de blogue depende unicamente do desejo do seu autor: pode ser individual ou colectivo, de poesia ou de prosa, com desenhos, fotografias ou de vídeos, temático, noticioso, político, desportivo, profissional, de entretenimento, descrição de viagens, enfim de tudo o que se quiser. Têm sobre os sites a vantagem de não serem necessários grandes conhecimentos de informática. Na maioria, é também possível a inscrição de comentários pelos visitantes, com uma interacção que não encontra paralelo senão nos fóruns organizados pela rádio e pela televisão. A escrita é normalmente mais concisa, adaptada a uma leitura que é feita através de um ecrã, se bem que os conteúdos possam ser depois impressos.
O primeiro blogue foi publicado em 1997 por Jorn Barger. Vai portanto já longe o tempo, nos finais do século passado, em que o seu número oscilava entre cinquenta no ano de 1999 e alguns milhares no ano 2000. A criação de vários softwares, tornando a sua publicação simples e automática, ainda por cima a título gratuito, fez com que eles se multiplicassem a um ritmo alucinante, aparecendo como cogumelos. Em 2003 já eram cerca de quatro milhões e hoje são mais de setenta milhões, número sempre desactualizado, pois aparecem mais cem mil blogues em cada dia que passa. Jornais há que criaram rubricas a eles dedicadas e muitos dos blogues são fontes de informação de referência, a que a Imprensa, tanto escrita como falada e a televisão, frequentemente recorre.
Se pensarmos nos blogues como espaços de escrita, de reflexão e de comunicação, concluímos que eles podem ser afinal jornais instantâneos, em directo do local do acontecimento, tal como acontece com a rádio e com a televisão. Essa é a grande diferença - o queimar de etapas. Algo acontece, esse acontecimento é descrito ou comentado e aparece de imediato em casa do consumidor da notícia. O “jornalista” (com ou sem aspas) não necessita de fazer chegar à Redacção de um Jornal a sua reportagem, os seus comentários, os seus vídeos ou as suas fotos. A peça não passa por nenhum crivo, corte ou emenda, não necessita de ser composta, revista ou impressa. Ela vai, em segundos, dos dedos do autor para os olhos de cada leitor.
Se bem que defendendo a total Liberdade da Imprensa, há que concordar porém que nos blogues, ao invés do que acontece noutros meios de comunicação, pode não se conhecer a identificação dos autores, o que provocará eventualmente um aligeiramento da noção de responsabilidade. Porque o registo é feito de modo ligeiro e podem ser indicados dados fictícios, caberá ao leitor separar o trigo do joio, quando tiver de avaliar alguma matéria mais melindrosa. A um blogue não assinado ou com origem desconhecida, deve ser dado o mesmo crédito e tratamento que se daria a uma rádio ou televisão pirata ou a uma qualquer folha impressa, mas sem identificação dos autores.
No que concerne a quem escreve, o prazer é total. É uma escrita sem intermediários, com um contacto directo com os leitores, com uma apresentação e tipo de letra segundo o seu critério, com fotos, imagens ou ilustrações à sua escolha. No caso de aceitar comentários, há até a possibilidade de ter o feedback imediato acerca do que publica, com apoios, críticas, achegas ou mesmo desacordos. Pode, é verdade, receber igualmente comentários anónimos, sejam eles bem ou mal intencionados, mas este é o problema do “real/virtual” tão conhecido dos utentes da Internet.
Os blogues vieram para ficar, mas todos os outros meios de comunicação permanecerão no respectivo espaço, cada um à sua maneira. Por vezes até se entrelaçam, citando-se entre si. Os jornais, as rádios, as televisões, a Internet, os blogues, mesmo os celulares, são meios de comunicação que continuarão cada vez mais a trazer a actualidade até nossas casas. O Homem é cada vez mais inundado por informação, em grande quantidade e por vezes até contraditória. A ele caberá, em última instância, digerir, escolher, apreender e saber informar-se. É um desafio para o futuro e o futuro, como dizia o poeta Maiakovski, é já hoje!
Gabriel de Sousa
NB – 3º Prémio nos Jogos Florais da Academia de Santo Amaro – 2008
1 comentário:
Para saborear como os netos nos fazem viver, mando um conto que escrevi Há quase 20 anos...e até foi seleccionado:
O RITMO DO TEMPO
E Maria de Fátima estugava agora o passo. O tempo corria mais depressa do que as suas pernas... Lembrou-se do Mário, o neto que na escola aguardava, e sorriu. Também ela, também eles, os velhotes, aguardam ansiosos por estes encontros diários.
O garoto, de 5 anos singelos, passava o dia ali na Escola João de Deus, junto ao Jardim da Estrela e só após o jantar regressava a casa com os Pais. E assim os dias, chamados úteis, transformam-se em radiosos para os Avós, com a visita alegre e ruidosa do Mário.
O tempo tem agora um ritmo característico, as horas soando em contagem decrescente para a tardinha. O espaço brilha com um colorido diferente e os pormenores agora sobressaem, as mudanças da natureza tornam-se mais visiveis e importantes. A vida retoma o interesse!
E chegou. Foi o abraço, o esfregar de caras e de peles, a mimosa do menino, a rugosa da velhinha. Ele agarrando-se, ampara-a, aconchega-a. E ela sorri e ouve: são os recados da Mãe, as notícias dos manos, o contar daquele dia na escola.
Atravessam o Jardim da Estrela. É aqui que ele gosta de correr, de se esconder, de brincar, de espreitar as novidades. E ela, carinhosa, vai-lhe mostrando a natureza, fazendo sentir as mudanças nas plantas, nos animais... como crescem, como se transformam, como morrem, pois então! Mas depois há as sementes, a germinação, há uma razão para a vida, para a morte! É o passado, o presente a dar lugar ao futuro!
E como se sente feliz, orgulhosa, neste jardim muito frequentado por velhos, que ali entretêm horas, que tardam a passar. Como gosta de ver o Mário falar com eles, os amigos, de despertar-lhe o interesse pela história de cada um e de o ouvir perguntar como vai correndo tudo, a doença, as notícias da família, etc. E o menino que ainda pouco compreende, escuta os problemas dos outros, apreende ali o universo e vai-se tornando mais aberto. Participa no evoluir do mundo!
Mas a tarde já tarda e eles apressam-se. Em casa, lá ao fundo da R. de S. Bernardo, na janela daquele rés do chão está o Luís, o avô entrevado, que imagina o que se está passando e antecipa já a entrada dos dois. Vê-os chegar, atravessar, mão na mão, cada um responsável pelo outro, em entretida conversa...
Aquece então com o calor dos seus amores, o beijo da sua Maria, o abraço fugídio do neto, que já corre a brincar com o gato... Tudo se transforma, são agora as notícias todas, as mais importantes, aquelas que a TV e a Rádio calam. É ela que se senta ali ao lado, pega na renda e descansa as pernas, cansadas de um passeio que lhe pareceu curto, mas que já lhe pesa. E ele estende a mão e acaricia-a.
Todos se sentem bem, conversam, brincam. É o fluir da seiva, é o continuar da vida, a alegria da companhia. E quando finalmente se sentam a comer, a saborear a ceia, à luz da vela, calam-se um pouco e o avô pensa como é importante para os três aquele convívio... Como tão facilmente se modifica o ritmo do tempo!
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