EFEMÉRIDE – Natascha Kampusch, uma jovem austríaca que foi sequestrada em 1998 quando tinha dez anos de idade, permanecendo sob custódia do seu raptor durante mais de oito anos, até à sua fuga em Agosto de 2006, nasceu em Viena no dia 17 de Fevereiro de 1988.
O caso foi descrito como um dos mais dramáticos da história criminal da Áustria. Natascha saiu de casa em 2 de Março de 1998 com destino à sua escola, mas não regressou. Inicialmente foi aventada a hipótese do desaparecimento estar relacionado com discussões da criança com a mãe. Algumas testemunhas declararam ter visto Natascha entrar para uma viatura de cor branca e vidros fumados. Intensas buscas foram levadas a cabo pela polícia sem qualquer êxito.
Em 2001, um político acusou a família da menina de cumplicidade no caso. A polícia federal austríaca, porém, não encontrou qualquer prova para tal afirmação.
Em Agosto de 2006, Natascha aproveitou-se de um momento de distracção do seu sequestrador, que se afastara no jardim para melhor escutar o telemóvel, para escapar. Na fuga, pediu ajuda a uma mulher, que avisou as autoridades. A garota foi identificada por uma cicatriz no corpo, bem como pelo seu passaporte, deixado no abrigo subterrâneo que servira de cativeiro, e posteriormente por testes ADN. Pesava na ocasião (18 anos) apenas 38 kg.
Logo que o raptor, de 44 anos de idade, Wolfgang Priklopil, engenheiro civil, soube que a polícia estava à procura dele, suicidou-se, saltando para a linha de um comboio suburbano de Viena.
Após a fuga, Natascha recebeu acompanhamento psicológico, demonstrando paradoxalmente certos sinais de simpatia e afecto pelo sequestrador, o que foi diagnosticado como síndrome de Estocolmo.
Priklopil dava-lhe livros e trazia-lhe jornais, o que contribuiu para, apesar de tudo, ter uma instrução rudimentar. Ela escutava também, na rádio, programas culturais e de formação, chegando a adquirir noções de inglês. Pedia igualmente para Wolfgang lhe passar “trabalhos de casa”.
Adaptando-se a pouco e pouco à vida em liberdade, depois de oito anos em cativeiro, começou em Junho de 2008 uma carreira de entrevistadora na televisão austríaca, com o programa “Natascha Kampusch Conversa...”. O primeiro convidado deste programa mensal foi o campeão mundial de Fórmula 1 Niki Lauda.
Em 2009 Natascha Kampusch perdeu o programa de entrevistas que tinha e a solidariedade da opinião pública austríaca, que passou a criticá-la por ter enriquecido graças à história do seu sequestro. Kampusch afirmou então que «a sua vida mudara radicalmente no dia em que escapou, mas que ainda não se sentia realmente livre». Disse também à Austrian Press Agency que «as expectativas do público em relação a vítimas de crimes são surpreendentes. Se as vítimas se escondem, são criticadas porque as pessoas têm o direito de saber o que aconteceu. Mas se cedem às pressões e contam as suas histórias, são acusadas de buscarem os holofotes e são vistas como figuras públicas com pouco direito a privacidade». Em Setembro do citado ano, as autoridades austríacas reabriram o caso. O novo inquérito incomodou Kampusch, que se viu passar da condição de vítima à de suspeita. A nova investigação aconteceu a pedido de uma comissão parlamentar, que considerou haver demasiadas questões por responder na versão da própria Natascha sobre o sequestro e sobre a fuga de casa do raptor. Entre os pontos obscuros da história estaria, por exemplo, o alegado encerramento numa cave. Testemunhas contrariavam esta versão, afirmando que Natascha passeava com Priklopil e teria chegado a passar férias com ele nos Alpes. Foi levantada a hipótese de que mais de uma pessoa estivesse envolvida ou ciente do sequestro. O Caso Kampusch só foi declarado oficialmente encerrado pela justiça austríaca em Janeiro de 2010, com a conclusão de que Wolfgang Priklopil fora o único autor do sequestro e que não houvera mais cúmplices nem envolvidos.
Hoje, Natascha Kampusch vive em reclusão voluntária no apartamento que comprou no centro de Viena. Raramente sai à rua, para evitar ser reconhecida e, eventualmente, insultada. Passa o tempo a estudar, a escrever, a pintar e a tirar fotografias.
Em Setembro de 2010 lançou o livro “3096 Dias”, descrevendo como viveu durante os oito anos em que esteve cativa. Declarou entretanto que pretende destruir parte da casa de Priklopil – a qual ganhou judicialmente – para evitar que se transforme num museu macabro. Um filme sobre este caso está previsto estrear em 2012.
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