domingo, 22 de abril de 2012

EFEMÉRIDE Francisco Martins Rodrigues, político português, fundador do primeiro movimento marxista-leninista nacional, morreu em Lisboa no dia 22 de Abril de 2008. Nascera em Moura, em 1927.
Filho de um oficial que foi expulso do exército por ser oposicionista ao governo, Francisco Martins iniciou o seu percurso político em 1949 no Movimento de Unidade Democrática (MUD), após a deslocação da família para Lisboa, onde estudou até ao 6º ano do liceu. Trabalhou numa livraria e como aprendiz de mecânico na TAP.
Em 1951 foi preso pela primeira vez, durante três meses, por se ter manifestado contra a NATO, o que provocou igualmente o seu despedimento. Detido duas outras vezes, abandonou a casa dos pais, passando a viver na semi-clandestinidade até 1953, ano em que se tornou funcionário do Partido Comunista Português.
Em 1956, começou a questionar a linha do PCUS, após o XX Congresso, nomeadamente a chamada “coexistência pacífica”. No ano seguinte, foi detido de novo e conduzido para a prisão de Peniche, onde conheceu dirigentes comunistas como Álvaro Cunhal, Francisco Miguel e Jaime Serra.
Em 3 de Janeiro de 1960, participou na célebre “fuga de Peniche”, juntamente com Álvaro Cunhal, Joaquim Gomes, Francisco Miguel, Pedro Soares, Jaime Serra, Guilherme da Costa Carvalho, José Carlos, Rogério de Carvalho e Carlos Costa. Os chamados “Dez de Peniche” protagonizaram assim um episódio lendário na história da resistência antifascista portuguesa, que reforçou o PCP na luta contra o salazarismo.
Voltou à militância, trabalhando numa tipografia clandestina em Carnide. Em 1961, entrou para o Comité Local do PCP em Lisboa, sendo membro suplente do Comité Central. Em 1962, passou a fazer parte da Comissão Executiva, encarregando-se do trabalho político na margem sul e arredores de Lisboa.
A sua ruptura com o PCP foi antecedida de divergências com a linha do partido face à guerra colonial, após ter escrito um manifesto que foi considerado alheio ao “espírito do partido”. Seguiram-se outras divergências, tendo sido destituído do seu lugar na Comissão Executiva e proposto como secretário de Álvaro Cunhal, lugar que recusou.
Foi então enviado para Paris, incorporando-se na organização do partido na capital francesa. Fez críticas à posição do PCP em matérias como a guerra colonial, a passagem pacífica ao socialismo e a revolução democrática. O seu abandono do partido levou-o a ser o mais importante ideólogo da extrema-esquerda nacional, participando em Paris, em 1964, na criação do Comité Marxista-Leninista Português (CMLP) e da Frente de Acção Popular (FAP), apoiado pelo médico João Pulido Valente e por Rui D’Espiney.
Visitou a China maoista e a Albânia de Hoxha, voltando a Portugal em 1965, para fazer trabalho político no CMLP. A descoberta de um colaborador da polícia política no interior da organização acabou com a morte do infiltrado, acção reivindicada pela FAP. Francisco Martins foi novamente preso pela PIDE, sofrendo torturas violentas, juntamente com os dois outros criadores do CMLP e da FAP. Foi condenado a 20 anos de prisão e libertado dois dias depois do 25 de Abril de 1974.
Após a Revolução dos Cravos, participou na fundação do PCR (Partido Comunista Reconstruído) e da UDP, organização que atingiu uma importante influência em sectores à esquerda do PCP. Em 1983 abandonou ambas as organizações, considerando que tinham caído nos mesmos “desvios” atribuídos ao PCP.
Em 1984, fundou a Organização Comunista Política Operária e foi director da revista com o mesmo nome.
Na última década da sua vida, estreitou laços de solidariedade com o movimento independentista galego, participando habitualmente nas manifestações do Dia da Pátria Galega (25 de Julho) e noutros eventos de apoio à autodeterminação da Galiza, do País Basco e da Catalunha.
Para além de várias obras que deixou publicadas, foi editado postumamente o seu livro “Os anos do silêncio” que contém notas autobiográficas, uma descrição das práticas de tortura do sono a que foi submetido e a sua defesa num julgamento em 1970.

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