O Tempo p’ra mim parou,
Meu olhar perdeu o brilho.
E a água do mar turvou.»
Anastácio da Silva
À DERIVA
(décimas)
1
A crise que nos invade
Traz-me tristeza sem fim.
Não é bom viver assim
E, p’ra dizer a verdade,
Vai-me pesando a idade.
Dêem vinho e mais vinho
P’ra alegrar o Zé-povinho.
Com tanta austeridade,
Perdi-me pela cidade,
Já me enganei no caminho.
2
Não sei para onde ir,
Certamente p’ro Inferno,
P’ra me aquecer no Inverno.
Já não consigo dormir
Nem sei o que é sorrir,
Quase tudo piorou,
Até a fome chegou,
Sinto o coração partido,
O horizonte perdido,
O Tempo p’ra mim parou.
3
A tristeza não tem fim,
Do futuro tenho medo
E este negro enredo
Anda a dar cabo de mim,
Não quero viver assim.
Estamos seguindo um trilho,
Sarilho atrás de sarilho,
Eu já não tenho esperança,
O desespero avança,
Meu olhar perdeu o brilho.
4
Cabelo embranquecido,
Vivendo momento triste,
Futuro já não existe,
Passado foi esquecido,
Presente está corroído…
… E Portugal resvalou,
Do abismo se abeirou,
O Sol até se escondeu,
A Terra arrefeceu
E a água do mar turvou.
Gabriel de Sousa
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