EFEMÉRIDE – Vladimir Vladimirovitch Maïakovski, poeta, dramaturgo e teórico russo, morreu em Moscovo no dia 14 de Abril de 1930. Nascera em Bagdadi, em 7 de Julho de 1893. É frequentemente referenciado como um dos maiores poetas do século XX, bem como “o maior poeta do futurismo”.
Passou a infância na aldeia de Bagdadi, nos arredores de Kutaíssi, na Geórgia, então no Império Russo. Ali fez os primeiros estudos. Depois da morte súbita do pai em 1906, a família ficou na miséria e transferiu-se para Moscovo, onde Vladimir continuou a estudar.
Fortemente impressionado pelo movimento revolucionário russo e impregnado desde cedo por obras socialistas, ingressou aos quinze anos na facção bolchevique do Partido Social-Democrático Operário Russo. Detido por duas vezes, foi solto por falta de provas mas, em 1909/1910, passou onze meses na prisão, aproveitando para se iniciar na poesia. Entrou em 1911 na Escola de Belas Artes, onde conheceu David Burliuk, que o ajudou no desenvolvimento da sua veia poética. Os dois amigos fariam parte do grupo fundador do chamado Cubo Futurismo Russo. Foram expulsos da Escola de Belas Artes. Procurando difundir as suas concepções artísticas, realizaram diversas viagens pela Rússia.
Após a Revolução de Outubro, todo o grupo manifestou a sua adesão ao novo regime. Durante a Guerra Civil, Maïakovski dedicou-se a fazer desenhos e legendas para cartazes de propaganda e, no início da consolidação do novo Estado, exaltou campanhas sanitárias, fez publicidade de produtos diversos, etc. Fundou, em 1923, a revista “LEF”, que reuniu a “esquerda das artes”, isto é, os escritores e artistas que pretendiam aliar a forma revolucionária a um conteúdo de renovação social.
Viajou pelo país, aparecendo diante de vastos auditórios para os quais lia os seus versos. Viajou também pela Europa Ocidental, México e Estados Unidos. Entrou em choque frequente com os “burocratas” e com os que pretendiam reduzir a poesia a fórmulas simplistas. Foi homem de grandes paixões, arrebatado e lírico, épico e satírico ao mesmo tempo.
A sua obra, profundamente revolucionária, tanto na forma como nas ideias que defendeu, apresenta-se coerente, original, veemente e una. A linguagem que emprega é a do dia a dia, a par de uma constante elaboração, que vai desde a invenção vocabular até a um inusitado arrojo nas rimas. O seu primeiro livro de poemas, no entanto, seria de estética influenciada pelo simbolismo e nunca chegaria ao público, tendo sido escrito quando o poeta estava na prisão e apreendido pela polícia no momento da sua libertação.
Na década de 1910, passou a escrever num estilo aproximado do Cubismo e do Futurismo, repleto de imagística urbana e surpreendente, com um certo ar impressionista e, ainda, simbolista. Esta fase da sua poesia é a mais apreciada por outros poetas, como Boris Pasternak, porque continuava a manter – em certos poemas – recursos simbolistas e uma métrica rigorosa.
Em seguida, já na década de 1920, a sua poesia, apesar de ser uma continuidade no que diz respeito à inovação rítmica, a rimas, ao uso da fala quotidiana e mesmo de imagens inusitadas, assumiu um tom mais directo. Ao mesmo tempo, o gosto pelo desmesurado e pelo hiperbólico, aliou-se nesta época à dimensão crítico-satírica. Criou longos poemas, quadras e dísticos que se gravavam na memória. Era um perfeccionista rigoroso, chegando a reescrever dezenas de vezes o mesmo verso e recolhendo muito material informativo e linguístico para posterior utilização. Escreveu igualmente ensaios sobre a arte poética e artigos curtos de jornal; peças de forte sentido social e rápidas cenas sobre assuntos do dia; guiões de cinema arrojados e fantasiosos e breves filmes de propaganda. Teve influência profunda em todo o desenvolvimento da poesia russa moderna, bem como sobre poetas e movimentos de todo o mundo.
Suicidou-se com um tiro no coração em 1930. Dois dias antes, escrevera o seu epitáfio: «Não acusem ninguém pela minha morte. O defunto tem horror dos mexericos. As dores, as angústias e as acusações recíprocas que vão para o diabo. Sejam felizes !». Seria encontrada também a seguinte nota: «Como se costuma dizer, assunto arrumado. Peço perdão à minha mãe, irmãs e amigos. Não recomendo isto a ninguém, mas para mim é o único caminho possível.». Estaline ordenou que fossem feitos funerais nacionais para aquele que qualificaria mais tarde de «Poeta da Revolução». Vladimir estaria porém a ser pressionado pelos autoridades oficiais, que desejavam instaurar uma literatura simplista e dita realista e perseguiam antigos poetas revolucionários como o próprio Maïakovski.
Sem comentários:
Enviar um comentário