EFEMÉRIDE – Ferruccio Elio Arturo Lamborghini, industrial italiano, nasceu em Renazzo di Cento no dia 28 de Abril de 1916. Morreu em Perugia, em 20 de Fevereiro de 1993. Era dono de uma fábrica de tractores e terá entrado no ramo de carros de alta performance após divergir das opiniões de Enzo Ferrari. Foi protagonista de uma vida feita de coragem, determinação e bom senso.
Começou por aprender a arte de trabalhar a terra e, ainda muito novo, já ajudava o pai nas tarefas agrícolas do dia-a-dia. Com 14 anos, decidiu ir à procura de emprego no ofício para onde mais pendia o seu interesse. Foi para Bolonha, onde arranjou colocação como aprendiz de mecânico, com o vencimento de apenas 15 liras por semana. Estudou depois no Instituto de Tecnologia de Bolonha, tendo-se diplomado em 1939.
Entretanto, em 1936, com 20 anos de idade e já bastante conhecedor de mecânica, ingressara no serviço militar, tendo sido destacado para um centro de mecânica automóvel em Rodi, no qual teve oportunidade de aprofundar os seus conhecimentos sobre as novas tecnologias aplicadas a motores diesel, muito em voga por altura da 2ª Grande Guerra Mundial. Alcunhado pelos colegas como o “Pai Eterno”, por ele conseguir resolver sistematicamente os problemas técnicos mais delicados, ingressou posteriormente na Força Aérea Italiana, onde se inteirou das inovações técnicas deste outro sector em franco desenvolvimento. Como corolário da sua formação prática em mecânica, beneficiou também do tempo em que trabalhou com motores de veículos bélicos quando, em 1944, na condição de prisioneiro das forças militarizadas britânicas, foi obrigado a trabalhar como mecânico na ilha de Rhodes.
No pós-guerra, o Estado italiano havia reunido, em campos fechados, enormes quantidades de sucata resultante das sobras de material de guerra, que vendia a peso a quem estivesse interessado. Lamborghini, que já havia catalogado mentalmente o que poderia aproveitar para o projecto que tinha em mente, juntou o material que lhe convinha e realizou engenhosamente o seu primeiro veículo, a partir da escolha de materiais que fez nesses depósitos. Tratava-se de um híbrido, entre o tractor e o automóvel, de velocidade lenta, a que chamou “Carioche”. Uma vez concebido e melhorado, começou a construir de raiz o seu próprio “Carioche” e, dois anos mais tarde (1948), já havia fabricado e colocado no mercado 500 unidades que, ao preço de 800 mil liras, resultavam num lucro de 150 mil liras por cada unidade vendida.
Com base na experiência adquirida, fabricaria em 1949 o primeiro tractor genuinamente agrícola, já com elevador hidráulico e outros requisitos de vanguarda para a época. O modelo, bem sucedido, representou um marco na passagem da fase artesanal para a industrial. Confiante no empreendimento, com a ajuda financeira do pai, comprou 1 000 motores à Morris, tendo passado de uma garagem improvisada para instalações mais condignas. Depois de esgotado o stock dos mil motores comprados e com o modelo do tractor desenvolvido, Lamborghini começou a montar motorizações de 20 a 50 cv MWM-Benz e iniciou a construção e montagem em série de caixas sincronizadas de 4 a 12 velocidades.
Com uma boa gestão empresarial, aliada à qualidade reconhecida dos seus tractores nos principais mercados, os consequentes avultados lucros levaram o construtor italiano a diversificar os investimentos, a partir de uma segunda fábrica que fundou, dedicada à produção de ar condicionado e de equipamentos para aquecimento central. Ferruccio começava a aproximar-se, em fortuna pessoal, dos homens mais ricos do país.
Entretanto, embora se dispersasse por outras actividades industriais, concentrava prioritariamente os seus interesses nos tractores agrícolas. Em 1954, alargou a sua gama de ofertas com os primeiros tractores de lagartas. Os primeiros motores de concepção e fabrico Lamborghini desta época motorizaram também os pequenos modelos de tractores de 22 cv, de 2 cilindros, conhecidos por Lamborgninetta e que, no fim dos anos 1950, surgiram no mercado para concorrer com os tractores da mesma classe que estavam no mercado.
Na continuação das suas pesquisas, Lamborghini introduziu – em 1962 – a versão da dupla tracção na sua gama de tractores, o que – acompanhando em evolução os seus concorrentes mais próximos – também contribuiu para aumentar a sua já ampla quota de exportação.
Apaixonado por automóveis, tendo começado por alterar viaturas com aplicações "tuning", chegou a construir, a partir de um Fiat 500 Topolino, um carro veloz com o qual concorreu na prova Mille Miglia de Brescia (1948). Para além do empenho que desde sempre dedicou ao sector de veículos agrícolas, o seu interesse por automóveis levou-o a construir, com o mesmo nome da marca dos seus tractores, o automóvel que se celebrizou com a designação de Miúra, lançando no mercado do sector de automóveis de luxo o primeiro Lamborghini, modelo GTV 350, apresentado no Salão de Turim de 1963.
Entretanto, e como corolário do seu contributo para a economia italiana, enquanto industrial e empresário, Ferruccio Lamborghini foi agraciado com o título de Cavaliere del Lavoro, pelo presidente italiano, em Junho de 1969.
Nos anos 1970, desmotivado com vários contratempos e crises, resolveu descansar e viver dos seus muitos e avultados rendimentos. Vendeu o projecto automóvel a um grupo suíço e os tractores a outro fabricante. Nomeou o seu filho, como gestor das restantes empresas, o qual – saindo ao pai – se dedicou à multiplicação da herança recebida, através do fabrico e comercialização de roupas com a marca Lamborghini, através de uma cadeia de lojas de luxo.
Voltando às suas origens ligadas à terra, Ferruccio comprou uma propriedade onde, num enquadramento paradisíaco, construiu uma vivenda a condizer em grandeza e bom gosto com o ambiente que a envolvia, constituído por uma plantação de vinha a perder de vista, implantada a conselho e por orientação dos melhores peritos em vitivinicultura. O vinho produzido, lançado no mercado mundial através da Feira de Verona, com garrafas expostas por cima de automóveis Lamborghini, com manequins italianas semi-vestidas com super minissaias e decotes arrojados até ao umbigo, a darem a provar aos visitantes um vinho cunhado como sendo “o generoso sangue dos Miúra”, foi um sucesso absoluto. A produção desse ano e dos seguintes, a rondar em média as 800 mil garrafas, foi praticamente toda vendida para exportação e a um preço que só não assustava os compradores de carros da classe dos Lamborghini.
Ferruccio, aos 60 anos, era um homem feliz. Passava o tempo a olhar pela sua propriedade, afinando e reparando os tractores ou trabalhando com eles para se distrair. Muitas vezes, recebia na sua casa a nata da sociedade italiana e do resto do mundo, com quem sempre convivera e estivera ligado por razões profissionais. Morreu aos 76 anos, vítima de crise cardíaca. Como tributo à valiosa obra deixada pelo pai, Tonito Lamborghini mandou construir, em Imola, um museu aberto ao público com as principais e originais produções Lamborghini.
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