EFEMÉRIDE
– Alfredo de Freitas Dias Gomes, romancista, dramaturgo, autor de
telenovelas e membro da Academia Brasileira de Letras, morreu em São Paulo no dia 18 de
Maio de 1999, vítima de um acidente de automóvel. Nascera em Salvador, em
19 de Outubro de 1922. Fez o curso primário no Colégio Nossa Senhora
das Vitórias e iniciou o secundário no Ginásio Ipiranga. Em
1935, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, onde prosseguiu o curso
secundário no Ginásio Vera Cruz e, posteriormente, no Instituto
de Ensino Secundário. Em 1943, ingressou na Faculdade de Direito do Rio
de Janeiro, abandonando o curso no 3º ano.
Foi
no ambiente radiofónico que Dias Gomes travou contacto pela primeira vez com
aquela que viria a ser a sua primeira esposa, a então desconhecida Jenete (Janete
Clair). Viúvo de Janete Clair, que morreu em 1983, casou-se no ano seguinte
com a actriz Bernadeth Lyzio.
Aos
15 anos, escreveu a sua primeira peça de teatro, “A Comédia dos Moralistas”,
com a qual ganharia o Prémio do Serviço Nacional de Teatro. Em 1941, a sua peça “Amanhã
Será Outro Dia” chegou às mãos do actor Procópio Ferreira que, empolgado
com a qualidade do texto, chamou o autor para «terem uma conversa».
Embora tivesse gostado do que lera (tratava-se de um drama antinazi), Procópio achava
arriscado levar à cena um espectáculo deste cariz em plena Segunda Guerra
Mundial. Quando questionado «se não teria uma outra peça, de comédia
talvez», Dias lembrou-se de “Pé de Cabra”, uma espécie de sátira ao
maior sucesso de Procópio até então, e não hesitou em levá-la ao grande actor
que, entusiasmado, comprometeu-se a encená-la.
Sob
a alegação de que a peça possuía alto conteúdo marxista, “Pé de Cabra”
foi proibida no dia da estreia. Curioso notar que, embora anos depois o autor
viesse a filiar-se no Partido Comunista Brasileiro, até então Dias Gomes
nunca havia lido uma só linha de Karl Marx. Graças à sua influência, Procópio
conseguiu “libertar” a peça, mediante o corte de algumas passagens, e a mesma
acabou por ser levada à cena com grande sucesso. No ano seguinte, Dias Gomes
assinaria com Procópio aquele que seria o primeiro grande contrato da sua
carreira, no qual se comprometia a escrever em exclusividade para o actor.
Desse período nasceram “Zeca Diabo”, “João Cambão”, “Dr.
Ninguém”, “Um Pobre Génio” e “Eu Acuso o Céu”. Infelizmente,
nem todas as peças foram encenadas, pois Dias Gomes e Procópio desentenderam-se
por sérias divergências políticas. Reflectindo o pensamento da época, Procópio
não concordava com as preocupações sociais que Dias insistia em discutir nas
suas peças. Tais diferenças levariam o autor a afastar-se temporariamente dos
palcos, passando a dedicar-se à rádio.
De 1944 a 1964, Dias Gomes
adaptou cerca de 500 peças teatrais para o rádio, o que lhe proporcionou um
apurado conhecimento da literatura universal. Em 1960, voltou aos palcos com
aquele que viria a ser o maior êxito da sua carreira e pelo qual se tornaria
internacionalmente conhecido: “O Pagador de Promessas”. Adaptado ao
cinema, foi o primeiro filme brasileiro a receber uma nomeação para os Oscars
e o único a ganhar uma Palma de Ouro em Cannes.
Em
1965, assistiu, perplexo, à proibição da sua peça “O Berço do Herói”, no
dia da estreia. Adaptada para a televisão com o nome de “Roque Santeiro”,
seria proibida uma década depois, também no dia da estreia. Somente em 1985,
com o fim do Regime Militar, o público veio a assistir a esta peça.
Com
a implantação da Ditadura Militar no Brasil em 1964, Dias Gomes passara a ter
as suas peças censuradas. Demitido da Rádio Nacional, não lhe restou
outra saída senão aceitar o convite de Boni, então presidente da Rede Globo,
para escrever para a televisão.
De 1969 a 1979, Dias Gomes
dedicou-se exclusivamente à TV, na qual demonstrou grande talento. Em 1973,
escreveu a primeira novela a cores da televisão brasileira, “O Bem Amado”.
Em 1974, já falava em ecologia e no crescimento desordenado das cidades,
em “O Espigão”. Em 1976, com “Saramandaia”, abordou o realismo
fantástico, então em moda na literatura. O fracasso de “Sinal de Alerta”,
em 1978, levou-o a afastar-se temporariamente do género telenovela.
Ao
longo da década de 1980, Dias Gomes voltou a dedicar-se ao teatro,
escrevendo para a televisão só esporadicamente. Datam desse período os seriados
“O Bem Amado” e “Carga Pesada”, e a novela “Mandala”. Nos
anos 1990, virou as costas de vez as telenovelas, dedicando-se única e
exclusivamente às mini-séries. Foi eleito para a Academia Brasileira de
Letras em Abril de 1991.
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