EFEMÉRIDE
– João Manuel Ferreira Simões, jornalista português, nasceu na vila de Ota,
Alenquer, em 3 de Setembro de 1932. Morreu no dia 24 de Outubro de 2014.
Foi fundador e dirigente do Sindicato dos Jornalistas em Moçambique. Trabalhou
em jornais influentes e de grande expansão, como o “Diário de Notícias”
e o “Diário Popular”.
Perdeu
os pais ainda não tinha 10 anos. Durante a Segunda Guerra Mundial, na
qual Portugal manteve uma posição neutra, a vida entre as classes média
e baixa era extremamente difícil, pelo que ninguém na família o pôde
sustentar. Foi assim que veio para Lisboa, onde foi inscrito na secção de
Pina Manique da Casa Pia de Lisboa, uma instituição de apoio a
crianças em risco.
Quando
adolescente, Ferreira Simões integrou um pequeno grupo da mesma faixa etária,
que teve diversas intervenções nas temporadas de ópera italiana, em
espectáculos realizados no Coliseu dos Recreios e no Teatro Nacional
de S. Carlos. Foi nessa altura que conheceu pessoalmente cantores famosos
como Tito Schippa, Benjamino Gigli, Gino Bechi, Iolanda Gardino, Renata
Tebaldi, e os portugueses Tomás Alcaide e Guilhermo Kjolner. Curiosamente, foi
depois de um ensaio nocturno da ópera “Cecília”, no Teatro Nacional
de S. Carlos, que se viu envolvido num acidente de viação que viria a
determinar a sua ida para Moçambique (o que aconteceu em 1951), a convite do
proprietário e director do “Notícias” de Lourenço Marques (actual
Maputo), capitão Manuel Simões Vaz, que mais tarde mandou retirá-lo da secção
de publicidade, onde fora colocado, para o integrar no quadro
redactorial do referido diário.
Em
Moçambique, foi depois chefe de redacção do jornal “Notícias da Beira” e
da revista “Tempo” e representante da agência noticiosa Lusitânia,
uma concorrente da Anop (mais tarde extinta para criar a Lusa).
Embora não fosse adepto do regime que dirigiu os destinos de Portugal durante
mais de 40 anos, nunca foi incomodado pela PIDE (polícia política),
porque também nunca se envolveu em actividades que a isso pudessem conduzir.
A
única perseguição digna de registo de foi alvo partiu não da polícia política
mas sim do último governador-geral de Moçambique, engenheiro Pimentel dos
Santos. Ferreira Simões, que era dirigente sindical, fora indigitado, numa
reunião dos vários sindicatos, para membro do Conselho Legislativo,
órgão de que era presidente, por inerência, o governador-geral, e que tinha a
seu cargo a discussão e aprovação (ou rejeição) dos vários diplomas
legislativos, que eram publicados no jornal oficial e constituíam as leis que
vigoravam naquela antiga colónia portuguesa. A lista dos eleitos pelos vários
sectores com intervenção no processo era apreciada depois pelo representante do
partido único (a Acção Nacional Popular) e pelo governador-geral. Este,
com quem Ferreira Simões tivera um ligeiro conflito, na sequência de notícias
por ele enviadas e publicadas em Lisboa, mandou que se alterasse a acta da
reunião dos sindicatos em que fora eleito e colocassem no seu lugar um africano
da região do Monapo, de seu nome Assael Jonassane Mazula, que já vinha a fazer
parte de anteriores conselhos legislativos.
Isto
passou-se em 1973. No ano seguinte, a Revolução dos Cravos, que terminou
com o regime ditatorial, pôs também fim à curta vida do último Conselho
Legislativo de Moçambique e às funções do governador-geral, que regressou
imediatamente à Metrópole, como Portugal era designado nos territórios
ultramarinos.
Depois
do 25 de Abril de 1974, Ferreira Simões viu-se forçado a abandonar
Moçambique devido a perseguições políticas e também por acreditar que o país
deveria ter direito a eleições gerais livres e democráticas, ao invés do
destino político ser a entrega ao partido Frelimo. Foi para Joanesburgo,
onde residiu quase dois anos até regressar a Portugal na Primavera de 1976.
Nessa altura, Portugal enfrentava uma grave crise económica, social e política,
caracterizada por uma quase bancarrota, lutas sociais e confrontos entre a
esquerda e a direita. Mais de meio milhão de portugueses que tinham vivido nas
colónias, principalmente em Angola e Moçambique, tinham entretanto regressado.
Em
Lisboa, Ferreira Simões recomeçou como copy desk e editor no “Diário
de Notícias” e, mais tarde, trabalhou como editor e grande repórter no “Diário
Popular”, dois dos maiores diários de Lisboa. Morreu aos 82 anos.
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