sábado, 10 de agosto de 2019

10 DE AGOSTO - NÉ LADEIRAS


EFEMÉRIDE - Né Ladeiras, de seu nome completo Maria de Nazaré de Azevedo Sobral Ladeiras, cantora portuguesa, nasceu no Porto em 10 de Agosto de 1959.
Tem por origem uma família com grandes afinidades musicais. A mãe cantava em programas de rádio, o pai tocava viola e o avô materno tocava guitarra portuguesa, braguesa, cavaquinho e instrumentos de percussão. Com 6 anos, participou no Festival dos Pequenos Cantores da Figueira da Foz. Durante a adolescência, integrou vários projectos musicais, entre os quais um duo acústico formado com uma amiga da escola.
A sua carreira musical começou realmente com a fundação, em 1974, com diversos amigos, da Brigada Victor Jara, projecto no qual tocavam sobretudo música latino-americana, tendo participado em diversas campanhas de animação cultural do MFA (Movimento de Forças Armadas) e de trabalho voluntário. O interesse do grupo pela música tradicional portuguesa só se manifestou nos últimos meses de 1976, após realizarem diversos espectáculos pelo país e aí “descobrirem” as potencialidades e qualidade da nossa tradição musical.
Em 1977, na sequência de uma actuação na FIL (Feira Internacional de Lisboa), manteve contactos com a editora Mundo Novo, para a qual gravaram, durante dois dias, o álbum “Eito Fora”, que foi editado nesse mesmo ano. Né Ladeiras interpretou, neste disco, um dos temas mais conhecidos, “Marião”, com base numa tradição de Trás-os-Montes.
No ano seguinte, Né Ladeiras participou ainda nas gravações do segundo álbum da Brigada Victor Jara, intitulado “Tamborileiro”. Em 1979, após se separar da Brigada, Né Ladeiras juntou-se ao agrupamento Trovante, ainda antes de este alcançar sucesso, com o qual gravou o single “Toca a Reunir”.
Na altura da gravidez do seu primeiro filho, Né Ladeiras ficou em casa e foi nessa altura que foi convidada pelos Trovante, que já andavam há muito tempo à procura de uma voz feminina. Fizeram alguns espectáculos e toda a preparação de “Baile do Bosque”. Quase todas as músicas da maqueta apresentada às editoras eram cantadas por Né Ladeiras.
Entre 1980 e 1982, integrou um dos projectos mais inovadores da música portuguesa, a Banda do Casaco, fundada em 1973 por Nuno Rodrigues e António Pinho (ex-Filarmónica Fraude). Né Ladeiras participou na gravação dos álbuns “No Jardim da Celeste” (em 1981) e “Também Eu” (em 1982) que incluíam alguns dos maiores sucessos do grupo, como “Natação Obrigatória” e “Salvé Maravilha”.
O primeiro trabalho a solo de Né Ladeiras, “Alhur”, foi editado em 1982 pela gravadora Valentim de Carvalho. O disco, um EP (ou máxi-single) composto por quatro temas da autoria de Miguel Esteves Cardoso (letras) e Né Ladeiras (músicas), teve a participação de Ricardo Camacho na produção e dos Heróis do Mar como músicos de estúdio. “Alhur” é um disco que fala de águas, desde as águas régias do pensamento às águas salgadas dos oceanos e das lágrimas.
Né Ladeiras retribuiu, nesse mesmo ano, a colaboração com os Heróis do Mar, participando no maxi-single “Amor”, que se tornou um grande êxito comercial.
Em 1984, foi editado pela Valentim de Carvalho o álbum “Sonho Azul”, com produção de Pedro Ayres Magalhães (membro dos Heróis do Mar e futuro mentor dos Madredeus e Resistência), que também assinou as letras e partilhou, com Né Ladeiras, na composição das músicas. O disco foi dedicado a todas as pessoas que fizeram do cinzento um «sonho azul» e ao seu filho Miguel. Dos oito temas, os que obtiveram maior notoriedade foram: “Sonho Azul”, “Em Coimbra Serei Tua” e “Tu e Eu”.
Participou no Festival RTP da Canção de 1986, com “Dessas Juras que se Fazem”, um inédito de Carlos Tê e Rui Veloso.
Em 1988, integrou o projecto Ana E Suas Irmãs, idealizado por Nuno Rodrigues - seu colega na Banda do Casaco e então director da editora Transmédia. O grupo concorreu ao Festival RTP da Canção de 1988 com o tema “Nono Andar”, sendo apresentado como um conjunto mistério. No entanto, Né Ladeiras não participou no certame, colaborando apenas na edição em single.
Em 1989, lançou um álbum dedicado à actriz sueca Greta Garbo, “Corsária”, fruto de um projecto de pesquisa, o que, aliás, é bem característico do trabalho a solo de Né Ladeiras. A produção e arranjos estiveram a cargo de Luís Cília. As músicas foram compostas por si, sendo as letras da autoria de Alma Om. O disco não obteve uma grande divulgação, principalmente porque a editora abriu falência pouco tempo após a sua edição.
Colaborou igualmente com a rádio, outra das suas paixões, em rádios de Coimbra, Antena 1 e TSF. Posteriormente, em resultado de algum desencantamento com a música, retirou-se da actividade musical.
Em 1993, participou nas gravações de “Matar Saudades”, tema bónus incluído na edição em CD do disco “Banda do Casaco com Ti Chitas”.
Entre Janeiro de 1993 e Outubro de 1994, Né Ladeiras gravou, com produção de Luís Pedro Fonseca, o seu quarto álbum, “Traz-os-Montes”, uma produção da Almalusa com edição da EMI-Valentim de Carvalho, que resultou de dois anos de pesquisa de material relacionado com a música e a cultura tradicionais transmontanas (onde veio a descobrir raízes familiares), nomeadamente as recolhas efectuadas por Michel Giacometti e por Jorge e Margot Dias. O disco recebeu o Prémio José Afonso.
A qualidade de temas como “Çarandilheira” e “Beijai o Menino” fizeram deste disco, que é a revisitação de temas tradicionais transmontanos interpretados em língua mirandesa, a sua obra-prima e um dos melhores discos de sempre da música portuguesa.
No Natal de 1995, foi editado o álbum “Espanta Espíritos”, disco de natal idealizado e produzido por Manuel Faria (seu colega nos tempos dos Trovante), no qual participaram diversos artistas, entre os quais se destaca Né Ladeiras que interpretou o tema “A Lenda da Estrela” com letra de João Monge e música de João Gil.
Em 1996, participou na compilação “A Cantar com Xabarin”, Vol. III e IV, proposta pelo programa da TV Galiza, com o tema “Viva a Música!”, composto por Né Ladeiras e Bruno Candeias, no qual participaram, nos coros, os seus filhos Eduardo e João.
O álbum “Todo Este Céu”, editado em 1997, foi inteiramente dedicado às canções de Fausto, compositor popular português.
No álbum-compilação “A Voz e a Guitarra” fez incluir o tema “As Asas” do brasileiro Chico César e uma nova versão de “La Molinera”, que contou com a participação do guitarrista Pedro Jóia.
Colaborou no disco “Sexto Sentido”, que marcou o regresso dos Sétima Legião. Em 2000, foi editada a colectânea “Cantigas de Amigos” com produção de João Balão e Moz Carrapa.
Anamar, Né Ladeiras e Pilar Homem de Melo juntaram-se em concerto, por iniciativa de Tiago Torres da Silva, em dois shows realizados no mês de Novembro de 2000.
O álbum “Da Minha Voz”, de 2001, tem várias músicas do brasileiro Chico César e teve lançamento no Brasil em espectáculos realizados em São Paulo, com a orquestra do Teatro Municipal de São Paulo e com o grupo Mawaca. A imprensa brasileira teceu críticas positivas e elogiou, sobretudo, a voz grave e segura de Né Ladeiras. O disco contou com a participação de Ney Matogrosso, curiosamente cantando sozinho o tema “Sereia”.
Ao mesmo tempo, foram delineandos outros projectos: um disco inspirado nas pinturas de Frida Kahlo e um outro de homenagem à escritora Isabelle Eberhardt (escritora convertida ao Islão, autora de “Escritos no Deserto”) contando, para isso, com as letras de Tiago Torres da Silva.
Em 2002 foi editado o disco “Anamar, Né Ladeiras, Pilar - Ao Vivo”. Foi editada ainda uma compilação com os discos “Alhur” e “Sonho Azul”.
Em Abril de 2010, iniciou a gravação de um novo disco com composições suas e letras de Tiago Torres da Silva, na alcaidaria do castelo de Torres Novas. Contou com as participações de Vasco Ribeiro Casais (“Dazkarieh”), Nuno Patrício (“Blasted Mechanism”), Francesco Valente (“Terrakota”), Corvos, Lara Li e Mísia.
Em 2016, lançou o CD “Outras vidas”, dedicado a várias mulheres que marcaram a sua vivência e a sua carreira, como Avita, Greta Garbo, Frida Khalo, Madre Teresa, Isabelle Eberhardt ou Violeta Parra. A música é da própria e as letras têm assinatura de Tiago Torres da Silva, com produção de Amadeu Magalhães.

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