Com apoio da nobreza castelhana,
descontente com o rei de Castela, que matou o antecessor, Fernando chegou a ser
aclamado rei em diversas cidades importantes de Norte a Sul da Galiza. Travou
guerras contra Castela, ficando estas conhecidas como guerras fernandinas.
Foi o terceiro filho de seus
pais. O irmão mais velho, Luís, nascido um ano antes, morreu com uma semana.
Teve uma irmã, Maria, nascida anos antes.
Depois de nascer, passadas três
semanas, ficou órfão de mãe. O pai passou a estar livre para ficar com Inês de
Castro, com quem tivera vários filhos, mas com a desaprovação do então rei,
Afonso IV, o avô paterno de Fernando.
Após a morte do seu pai Pedro I,
em 1367, tornou-se rei com 21 anos. Herdou um reino em paz e com o erário
público cheio.
Fernando, como bisneto de D.
Sancho IV de Castela, através da avó paterna, Beatriz, envolveu-se em três
guerras contra o país vizinho, disputando o trono de Castela.
Em 1378, deu-se o grande cisma
do Ocidente. Portugal alternava entre o papa de Roma e o papa de Avinhão.
Estas alianças que eram desfeitas contribuíram para o cognome “o Inconstante”.
No seu reinado de 16 anos, a
nobreza adquiriu grande influência, em particular o conde de Barcelos, João
Afonso Telo de Meneses, tio de Leonor Teles.
O rei apaixonou-se por D. Leonor
Teles de Menezes, já casada com João Lourenço da Cunha.
O primeiro casamento de D. Leonor
foi anulado. Os rumores do casamento do rei, valeu-lhe forte contestação
interna, levando a população de Lisboa à revolta. O rei fingiu que iria ouvir
os revoltosos, mas D. Fernando fugiu de Lisboa e casou com ela, em Maio de 1372,
no Mosteiro de Leça do Balio. A propriedade pertencia na altura à Ordem
do Hospital, sendo o prior, Álvaro Gonçalves Pereira, conselheiro do rei e
pai de Nuno Álvares. Quando voltou à capital, a revolta foi reprimida e os
cabecilhas executados.
A rainha acabou por ser bastante
impopular por culpa da repressão. O casamento não foi bem recebido pelo povo e
sendo de uma família nobre muito influente, a política do rei ia no sentido de
agradar à nobreza, contribuindo ainda mais para a impopularidade da rainha.
Deste casamento, nasceu a filha
Beatriz, que casou com o rei de Castela, em 1383. Esta situação colocava o país
em risco.
Quando começou a reinar, a Europa
tinha passado pela peste negra vinte anos antes, matando boa parte da
população; isto causou uma quebra na mão-de-obra, aumentou o custo de vida e os
salários. A população migrava do campo para a cidade, procurando melhores
condições.
O início do reinado de D.
Fernando foi marcado pela política externa. Dois anos após ser rei, em 1369, D.
Pedro I de Castela, primo direito de Fernando, morreu sem deixar herdeiros
masculinos. Este rei foi morto por D. Henrique de Trastâmara, irmão bastardo de
Pedro, que se havia declarado rei. Isto foi motivo para começar a guerra com
Castela.
Foram feitas alianças com a
Inglaterra, como consequência das guerras contra Castela. As alianças foram
feitas em 1372, com o Tratado de Tagilde, e em 1380, o Tratado de
Estremoz. Nessas alianças, o rei apoiava a pretensão de João de Gante,
casado com Constança, a filha mais velha de Pedro I de Castela. Estas alianças
colocaram o país no cenário da guerra dos cem anos.
Internamente, houve algumas
reformas, como a Lei das Sesmarias, e a construção ode novas muralhas em
Lisboa, Porto e de Évora. A construção da nova muralha de Lisboa deu-se entre
1373/75. A cidade tinha crescido imenso desde o último século e parte estava extramuros.
Foi um reinado de crise
administrativa, política e social, mas não de crise económica.
Tal como Henrique, Fernando
também era bisneto de Sancho IV, mas
por via legítima. Ocorre assim a primeira guerra (1369/70), sem resultados.
Portugal tinha como aliado o reino de Aragão e o reino de Granada. O rei
prometeu casar com a filha do rei aragonês, de nome Leonor. Acabou por desfazer
o noivado.
O tratado de paz de 1371 foi
feito com intervenção do papa, na altura Gregório XI. Entre os pontos assentes
em 1371, no Tratado de Alcoutim, D. Fernando é prometido a D. Leonor de
Castela, que ainda não tinha 10 anos. Este noivado foi quebrado pelo rei que
preferiu uma terceira Leonor, nobre portuguesa.
Em 1372, foi redigido o Tratado
de Tagilde. O rei aliou-se ao duque de Lencastre, apoiando a pretensão
deste ao trono de Castela. Portugal foi assim envolvido na guerra dos cem anos.
Iniciou-se, então uma segunda guerra que durou um ano. Em 1373, foi confirmado
aquele tratado com rei de Inglaterra, Eduardo III.
Quando se dá o grande cisma do
Ocidente, Portugal alinhou de início com Roma, em 1378/79. Estando em paz
com Castela e tendo esta preferido o papa de Avinhão, o rei seguiu o vizinho
(1379/81). Quando a aliança com a Inglaterra foi renovada, alinhou novamente com
Roma (1381/82).
Em 1381, deu-se a terceira
guerra, vindo a Portugal uma expedição inglesa comandada pelo conde de
Cambridge. Em 1382, terminou a última guerra com Castela, pelo Tratado de
Elvas. Com este tratado, nova mudança para Avinhão (1382/83). Um ano
depois, para reforçar a paz e a nova aliança, estipula-se que a única filha
legítima de D. Fernando, D. Beatriz de Portugal, case com o rei D. João I de
Castela, no Tratado de Salvaterra de Magos. Esta opção punha em risco a
independência de Portugal e não foi bem recebida pelas classes mais baixas do
país.
Após a paz com Castela, terminada
a guerra, dedicou-se D. Fernando à administração do reino, mandando reparar
muitos castelos e construir outros, e ordenou a construção de novas muralhas em
redor de Lisboa e do Porto e outras localidades, entre 1373/75. Foi também
feita uma reforma na administração pública e legislação contra abusos
senhoriais, em 1374. Com vista ao desenvolvimento da agricultura, promulgou a Lei
das Sesmarias, em 1375. Através desta lei, impedia-se o pousio nas terras
susceptíveis de aproveitamento e procurava-se aumentar o número de braços
dedicados à agricultura. Quem beneficiou com esta medida foram os proprietários
ricos. Os salários foram tabelados e o trabalho tornou-se obrigatório, levando
a um mal-estar entre os trabalhadores.
Durante o reinado de D. Fernando
alargaram-se, também, as relações mercantis com o estrangeiro, com a presença
em Lisboa de numerosos mercadores de diversas nacionalidades. O comércio
externo enriquecia o rei e os mercadores. O desenvolvimento da marinha foi, por
tudo isto, muito apoiado, tendo o rei tomado várias medidas dignas de nota,
tais como: autorização do corte de madeiras nas matas reais para a construção
de navios a partir de certa tonelagem; isenção total de direitos sobre a
importação de ferragens e apetrechos para navios; e isenção total de direitos
sobre a aquisição de navios já feitos. Muito importante, sem qualquer dúvida,
foi a criação, em 1380 da Companhia das Naus, da qual o rei era o
principal quotista e na qual todos os navios tinham que ser registados, pagando
uma percentagem dos lucros de cada viagem para a caixa comum. Serviam depois
estes fundos, para pagar os prejuízos dos navios que se afundassem ou sofressem
avarias.
A partir do casamento, D. Leonor
Teles tornara-se cada vez mais influente junto do rei, manobrando a sua
intervenção política nas relações exteriores. Aparentemente, D. Fernando mostrava-se
incapaz de manter uma governação forte e o ambiente político interno ressentiu-se
disso, com intrigas constantes na corte.
Quando D. Fernando faleceu em
1383, a linha dinástica de Borgonha chegou ao fim. Leonor Teles foi nomeada
regente em nome da filha, mas a transição não seria pacífica. O rei João I de
Castela proclamou-se rei de Portugal, quebrando assim os termos do acordo de
Salvaterra. Respondendo aos apelos de grande parte dos portugueses para manter
o país independente, D. João, mestre de Avis e irmão bastardo de D. Fernando, foi
aclamado em Lisboa, como Regedor e Defensor do Reino. O resultado foi a
crise de 1383/1385, um período de interregno, onde o caos político e social
dominava.
D. João tornou-se no primeiro rei
da Dinastia de Avis em 1385.
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