Foi um dos mais bem-sucedidos artistas de origem
caribenha da história, sendo apelidado de Rei do Calypso por popularizar
o ritmo caribenho nos Estados Unidos na década de 1950.
Durante a sua carreira, foi um radical activista
político, envolvido em lutas pelos direitos civis e diversas causas
humanitárias.
Belafonte nasceu no Harlem, o bairro negro
pobre da cidade de Nova Iorque e, na infância, viveu na Jamaica, país natal de
sua mãe.
De volta aos Estados Unidos, fez o colegial numa
escola pública da cidade e serviu na Marinha durante a 2ª Guerra
Mundial.
No fim dos anos 1940, começou a ter aulas de Arte
Dramática junto com Marlon Brando, Tony Curtis e Sidney Poitier, enquanto
trabalhava junto ao teatro negro americano.
Anos depois, receberia um Prémio Tony pelo seu
trabalho nos palcos da Broadway.
Belafonte iniciou a sua carreira na música como cantor
em night-clubs de Nova Iorque para pagar as suas aulas de Actor.
O seu repertório misturava o pop com o folk ianque,
pelo qual se interessou ao voltar da guerra.
Em 1952, conseguiu um contrato de gravação com a
empresa RCA Victor e, quatro anos depois, o seu álbum “Calypso”
explodiu nas paradas norte-americanas, sendo o primeiro LP a vender mais
de um milhão de cópias no país. Foi este disco que apresentou o calypso
ao público local e o consagrou como “Rei”, apelido pelo qual ele tinha
fortes reservas.
Durante os anos sessenta, além de ganhar dois prémios Grammy
e 6 discos de ouro, introduziu diversos novos artistas junto do público dos
Estados Unidos, nomeadamente a cantora sul-africana Miriam Makeba, com quem
gravou diversas músicas antiapartheid, e um de seus álbuns de sucesso,
de 1962, traz a primeira gravação registada de um jovem tocador de harmónica
chamado Bob Dylan.
Com a chegada dos Beatles aos Estados Unidos e
a invasão do rock inglês nas paradas musicais, o sucesso de Belafonte começou a
diminuir.
Mesmo sem o mesmo status de astro dos primeiros
anos, ele continuou a fazer grandes shows pelo país e pelo mundo até 2003,
quando anunciou a sua retirada dos palcos.
Harry Belafonte foi o primeiro afro-americano a
receber um Prémio Emmy do Primetime, o “Oscar” da
televisão, pelo seu show especial de televisão “Tonight with Belafonte”,
em 1959.
No cinema, o seu primeiro sucesso foi em “Carmen
Jones”, de Otto Preminger, ao lado de Dorothy Dandridge, a mais conhecida actriz
negra da sua época.
Apesar de estrelar diversos filmes, insatisfeito com
os papéis que lhe vinham sendo oferecidos, resolveu dedicar-se mais à carreira
musical, abandonando o cinema no começo dos anos 1970, ao qual só
voltaria no meio dos anos 1990 para trabalhar com John Travolta e Robert
Altman.
Belafonte sempre foi reconhecido como um dos grandes activistas
políticos dos Estados Unidos e dos mais radicais. Apesar de famoso nas artes,
isto nunca lhe protegeu da discriminação racial, especialmente no sul do país,
onde recusou apresentar-se entre 1954 e 1961. Neste período, como muitos
outros, foi colocado na Lista Negra pelo Macartismo, tendo
dificuldades para trabalhar.
Grande seguidor do Movimento dos Direitos Civis
e um dos confidentes de Martin Luther King, levantou milhares de dólares para
libertar sob fiança centenas de manifestantes presos e foi um dos organizadores
da famosa Marcha sobre Washington.
Em 1968, ele e a sua amiga, a cantora Petula Clark,
protagonizaram uma cena pioneira na TV norte-americana, num programa
especial da cantora britânica na rede NBC. Durante a gravação, enquanto
cantavam juntos e sorriam um para o outro, Petula, branca, segurou por
instantes nos braços e ombros de Harry, levando o patrocinador, a marca de
automóveis Plymouth, a querer retirar a cena da edição final, por medo
da reacção do público. Petula recusou-se, ameaçando impedir a transmissão do
programa todo, pois ele era de sua propriedade (“The Petula Clark Show”)
e a questão, entre a gravação e a exibição provocou grande discussão na
imprensa. Quando o show foi finalmente transmitido, sem cortes, provocando
grandes índices de audiência, mostrava pela primeira vez na história duas
pessoas de cores diferentes tendo contacto físico carinhoso durante uma
transmissão de televisão.
Em 1985, foi um dos organizadores do grupo de artistas
que gravou a famosa música “We Are the World” que vendeu milhões de
cópias em todo mundo e ganhou um Prémio Grammy, e apresentou-se ao vivo
no super concerto Live Aid; em 1987, foi nomeado embaixador da boa
vontade da Unicef. Nesta função, foi ao Ruanda e à África do Sul,
levantando fundos de ajuda e denunciando a miséria, exploração e racismo
existente em grande escala no continente africano.
Desde o começo da carreira, foi um feroz crítico da
política externa ianque e, a partir dos anos 1980, começou a fazer
declarações polémicas aos meios de comunicação, defendendo o fim do embargo
económico a Cuba, elogiando as iniciativas de paz da ex-União Soviética,
condenando a invasão de Granada, honrando a memória do Casal Rosenberg e
elogiando Fidel Castro.
Harry Belafonte chamou a atenção pelos seus
comentários políticos contra o governo Bush e a Guerra do Iraque. Sendo
um dos primeiros artistas a apoiar publicamente o jornalista e documentarista
Michael Moore na sua cruzada cívica contra a eleição de George H. W. Bush e a
invasão do Iraque; um de seus comentários mais ácidos foi feito durante uma
entrevista a uma rádio de San Diego, quando acusou, usando palavras de um de
seus mentores ideológicos, Malcolm X, os então secretários de Estado dos
Estados Unidos, Colin Powell e Condoleezza Rice, de serem usados como serviçais
úteis do governo branco e direitista de George Bush. Rice respondeu, através do
programa da jornalista Amy Goodman, Democracy Now, «que não precisava que
Harry Belafonte lhe ensinasse o que era ser negra nos Estados Unidos».
Belafonte faleceu em 2023 em Manhattan, Nova Iorque,
devido a insuficiência cardíaca congestiva.
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