sábado, 3 de abril de 2010

EFEMÉRIDEAristides de Sousa Mendes do Amaral e Abranches, diplomata português, faleceu em Lisboa no dia 3 de Abril de 1954. Nascera em Cabanas de Viriato, em 19 de Julho de 1885. Cônsul de Portugal em Bordéus quando da invasão da França pela Alemanha nazi, ele desafiou ordens expressas do Ministro dos Negócios Estrangeiros, António de Oliveira Salazar (cargo ocupado em acumulação com a chefia do Governo) e concedeu 30 mil vistos de entrada em Portugal a refugiados de todas as nacionalidades que desejavam fugir de França. Aristides de Sousa Mendes salvou assim do Holocausto milhares de pessoas.
Aristides instalara-se em Lisboa em 1907, após se ter licenciado em Direito na Universidade de Coimbra, enveredando então pela carreira diplomática. Ocupou diversas delegações consulares portuguesas pelo mundo fora, entre elas: Zanzibar, Brasil e Estados Unidos da América.
Em 1929 foi nomeado Cônsul-geral em Antuérpia, cargo que ocupou até 1938. O seu empenho na promoção da imagem de Portugal não passara despercebido. Foi condecorado por duas vezes por Leopoldo III, rei da Bélgica, que o fez oficial da Ordem de Leopoldo e comendador da Ordem da Coroa, a mais alta condecoração belga. Durante o período em que viveu na Bélgica, conviveu com personalidades ilustres, entre as quais o escritor Maurice Maeterlinck, Prémio Nobel da Literatura, e o cientista Albert Einstein, Prémio Nobel da Física.
Depois de quase dez anos de serviço na Bélgica, Salazar nomeou-o Cônsul em Bordéus, lugar que ainda ocupava quando deflagrou a Segunda Guerra Mundial e as tropas de Hitler avançaram rapidamente sobre a França.
Através de uma circular, Salazar ordenou aos cônsules portugueses espalhados pelo mundo que recusassem conceder vistos às seguintes categorias de pessoas: «estrangeiros de nacionalidade indefinida, contestada ou em litígio; apátridas; judeus…».
Entretanto, o governo francês refugiou-se temporariamente em Bordéus, fugindo de Paris antes da chegada das tropas alemãs. Milhares de refugiados, que fugiam do avanço nazi, dirigiram-se igualmente para aquela cidade. Muitos deles afluíram ao consulado português, desejando obter um visto de entrada em Portugal ou para os Estados Unidos.
Em Junho de 1940, Aristides decidiu conceder vistos a todos os que o pedissem: «A partir de agora, darei vistos a toda a gente, já não há nacionalidades, raça ou religião». Com a ajuda dos filhos, de sobrinhos e do rabino Kruger, carimbou passaportes e assinou vistos. Confrontado com os primeiros avisos de Lisboa, terá dito: «Se há que desobedecer, prefiro que seja a uma ordem dos homens do que a uma ordem de Deus».
Visto que Salazar tomara medidas contra ele, Aristides continuou a sua actividade em Baiona, de 20 a 23 de Junho, no escritório de um vice-cônsul estupefacto e mesmo na presença de dois funcionários fiéis a Salazar. Em 22 de Junho de 1940, a França pediu um armistício à Alemanha nazi. Mesmo a caminho de Hendaye, Aristides continuou a emitir vistos para os refugiados que se cruzavam com ele a caminho da fronteira, apesar de Salazar o ter demitido em 23 de Junho das suas funções de cônsul.
Em 8 de Julho de 1940, Aristides, de volta a Portugal, foi punido pelo governo de Salazar, que o privou das suas funções por um ano, diminuindo em metade o seu salário, antes de o reformar. Para além disso, Sousa Mendes perdeu o direito de exercer a profissão de advogado. A sua carta de condução, emitida no estrangeiro, também lhe foi retirada.
O cônsul demitido e a sua família, bastante numerosa, sobreviveram graças à solidariedade da comunidade judaica de Lisboa, que facilitou a alguns dos seus filhos os estudos nos Estados Unidos. Dois deles, aliás, participaram no desembarque da Normandia.
Ele frequentava, juntamente com familiares, a cantina da assistência judaica internacional.
Em 1945 Salazar felicitou-o hipocritamente por Portugal ter ajudado os refugiados, recusando-se no entanto a reintegrar Sousa Mendes no corpo diplomático.
A sua miséria viria a ser ainda maior: venda de bens, morte da esposa em 1948 e emigração dos filhos, com uma excepção. Aristides de Sousa Mendes faleceu muito pobre, no Hospital dos Franciscanos em Lisboa. Não possuindo um fato próprio, foi enterrado com um hábito franciscano.
Em 1966, o Memorial do Holocausto, situado em Jerusalém, prestou-lhe homenagem atribuindo-lhe o título de “Justo entre as nações”. Já em 1961, haviam sido plantadas vinte árvores em sua memória nos terrenos do Museu Yad Vashem.
Em 1987, dezassete anos após a morte de Salazar, a República Portuguesa iniciou o processo de reabilitação de Aristides de Sousa Mendes, condecorando-o com a Ordem da Liberdade. A sua família recebeu desculpas públicas.
Em 1994 o presidente português Mário Soares descerrou em Bordéus um busto em sua homenagem e uma placa comemorativa colocada no prédio em que funcionava o consulado em 1940.
Em 1995 a Associação Sindical dos Diplomatas Portugueses criou um prémio anual com o seu nome. Em 1998 a República Portuguesa, na prossecução do processo de reabilitação oficial da memória de Aristides de Sousa Mendes, condecorou-o com a Cruz de Mérito a título póstumo.
Em Viena de Áustria, no Vienna International Center, onde estão sediados diversos organismos da ONU, como a Agência Internacional de Energia Atómica, existe um grande passeio pedonal com o nome do ex-diplomata português, denominado “Aristides de Sousa Mendes Promenade”.

1 comentário:

Fátinha disse...

Maravilhada com a historia de vida deste homem. Que pessoa abençoada!!

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