sábado, 29 de fevereiro de 2020

29 DE FEVEREIRO - ANA VIEIRA


EFEMÉRIDE - Ana Vieira, artista plástica portuguesa, morreu em Lisboa no dia 29 de Fevereiro de 2016. Nascera em Coimbra, em 2 de Agosto de 1940. 
Afirmando-se a partir do final da década de 1960, destacou-se no cruzamento das diversas disciplinas artísticas, criando um corpo de trabalho original e inspirador no conjunto da arte portuguesa contemporânea. 
Passou a infância na ilha de S. Miguel, nos Açores. Frequentou a Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, terminando o curso de Pintura em 1965. Foi casada com o pintor Eduardo Nery, mãe de Paula Nery e do arquitecto Miguel Nery.  Ana Vieira viveu e trabalhou em Lisboa. 
Expôs desde 1965, mas a sua primeira mostra individual só acontece em 1968. Intitulada “Imagens Ausentes”, esta mostra deixou claro o interesse de Ana Vieira em superar a dimensão estritamente pictórica do trabalho criativo, investindo em suportes desviantes, em relação ao modelo do quadro pintado. Sintonizado com as tendências conceptuais emergentes, o seu trabalho manifestou-se, desde esse primeiro momento, pela revelação de uma proposta pós-pictural aberta à linguagem dos objectos comuns, tomando como modo preferencial a instalação, para o que iria utilizar uma grande diversidade de materiais e dispositivos, como biombos e elementos em madeira, peças de mobiliário, tecido, vidro espelhado...
Sala de Jantar”, de 1971, pertencente à colecção do CAMJAP, insere-se nesse quadro de transgressão das categorias tradicionais (pintura e escultura). Esta obra veio reiterar a sensibilidade da artista para a criação de simulacros, através dos quais analisava as redes de sociabilidade, afecto e memória, que se estabelecem no espaço doméstico. 
A grande simplicidade das suas obras pode lembrar as sombras de Lourdes Castro ou os espelhos de Michelangelo Pistoletto, mas a sua visão distingue-se claramente de ambos. A percepção visual dos espaços é condicionada por um jogo de transparências, véus, telas, redes e tramas que os envolvem: o observador acaba na posição de voyeur, tentando, por frinchas e buracos, perceber o interior dos ambientes. A maior parte das suas obras não se vêem, espreitam-se…
As referências à casa – das paredes que a encerram às portas e janelas –, são recorrentes na sua obra. Ela cria ambientes: constrói lugares habitados ou desabitados, hospitaleiros ou hostis, ocultos ou desvelados, silenciosos ou plenos de sons que exigem descodificação. Propõe, impertinentemente, corredores mutantes que atravessamos, espaços inquietos e inquietantes que nos expulsam, portas entreabertas que a um tempo mostram e velam, objectos reais ao lado de outros simulados. Levanta paredes que questionam: a segurança e as certezas do abrigo, a distância e a proximidade, a diferença entre o espaço público e o privado, o interior e o exterior. 
Ana Vieira realizou outras experiências, diversificadas, na área da cenografia, como a produção de cenários e figurinos para o teatro (peças de Adolfo Gutkin, Bertolt Brecht e Jean-Paul Sartre).  
Em 1977, Ana Vieira foi uma das participantes na exposição “Alternativa Zero”. Em 1991, recebeu o prémio da AICA/SEC. O Museu de Serralves, no Porto, dedicou-lhe a sua primeira exposição antológica em 1998. Em 2010/2011, o Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, em colaboração com o Museu Carlos Machado, Ponta Delgada, apresentou a maior retrospectiva da carreira da artista.
Faleceu aos 75 anos de idade, num hospital de Lisboa, vítima de cancro. 

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