EFEMÉRIDE
– Mário de Melo dos Santos Barradas, encenador e actor teatral
português, morreu em Lisboa no dia 19 de Novembro de 2009. Nascera em Ponta Delgada, em 7
de Agosto de 1931. Foi uma das figuras mais marcantes do panorama teatral
português, após a Revolução dos Cravos (1974).
Mário
Barradas começou a interessar-se pelo teatro quando estudava no Liceu
Nacional Antero de Quental, em Ponta Delgada.
Entre 1949
a 1954, licenciou-se em Direito na Universidade
de Lisboa e, em 1954, fez a sua primeira encenação com a peça “O Mestre-escola”
de Keita F., um grande poeta da Guiné Conacri, com tradução de Mário Pinto de
Andrade. Entretanto, declamava poemas em diversos locais: Casa dos
Estudantes do Império, Cooperativa dos Trabalhadores de Portugal,
etc.
Em
1956, como militar, partiu para Timor e aí montou também alguns espectáculos,
entre os quais “A Farsa de Mestre Pathelin” de autor anónimo do século
XV.
Em
1962, partiu para Moçambique, onde fundou o Teatro de Amadores de Lourenço
Marques e, até Abril de 1969, montou e interpretou 19 textos de teatro de
Giraudaux, Cervantes, Lorca, Brecht e outros dramaturgos. Exerceu advocacia
nesse período.
Em
Outubro de 1969, com uma bolsa da Fundação Gulbenkian, ingressou – como
aluno – na Escola Superior de Arte Dramática do Teatro Nacional de
Estrasburgo, onde – em 1971 – foi convidado para professor
assistente. Em Junho de 1972,
a convite da Dra. Madalena Perdigão, dirigiu o
espectáculo final dos primeiros alunos da “nova reforma” do Conservatório
Nacional, tendo – a partir de Outubro – passado a dirigir o mesmo conservatório.
Ligou-se
entretanto ao grupo de teatro independente Os Bonecreiros. A partir de
Maio de 1974, iniciou – com Norberto Ávila – a preparação da primeira Companhia
da Descentralização Teatral em Portugal e, em Janeiro de 1975, fundou o Centro
Cultural de Évora, mais tarde Centro Dramático de Évora, com sede no
Teatro Garcia de Resende.
Encenou
entretanto espectáculos em Viana do Castelo, Porto, Braga, Vila Real de Trás-os-montes,
Covilhã, Coimbra, Açores e em diversos outros locais. Dirigiu cursos de
formação de actores em inúmeras localidades do país. Em Évora, fundou – com o
encenador Luís Varela – a Escola de Formação Teatral.
Encenou
e interpretou textos de Aristófanes, Molière, Corneille, Mérimée, Büchner,
Marivaux, Shakespeare, Goldoni, Tchekov, Gil Vicente, Sá de Miranda, Chiado,
Garrett, Raul Brandão, etc. Fundou o Teatro da Malaposta, com José
Peixoto e José Martins.
Foi presidente
do IPAE, indigitado em 1997 pelo professor Manuel Maria Carrilho, cargo
de que se veio a demitir. Foi director da revista “Adágio”. Com a sua
acção, Mário Barradas deu um contributo activo e fundamental para o
desenvolvimento do panorama teatral português durante décadas, razão pela qual
recebeu a Medalha de Ouro da Cidade de Évora, a Medalha de Mérito
Cultural do Ministério da Cultura e, em 1987, foi agraciado pelo presidente
da República com a Comenda da Ordem do Mérito Cultural.
A sua
morte inesperada impediu-o de concretizar o último projecto em que trabalhou
com grande entusiasmo: a encenação de “Troilus e Créssida” de William
Shakespeare, co-produção entre a Companhia de Teatro de Almada, a Companhia
de Teatro do Algarve e a Companhia de Teatro de Braga, cuja estreia
estava prevista para Abril de 2010. Em sua substituição e em sua homenagem, a
peça foi encenada pelo actor e encenador suíço Michel Kullemann, com cenografia
e figurinos de Christian Ratz, cenógrafo francês do Teatro Nacional de
Estrasburgo.
Na autobiografia
que escreveu, pode ler-se o seguinte período, já na parte final: «Duas
últimas observações. Partilho a ideologia marxista-leninista e tenho nojo
daquilo em que Portugal
se está a transformar. Sou um homem de teatro, actor e encenador, mas nunca me
misturei com o que considero o gosto do dinheiro, o facilitismo e a falta de
rigor».
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