EFEMÉRIDE – Patxi Andión, de seu verdadeiro nome Francisco Andión González, cantor, músico, actor e professor espanhol, nasceu em Madrid no dia 6 de Outubro de 1947.
O seu interesse pela música começou no seio da família. A mãe cantava extraordinariamente bem e possuía uma voz excepcional. Foi tentada várias vezes para iniciar uma carreira profissional, mas nunca quis que a sua condição artística saísse do meio familiar. Patxi estreou-se em público aos cinco anos, na Rádio Madrid (Cadena SER), interpretando o papel de menino Jesus numa peça de teatro radiofónico. Durante a adolescência, tocou em diversos grupos de rock. Já nessa época possuía o vozeirão que mais tarde ficaria inconfundível, mas que naqueles tempos lhe trouxeram certas limitações, já que não o deixavam cantar em alguns grupos «por ter voz de negro».
Cedo começou a compor temas em que expressava a sua inquietude cultural, social e política, talvez – como o próprio disse mais tarde – pela ânsia «de estar comprometido com a única coisa com que se podia comprometer: a dúvida.».
O pai, republicano de esquerda, esteve preso durante anos e foi nesse ambiente que se começou a forjar a consciência social e política de Patxi. Esta desenvolveu-se mais tarde, no meio de uma organização revolucionária de esquerda que lutou contra o franquismo. Em consequência desta militância, várias vezes esteve prestes a ser detido pela polícia política do regime, Decidiu passar a fronteira para França onde, ajudado pelos serviços de acolhimento a espanhóis, começou um exílio que o marcaria para toda a vida.
Foi testemunha do Maio de 68 em Paris. Começou então uma vida boémia, cantando em caves do Quartier Latin. Vivia contudo, como os seus colegas de exílio, numa indigência extrema.
Voltou a Espanha para cumprir o serviço militar. Recomeçou a cantar, tendo vários problemas com a Censura até à implantação da Democracia. Deu os primeiros concertos na América Latina, actuando na Argentina, Uruguai, Chile e México.
Em meados dos anos 1970, aproveitou uma oportunidade que lhe surgiu e iniciou nova aventura com a incursão no mundo do cinema. No seu primeiro filme, “O Livro do Bom Amor”, aliou o protagonismo como actor com a composição da banda sonora. A partir daí e durante vinte anos dedicou-se alternadamente à música e ao cinema. A sua carreira de actor granjeou-lhe grande popularidade, inclusivamente junto de pessoas para as quais ele até ali não tinha passado de «um peludo que protestava e gritava». Enquanto isso, gravou alguns discos, de um modo cada vez mais pessoal e exigente, obtendo vários sucessos, como por exemplo com “Amor Primeiro”, que foi nº 1 de vendas em Espanha e em vários outros países. A sua exigência nas letras e o seu inconformismo na música, juntamente com o seu compromisso social, fizeram com que ele escolhesse sempre os caminhos mais difíceis, indo a contra-corrente das conveniências comerciais. «Nunca estou onde me esperam, nem faço o que se espera que eu faça», afirmou.
Patxi passou quatro anos sem editar discos e a sua presença no cinema diminuiu. Com a sua incansável capacidade para aprender, iniciou uma experiência de dois anos e oito meses como “Che” na ópera “Evita”, que obteve grande sucesso. Voltou depois à produção musical e protagonizou algumas séries televisivas.
Durante o tempo em que fez ópera, conseguiu o doutoramento em Sociologia na Universidade Pontifícia de Salamanca. Foi convidado para um seminário na Universidade Complutense, enveredando depois pelo caminho docente e de pesquisa. Foi professor na Faculdade de Ciências da Informação da Universidade Complutense de Madrid; depois, Decano Comissário da Universidade Camilo José Cela; e, desde 1999, Professor Titular no Departamento de Arte da prestigiosa Faculdade de Belas Artes da Universidade de Castilla-A Mancha no campus de Cuenca. Durante os seus primeiros anos na universidade, cantou pouco e, quando o fazia, era em lugares por si escolhidos e com o limite máximo de 100 espectadores.
Deixou de editar discos, se bem que continue a escrever canções. «Cantei numa época em que considerava necessário dizer certas coisas que de outro modo não seriam escutadas pelo grande público, mas isso agora tem menos sentido. Não me sinto na obrigação de o fazer. Quero educar os meus filhos, vê-los dormir e levá-los à escola».
Mesmo assim, em 1999, gravou “Nunca ninguém”, um disco com duas canções inéditas e algumas das suas grandes canções, revistas musical e poeticamente.
Patxi Andión foi revelado em Portugal pelo programa Zip-Zip. Das duas primeiras vezes que tentou cantar em Portugal, a PIDE expulsou-o do país. Ary dos Santos traduziu para português algumas das suas canções, que foram gravadas por Tonicha, ainda antes do 25 de Abril de 1974.
Em Março de 1974, actuou pela primeira vez em Portugal, num Coliseu dos Recreios de Lisboa superlotado. Foi ovacionado, mesmo com agentes da PIDE/DGS a circularem pela sala...
Voltou a Portugal em 2008, para actuar na Figueira da Foz, em Lisboa, no Porto e na Guarda. Declarou então: «Expulsaram-me nos anos 1970, mas o meu coração ficou aqui para sempre». Patxi fala a língua portuguesa fluentemente e sente-se muito ligado à cultura, à história e sobretudo aos portugueses. Colaborou com a fadista Ana Moura no seu terceiro disco.
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