EFEMÉRIDE – Ulrike Marie Meinhof, jornalista, escritora, activista e guerrilheira alemã, mais conhecida como fundadora e integrante da organização armada de extrema-esquerda Fracção do Exército Vermelho (RAF) ou Grupo Baader-Meinhof, actuante na Alemanha Ocidental durante três décadas, nasceu em Oldemburgo no dia 7 de Outubro de 1934. Morreu em Estugarda, em 9 de Maio de 1976.
Presa em Junho de 1972 e acusada de diversos crimes no âmbito das actividades do Grupo Baader-Meinhof, entre eles assaltos, atentados à bomba, assassinatos e formação de organização terrorista, morreu na sua cela da prisão de Stammheim, por enforcamento, em Maio de 1976. A sua morte (suicídio ou assassinato?) é alvo de controvérsias até hoje.
Ulrike mudou-se para Jena com dois anos de idade, juntamente com a família, após o pai, historiador de arte, se tornar director do museu da cidade. O pai morreria de doença cancerosa em 1940, quanto ela tinha cinco anos, fazendo com que a mãe alugasse um dos quartos da casa a uma inquilina, Renate Riemeck, para obter algum dinheiro. Em 1946, após a II Guerra Mundial, as Meinhof, acompanhadas de Renate, que se tornara parte da família, mudaram-se novamente para a cidade natal de Ulrike, Oldemburgo, depois de Jena ter passado para o domínio soviético após a Conferência de Yalta. Oito anos depois, a mãe, que trabalhara como professora após a guerra, também morreu de cancro e Renate assumiu a guarda da adolescente e da irmã mais velha. Historiadora e fervorosa anti-nazi, militante socialista, Renate viria a ter grande influência na formação política de Ulrike.
Completou os estudos secundários em 1955 e foi estudar filosofia, sociologia, pedagogia, literatura e língua alemã em Marburg, onde se envolveu em movimentos reformistas universitários. Em 1957, entrou para a Universidade de Münster e ingressou na União Socialista Alemã de Estudantes, participando nos protestos contra o rearmamento e o envolvimento com armamento nuclear proposto pelo governo de Konrad Adenauer. Os seus autores favoritos eram Jean-Paul Sartre, Herman Hesse, Thomas Mann e Marcel Proust.
Em 1958, filiou-se ao Partido Comunista da Alemanha – então ilegal – e começou a trabalhar na revista “Konkret”, de linha política esquerdista e independente, da qual seria editora-chefe de 1962 a 1964. Casou-se em 1961 com o co-fundador e editor da revista, Klaus Rainer Röhl, e com ele teve duas filhas gémeas, Regina e Bettina. O casamento duraria até ao divórcio em 1968. Em 1962, durante a gravidez, foi-lhe diagnosticado um tumor cerebral. Temerosa, pois os pais tinham morrido de cancro e acreditava ter uma predisposição genética para a doença, decidiu esperar até ao parto para realizar a operação, temendo que ela pudesse afectar o desenvolvimento e o nascimento das filhas. O tumor foi depois retirado e diagnosticado como benigno.
A morte do estudante Benno Ohnesorg, durante manifestações estudantis e de exilados iranianos durante a visita do Xá Reza Pahlavi a Berlim, em 1967, e a tentativa de assassinato do líder estudantil e amigo de Ulrike, Rudi Dutschke, no ano seguinte, levaram-na à radicalização. Depois de escrever sobre o julgamento de dois militantes esquerdistas alemães, Andreas Baader e Gudrun Ensslin, processados e condenados por incendiarem duas lojas em Frankfurt, em fins de 1968 ou começo de 1969, abandonou o emprego que tinha e resolveu unir-se aos dois e às suas ideias revolucionárias.
Em Abril de 1970, Baader foi libertado condicionalmente e preso de novo, alguns meses depois, em Berlim. Ulrike, no papel de jornalista que faria algumas entrevistas com Baader para um livro, participou na fuga dele do Instituto para as Questões Sociais – local da entrevista para onde ele havia sido levado sob guarda. A fuga de Baader, que resultou em três policiais feridos, foram notícia de primeira página nos jornais alemães e Ulrike entrou na clandestinidade.
No dia seguinte, cartazes da polícia começaram a aparecer com a fotografia dos dois e os jornais sensacionalistas e de grande tiragem traziam a notícia em grandes manchetes. Uma recompensa de 10 000 marcos foi oferecida pela sua captura.
Nos dois anos que se seguiram, participou em várias acções do grupo, como roubos a bancos e atentados à bomba. Além destas acções, Ulrike escrevia os manifestos da RAF. Com eles, apareceu pela primeira vez o logótipo da organização, uma metralhadora M5 sobre uma estrela vermelha.
Em Outubro de 1971, participou num tiroteio com a polícia em Hamburgo, durante uma tentativa de prisão. Ulrike e um companheiro conseguiram fugir, após um polícia ter sido baleado e morto. Novamente desaparecida, passaram-se mais de seis meses sem notícias suas. Foi presa finalmente em Junho de 1972, com os cabelos curtos o que dificultava o seu reconhecimento.
Após dois anos de audiências preliminares, Ulrike, já então na prisão de segurança máxima de Stammheim junto com os outros líderes da RAF, foi condenada a oito anos de reclusão pela sua participação na libertação de Andreas Baader em 1970. Em Agosto de 1975, ela e os seus companheiros foram acusados de 4 homicídios, 54 tentativas de homicídio e formação de organização criminosa. Entretanto, quando o julgamento ainda decorria, Meinhof foi encontrada enforcada.
Demonstrações de protesto de esquerdistas ocorreram por todo o país e bombas explodiram em Nice, Paris e na base da Força Aérea dos Estados Unidos em Frankfurt.
Ulrike foi sepultada em Berlim, acompanhada de milhares de simpatizantes. O poeta Erich Fried enviou para as cerimónias do funeral um telegrama em que a considerava «a maior mulher da Alemanha desde Rosa Luxemburgo». Algumas décadas após a sua morte, veio à tona a notícia de que o seu cérebro tinha sido retirado pelos patologistas antes do enterro, sem conhecimento da família, e conservado durante 26 anos em formol para estudos num hospital de Magdeburg. Uma das filhas, a jornalista Bettina Röhl, moveu uma acção contra o Estado e o cérebro acabou por ser enterrado em 2002 na sepultura onde estavam os seus restos mortais.
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