segunda-feira, 25 de julho de 2022

25 DE JULHO - MIGU EL ESTEVES CARDOSO

EFEMÉRIDE - Miguel Vicente Esteves Cardoso, crítico, escritor e jornalista português, nasceu em Lisboa no dia 25 de Julho de 1955.

Miguel Esteves Cardoso cresceu no seio de uma família da classe média-alta lisboeta. O pai, de ascendência judaica sefardita, foi oficial capitão-de-mar-e-guerra da Marinha, cavaleiro da Ordem Militar de Avis (29 de Setembro de 1952) e comendador da mesma Ordem a 4 de Outubro de 1961. A mãe era uma inglesa radicada em Portugal, o que proporcionou a Miguel Esteves Cardoso tornar-se bilingue e lhe deu uma espécie de visão distanciada de Portugal e dos portugueses.

Aluno brilhante, Miguel Esteves Cardoso fez os seus estudos secundários na Saint Julian’s School e os superiores fora de Portugal, no Reino Unido. Em 1979, na Universidade de Manchester, licenciou-se em Estudos Políticos. Em 1983 doutorou-se em Filosofia Política, com uma tese que relacionava a saudade e o sebastianismo no Integralismo Lusitano. Posteriormente, voltou a Inglaterra como visiting fellow do St. Antony’s College, em Oxford, fazendo um pós-doutoramento em Filosofia Política, sob orientação de Derek Parfit e de Joseph Raz.

Depois de terminar o doutoramento no Reino Unido, Miguel Esteves Cardoso entrou em 1982 para o Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, como investigador auxiliar.

Pouco depois ingressaria no Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa da Universidade de Lisboa, como professor auxiliar de Sociologia Política. Foi igualmente co-fundador do Gabinete de Filosofia do Conhecimento.

Nas duas instituições foi contemporâneo de outros sociólogos conhecidos pela sua participação na vida pública: António Barreto, Vasco Pulido Valente e Maria Filomena Mónica.

No ano de 1988, porém, Miguel Esteves Cardoso decidiu abandonar a carreira académica, para se dedicar à comunicação social, nomeadamente ao jornal “O Independente”, cuja direcção assumiu.

A partir do contacto estreito com as bandas pós-punk e new wave da editora Factory, tais como Joy Division, New Order, Durutti Column ou The Fall, aquando da sua estada no Reino Unido, «MEC» (como era conhecido pelos fãs) começou por se dar a conhecer como cronista, escrevendo sobre música pop nos jornais “Se7e”, “O Jornal” (actual “Visão”) ou “Música & Som”. Essas crónicas eram avidamente lidas pelos jovens portugueses, em complemento à transmissão da mesma música em programas como “Rock em Stock”, de Luís Filipe Barros, ou “Rotação”, “Rolls Rock” e “Som da Frente”, de António Sérgio, na Rádio Renascença e na Rádio Comercial. Também se dedicou à crítica literária e cinematográfica, no “Jornal de Letras, Artes e Ideias”.

Da imprensa, rapidamente passou a ser presença constante na rádio e na televisão, em parte devido à sua aparência invulgar e desajeitada de jovem intelectual, ingénuo e perverso, e às suas intervenções imprevisíveis, irónicas e irreverentes, às vezes desconcertantes. Na rádio, foi autor e co-autor de diversos programas como “Trópico de Dança”, “Aqui Rádio Silêncio”, W”, “Dançatlântico” e “A Escola do Paraíso”, todos na Rádio Comercial. Também colaborou com Herman José, como guionista do programa “Humor de Perdição”, transmitido pela RTP em 1987.

Estabeleceu polémicas com alguns intelectuais e escritores como Fernando Namora ou Eduardo Prado Coelho.

A convite de Vicente Jorge Silva, tornou-se colaborador do “Expresso”, onde as suas crónicas satíricas “A Causa das Coisas” e “Os Meus Problemas”, conheceram o acompanhamento regular de muitos leitores e o sucesso junto da juventude de classe média.

Já na década de 1990, «MEC» viria a participar em vários talk-shows televisivos, entre os quais o popular “A Noite da Má-Língua” (SIC) onde, semanalmente, sob a moderação de Júlia Pinheiro e na companhia de Manuel Serrão, Rui Zink, Rita Blanco, Alberto Pimenta, Luís Coimbra, Constança Cunha e Sá e Graça Lobo, eram satirizadas figuras e situações da vida pública portuguesa e internacional.

No final dos anos 1990, por motivos que nunca revelou, Miguel Esteves Cardoso abandonou subitamente os ecrãs televisivos, tornando-se mediaticamente invisível durante bastantes anos. Só voltaria a partir de 2017-2018, com o programa “Fugiram de casa dos seus pais”, na RTP.

Ainda na década de 1980, Esteves Cardoso fundou, com Pedro Ayres Magalhães, Ricardo Camacho e Francisco Sande e Castro, a Fundação Atlântica, uma das primeiras editoras independentes portuguesas, produzindo discos de nomes como Sétima Legião, Xutos e Pontapés, Delfins, Paulo Pedro Gonçalves, Anamar e Amigos em Portugal dos Durutti Column. Daria também contributo directo à música pop portuguesa como letrista, com “Alhur”, de Né Ladeiras, e Foram Cardos Foram Prosas(com música de Ricardo Camacho, interpretada por Manuela Moura Guedes).

Monárquico e antieuropeísta convicto, apresentou-se como candidato a deputado ao Parlamento Europeu, em 1987, como independente nas listas do Partido Popular Monárquico, não conseguindo a eleição, mas dando a esse partido o melhor resultado eleitoral de sempre.

Entre finais de 1987 e princípios de 1988, Miguel Esteves Cardoso surgiu envolvido na criação de um projecto jornalístico novo. Tem a seu lado Paulo Portas, Pedro Paixão e Manuel Falcão. Nascia assim o jornal “O Independente”, que tinha como director Miguel Esteves Cardoso, como director-adjunto Paulo Portas e como subdirector Manuel Falcão.

A edição do jornal cabia à SOCI - Sociedade de Comunicação Independente, S.A., criada em Fevereiro de 1988 e presidida por Nobre Guedes, e que tinha como accionistas a Cerexport (Nobre Guedes), Joaquim Silveira (da promotora imobiliária SIL), Carlos Barbosa, Miguel Anadia, Francisco e Pedro Fino e Frederico Mendes de Almeida.

O Independente” foi um projecto que influenciou sobremaneira o jornalismo português. Face à imprensa esquerdista que prevalecia na época, assumia-se como um contraponto conservador e elitista, mas simultaneamente libertário e culto. Teve como colaboradores nomes como Agustina Bessa Luís, Vasco Pulido Valente, António Barreto, João Bénard da Costa, Maria Filomena Mónica, Pedro Rolo Duarte, João Miguel Fernandes Jorge, Joaquim Manuel Magalhães, M. S. Lourenço, Maria Afonso Sancho, Leonardo Ferraz de Carvalho, Pedro Ayres Magalhães, Rui Vieira Nery ou Edgar Pêra. Atribuiu uma enorme importância à fotografia, contando com o trabalho de fotógrafos importantes como Inês Gonçalves, Daniel Blaufuks e Augusto Alves da Silva. Enquanto Portas e Helena Sanches Osório faziam estremecer os alicerces do governo de Aníbal Cavaco Silva, com a denúncia semanal e impiedosa de escândalos políticos, «MEC» ocupava-se da parte cultural, no destacável “Vida”; outras vezes, fazia dupla com Paulo Portas em entrevistas a figuras da política e cultura portuguesa.

Em 1991, conforme combinado antes da fundação do jornal, Miguel Esteves Cardoso deixa a direcção de “O Independente” a Paulo Portas, para criar a revista mensal “K”, financiada pela Valentim de Carvalho e pela SOCI, e - mais tarde - por Carlos Barbosa. Apesar da qualidade gráfica e colaborativa, o projecto acabou ao fim de dois anos, vítima da pouca orientação comercial.

Em 1995, com o final do cavaquismo e a saída de Paulo Portas de “O Independente” que trocou a direcção do jornal pela política activa no Centro Democrático Social, iniciou o seu lento declínio, não obstante o regresso de Esteves Cardoso à direcção, em 2000. Com efeito, sairia logo no ano seguinte que o semanário foi comprado e dirigido por Inês Serra Lopes, até ao seu fecho, em 2006.

Em 1987, Esteves Cardoso foi incentivado pela actriz Graça Lobo a integrar-se na Companhia de Teatro de Lisboa, o que o levou à dramaturgia. Publicou então Carne Cor-de-Rosa Encarnada” (encenada por Carlos Quevedo) no Teatro Villaret, “Os Homens” (encenado por Graça Lobo) e traduziu várias peças de Samuel Beckett, das quais é digna de menção “Worstward Ho”, que ficou com o título de “Pioravante Marche”.

Anos mais tarde, intensificou a sua relação com a literatura, o que o faz afastar-se do jornalismo. O seu primeiro romance, “O Amor É Fodido”, publicado em 1994, foi um best-seller, em boa parte devido ao título.

Publicou mais dois romances, “A Vida Inteira” e “O Cemitério de Raparigas”, e continuou a escrever crónicas em jornais, primeiro em “O Independente”, mais tarde no “Diário de Notícias”. Em 1999, criou também um blogue, chamado “Pastilhas”, que abandonou em 2002.

A partir de Janeiro de 2006, retomou a sua colaboração no “Expresso”. Desde 2009, escreve uma crónica diária no “Público”. Em 2013, passou a ser editado pela Porto Editora, que reeditou toda a sua obra. Fez com Bruno Nogueira um programa semanal, de 13 episódios, na RTP 1, “Fugiram de Casa de Seus Pais”, transmitido entre 9 de Dezembro de 2017 e 27 de Fevereiro de 2018.

Casou-se por três vezes, a última das quais em 2000, com Maria João Lopes Pinheiro. Tem duas filhas, Sara e Tristana, do primeiro casamento, a quem os Durutti Column dedicaram um tema com esse título no álbum “Amigos em Portugal”.

Numa entrevista dada em 2006, Esteves Cardoso reconheceu ter tido problemas com álcool e o uso de cocaína, nos frenéticos tempos em que trabalhou no “Independente”. É opositor do Acordo Ortográfico de 1990, gosta de gatos e aprecia a boa gastronomia.

Sem comentários:

Arquivo do blogue

Acerca de mim

A minha foto
- Lisboa, Portugal
Aposentado da Aviação Comercial, gosto de escrever nas horas livres que - agora - são muitas mais...