Joe Berardo é um coleccionador
compulsivo. Desde criança que juntava selos, caixas de fósforos ou postais de
navios que atracavam na sua ilha. A revista “Exame” avaliou a fortuna de
Berardo como a 9ª maior de Portugal, estimando um
valor de 589 milhões de euros.
Em 1985, foi agraciado com o grau
de comendador, pelo qual ficou conhecido, e em 2004, foi elevado a Grã-Cruz
da Ordem do Infante D. Henrique. No ano posterior, foi intitulado como cavaleiro da Ordem Nacional da
Legião de Honra, a mais alta condecoração de França.
Filho de Manuel Berardo Gomes e
de sua mulher Ana Rodrigues, aos 19 anos emigrou para a África do Sul, onde
casou com Carolina da Conceição, com quem tem dois filhos, Renato e Cláudia.
O sentido pelos negócios nasceu
em solo africano. Em 1968, ajudou a criar o grupo Egoli Consolidated Mines
Limited. O grupo - que congregava diversas explorações mineiras de ouro e
de extracção do ouro a partir de recuperação em areias auríferas -
transformou-se numa das 100 maiores empresas sul-africanas.
Na década de 1980, chegou
a presidente do então Bank of Lisbon, agora Mercantile Bank Holdings
do Grupo Caixa Geral de Depósitos.
Em 1989, disse que nunca
regressaria a Portugal, facto que não se confirmou. Foi em 13 de Março de 1985
que recebeu o grau de comendador da Ordem do Infante D. Henrique
entregue pelo então presidente da República, general Ramalho Eanes. Em 4 de
Outubro de 2004, recebeu a Grã-Cruz da mesma Ordem.
Em 2009, a sua fortuna caiu quase
30%, para 618 milhões de euros, devido principalmente à desvalorização das suas
acções no BCP.
Em Portugal, Berardo consolidou o
gosto que desenvolvera na África do Sul como coleccionador de obras de arte. O
economista Francisco Capelo comprometeu-se em dar à colecção, que até então
tinha um conteúdo essencialmente sul-africano, dimensão internacional. Capelo
prometeu fazer de Berardo «o senhor Gulbenkian do século XXI».
Críticos mundiais de arte
defendem aquilo que o jornal inglês “Independent” noticiou: A colecção
de Berardo, uma das melhores colecções privadas da Europa, é superior à de
Guggenheim. O resultado superou as expectativas.
Mais de mil obras de arte estão
expostas no Centro de Artes Casa das Mudas, na Calheta (Madeira). São
solicitadas para integrarem exposições em todo o Mundo, como o Centro
Georges Pompidou, em Paris, a Tate Gallery, em Londres, o MoMA e
Guggenheim Museum de Nova Iorque ou o Museu Rainha Sofia, em
Madrid.
Em Portugal, inaugurou em 1997 o Museu
de Arte Moderna. Em Lisboa negociou com o Governo a instalação da sua colecção
no Centro Cultural de Belém, para a construção de um pólo central para
um museu de arte contemporânea. Depois de, durante mais de dez anos, ter a sua colecção
guardada nas instalações do Centro Cultural de Belém, e após ameaçar
levar a mesma colecção para o estrangeiro, conseguiu que a ministra da Cultura,
Isabel Pires de Lima, aprovasse um protocolo que criou o Museu Berardo de
Arte Moderna e Contemporânea, que foi inaugurado no dia 25 de Junho de
2007.
Lançou uma OPA sobre as acções
do Sport Lisboa e Benfica em 2007. Joe Berardo queria comprar 85% das
acções do clube da Luz, mas apenas obteve a manifestação
de vontade de venda de cerca de 1,5%, desistindo do processo.
Berardo é accionista em várias
empresas, tais como a Portugal Telecom, Millenium BCP e a Empresa
Madeirense de Tabacos.
A figura de Joe Berardo foi relacionada com várias situações
controversas que chegaram aos meios de comunicação social:
- Em 1990, Berardo foi citado na Comissão de Inquérito van
Zyl pela exportação ilegal de cicadáceas, desviando-as
do Transvaal para a ilha da Madeira, tendo declarado o valor das plantas por
menos de um décimo do valor de compra. A mesma Comissão apontou para um
relacionamento próximo entre Berardo e o líder do Apartheid e ministro
dos Negócios Estrangeiros Pik Botha como facilitador destas operações.
- Em 2007, terá aumentado a sua participação no BCP
usando um empréstimo de 1 000 milhões de euros, no contexto de uma “guerra” de
poder com os outros accionistas. São relatadas ligações suspeitas com os bancos
financiadores - BCP do qual era presidente do Conselho de
Remunerações e Previdência, CGD e BES - que o fizeram contra
uma garantia de apenas 75% da colecção Berardo (avaliada em 316 milhões de
euros em 2007).
- Em 2008, o nome de Joe Berardo surgiu na imprensa
relacionado com a especulação imobiliária que terá efectuado na Ria de Alvor,
tendo o preço da Quinta da Rocha passado de 500 mil para 15 milhões de
euros.
- Já em 2009, foi escusado de
regularizar os juros do referido empréstimo de 2007, pela nova administração da
CGD, uma vez que se tal não fosse feito as garantias teriam que ser activadas,
resultando que o banco estatal, dado o veículo
financeiro utilizado, passaria a deter uma participação muito significativa
(10%) do BCP.
- A 1 de Fevereiro de 2012, foi declarado pela Caixa Geral
de Depósitos, pelo Banco Espírito Santo e pelo Banco Comercial
Português que haviam desistido de lhe cobrar o dinheiro que lhes era
devido.
- Em 2019, torna-se público que Joe Berardo deve 980 milhões
de euros à Caixa Geral de Depósitos, Banco Comercial Português e Novo
Banco.
Dado ser um dos maiores devedores da CGD, Joe Berardo
foi chamado no dia 10 de Maio de 2019 a uma Comissão Parlamentar de Inquérito
aos actos de gestão e recapitalização do banco público. Entre 2006 e
2008, a CGD emprestou a entidades na esfera de Berardo - a Fundação
Berardo e a empresa Metalgest - mais de 350 milhões de euros.
Os créditos tinham sido concedidos sem as habituais regras de
prudência da CGD e mesmo com pareceres condicionados (ou mesmo
negativos, no caso da reestruturação de um deles) da Direcção de Risco.
Estes créditos acabariam por entrar em incumprimento. Mais ainda, Berardo pediu
dinheiro emprestado à Caixa para comprar acções do BCP (na
altura, numa luta de poder entre accionistas, com Berardo de um dos lados) e
deu como garantia as próprias acções, que viriam a desvalorizar muitíssimo
devido à crise financeira. As perdas da Caixa viriam a obrigar o Estado
a recapitalizar o banco em 2016 e os contribuintes
portugueses foram chamados a pagar quase 4 mil milhões de euros.
Afirmou Berardo na Comissão que não tem dívidas, que
não tem património e que foi o mais prejudicado em toda essa história. De
facto, existe um parecer da Direcção de Gestão de Risco da Caixa que
indica um cenário problemático para o banco: só foi detectada uma garagem no
Funchal como «património directo do empresário».
Só entre 2015 e 2017, as empresas de Joe Berardo tinham
recebido uma soma superior a 48 milhões de euros em benefícios fiscais.
Confrontado na Comissão Parlamentar pelos
deputados com a ideia de que a Caixa «está a custar uma pipa de massa»
aos contribuintes, Joe Berardo respondeu: «A mim, não!». Esta e outras
frases polémicas despertaram reacções indignadas em geral, desde a Direita
até à Esquerda, passando pelo Centro. Luís Marques Mendes acusou
o empresário de estar a «gozar com o pagode. Não tem um pingo de vergonha».
Perante as declarações que fez na Assembleia da República,
em que afirmou não ter que pagar qualquer dívida aos bancos que lhe emprestaram
dinheiro, José Miguel de Alarcão Júdice ameaçou devolver a condecoração que
recebeu de grande-oficial da Ordem do Infante D. Henrique se o presidente
da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, não tirar os graus de comendador
e Grã-Cruz a Berardo.
A jornalista Helena Garrido é de opinião que não só o
financiamento não deveria ter sido dado, como a CGD não fez tudo o que
podia e devia ter feito para o reaver. Ela comenta que os bancos permitiram que
alguns dos grandes devedores fizessem desaparecer todos os seus activos.
Após a polémica audição de Joe Berardo na Comissão
Parlamentar de Inquérito à Caixa Geral de Depósitos na Assembleia da
República, em 17 de Maio de 2019, a Chancelaria das Ordens Honoríficas
Portuguesas publicitou que o Conselho das Ordens Nacionais,
presidido pela chanceler Manuela Ferreira Leite, abriu um processo disciplinar
a Berardo com vista à sua irradiação da Ordem do Infante D. Henrique,
com a inerente perda das duas condecorações (graus de comendador e Grã-Cruz)
que possui nesta Ordem.
No dia 29 de Junho de 2021, Joe Berardo foi preso por alegada burla qualificada, fraude fiscal e
branqueamento de capitais.
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