
Foi médica obstetra, ginecologista, professora, maçom, benemérita, pacifista, abolicionista, defensora dos animais e humanista.
Pioneira na reivindicação dos direitos das mulheres, presidiu durante mais de vinte anos ao Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas. Nesta qualidade reivindicou para as mulheres o direito a um mês de descanso antes do parto e, em 1912, também o direito ao voto, sendo em 1933 a primeira e única mulher a votar a Constituição Portuguesa, em Luanda, onde então vivia.
De origem humilde e órfã, começou a trabalhar muito novinha na apanha da ameixa e a fazer serviços domésticos nas casas senhoriais de Elvas.
Casou com o sargento Cabete, que a ajudava nos trabalhos caseiros e que a lançou na militância republicana e feminista, incentivando-a também a estudar. Foi assim que, em 1889, com vinte e dois anos, fez o exame da instrução primária e, em 1894, concluiu o curso liceal.
No ano seguinte mudaram-se para Lisboa, onde ingressou na Escola Médico-Cirúrgica, concluindo o curso em 1900 com a tese “Protecção às mulheres grávidas pobres, como meio de promover o desenvolvimento físico das novas gerações”. Especializou-se em obstetrícia e ginecologia, abrindo um consultório na baixa de Lisboa.
Participou activamente na propaganda que antecedeu a mudança de regime em 5 de Outubro de 1910, defendendo ideias progressistas e muito avançadas para a época. Alguns factos ilustram a sua vida pública nestes tempos, com actos simbólicos de cidadania. Por exemplo, em 1910, com duas companheiras, coseu e bordou a bandeira nacional hasteada na implantação da República, na Rotunda, em Lisboa.
Com outras mulheres feministas também importantes, criou e integrou várias organizações, nelas exercendo diversos cargos.
Foi médica e professora do Instituto Feminino de Odivelas (conhecido popularmente por “As meninas de Odivelas”) e regeu a disciplina de “Higiene e Puericultura” na Universidade Popular Portuguesa.
Na experiência docente, caracterizava-se nas teorias pedagógicas com exemplos práticos, que apresentou mesmo em Congressos no estrangeiro (Gand em 1913; Roma em 1923 e Washington em 1925).
Escreveu dezenas de artigos, de temática diversa, essencialmente de carácter médico-sanitário, em que manifestava frequentemente as suas preocupações sociais, apresentando soluções e medidas profiláticas para doenças e epidemias. Fundou e dirigiu a revista “Alma Feminina” (1920/1929) e colaborou em numerosas publicações periódicas.
Benemérita, defendeu sempre as mulheres grávidas e pobres, as crianças e as prostitutas. Era porém bastante conservadora no que respeitava à moda feminina, criticando as saias curtas e recomendando o uso de vestidos até um palmo do chão.
Humanista, aplaudiu o encerramento de tabernas e manifestou-se contra a violência nas touradas, o uso de brinquedos bélicos e outros assuntos que se revelariam temas vanguardistas para a época e que ainda hoje mantêm a actualidade.
Desiludida com a situação política do país com a implantação do Estado Novo, partiu para Angola, onde se dedicou à medicina e se envolveu em polémicas na defesa dos indígenas. Regressou a Lisboa em 1934 já doente e muito fraca, morrendo no ano seguinte.
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