quinta-feira, 20 de outubro de 2011




EFEMÉRIDEJoão de Barros, considerado o primeiro grande historiador português e pioneiro da gramática de língua portuguesa, morreu em Ribeira de Alitém no dia 20 de Outubro de 1570. Nascera em Viseu no ano de 1496.


Filho de um nobre, foi educado na corte de D. Manuel I, no período de maior apogeu dos descobrimentos portugueses. A sua prolífica carreira literária iniciou-se com pouco mais de vinte anos, ao escrever um romance de cavalaria, a “Crónica do Emperador Clarimundo, donde os Reys de Portugal descendem”, dedicado ao soberano e ao príncipe herdeiro D. João. Este último, ao subir ao trono em 1521 como D. João III, concedeu-lhe o cargo de capitão da fortaleza de São Jorge da Mina, na costa da Guiné, para onde ele partiu no ano seguinte. Em 1525 foi nomeado tesoureiro da Casa da Índia, missão que desempenhou até 1528.


A peste negra de 1530 levou-o a refugiar-se na sua quinta da Ribeira de Alitém, próximo de Pombal, vila onde concluiu o seu diálogo moral, “Rhopicapneuma”, alegoria que mereceu louvores do catalão Juan Luis Vives.


Regressado a Lisboa em 1532, o rei designou-o como feitor das Casas da Índia e da Mina – uma posição de grande destaque e responsabilidade, numa Lisboa que era então um empório, a nível europeu, para todo o comércio estabelecido com o Oriente. João de Barros provou ser um administrador capaz e desinteressado, algo raro para a época, como ficou demonstrado pelo surpreendente facto de ter amealhado pouco dinheiro com este cargo (enquanto os seus antecessores haviam adquirido grandes fortunas).


Em 1534, o rei – procurando atrair colonos para se estabelecerem no Brasil com o fim de evitar as tentativas de penetração francesa, dividiu a colónia em capitanias hereditárias, seguindo um sistema que já havia sido utilizado nas ilhas atlânticas dos Açores, Madeira e Cabo Verde, com resultados comprovados. No ano seguinte, João de Barros foi agraciado com a posse de duas capitanias, em parceria com Aires da Cunha – o Ceará e o Pará.


Constituiu a expensas suas uma armada de dez navios e novecentos homens, que zarpou para o Novo Mundo em 1539. Devido talvez à ignorância dos seus pilotos, a frota não atingiu o objectivo pretendido tendo andado à deriva até aportar às Antilhas espanholas. Demonstrando um grande humanismo, talvez incomum para a época, pagou as dívidas dos que haviam falecido durante a expedição. No entanto, isto resultou em graves problemas financeiros para João de Barros, com os quais teve de lidar até ao fim da vida, vendo-se mesmo obrigado a hipotecar parte dos seus bens.


Durante estes anos prosseguiu os seus estudos durante as horas vagas e, em 1540, publicou a “Gramática da Língua Portuguesa” e diversos diálogos morais que a acompanharam, para ajudar ao ensino da língua.


Pouco depois, seguindo uma proposta que lhe havia sido feita por D. Manuel I, iniciou a escrita de uma história que narrou os feitos dos portugueses na Índia – as “Décadas da Ásia”. A primeira década saiu em 1552, a segunda em 1553 e a terceira foi impressa em 1563. A quarta década, inacabada, foi completada por João Baptista Lavanha e publicada em Madrid em 1615, muito depois da sua morte.


Não obstante o estilo fluente e rico da escrita, as “Décadas” mereceram pouco interesse durante a sua vida. É conhecida apenas uma tradução italiana publicada em Veneza (1563). Diogo do Couto foi encarregado mais tarde de continuar esta obra, adicionando-lhe outras décadas. A primeira edição completa surgiu em Lisboa, já no século XVIII (1778 — 1788).


Em Janeiro de 1568 foi vítima de um acidente vascular cerebral e foi exonerado das suas funções na Casa da Índia, recebendo título de fidalguia e uma tença régia do rei D. Sebastião. Morreu na mais completa miséria, sendo tantas as dívidas que os filhos renunciaram ao seu testamento.


Enquanto historiador e linguista, João de Barros merece bem a fama que começou a correr logo após a sua morte. As “Décadas” foram o início da historiografia moderna em Portugal e no Mundo.


Em 1994, João de Barros foi representado em notas do Banco de Portugal de 500 escudos.

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