EFEMÉRIDE – Sir Walter Raleigh, explorador, cortesão, oficial e escritor britânico, foi decapitado na Torre de Londres no dia 29 de Outubro de 1618. Nascera em Hayes Barton, Devonshire, provavelmente em 1552.
Entre 1584 e 1585 fundou, na ilha de Roanoke, o primeiro núcleo de colonização inglesa na América do Norte. Esse núcleo de povoamento desapareceu, entretanto, possivelmente destruído pelos indígenas. Posteriormente foi aprisionado por Jaime I de Inglaterra, vindo a ser condenado à morte.
A família Raleigh era protestante, tendo sido perseguida numerosas vezes durante o reinado de Maria I. Na sua mais famosa fuga, o pai de Raleigh teve que se esconder numa torre para evitar ser morto. Assim, durante a infância, Raleigh desenvolveu ódio contra o Catolicismo, mostrando-se lesto a expressar as suas convicções assim que a também protestante Isabel I subiu ao trono de Inglaterra em 1558.
Graduou-se na Faculdade Oriel em Oxford e, em 1575, matriculou-se na Faculdade de Direito Middle Temple. Até 1575 a sua vida foi um enigma mas, no seu livro “History of the World”, ele faz referência a ter lutado ao lado dos Huguenotes franceses na batalha de Jarnac em 13 Março de 1569.
Entre 1579 e 1583 participou na repressão às chamadas Rebeliões de Desmond. Também esteve presente no Cerco de Smerwick, onde supervisionou o massacre de cerca de 700 soldados italianos e espanhóis que se tinham rendido incondicionalmente. Tornou-se proprietário de terras confiscadas aos rebeldes irlandeses, cerca de 160 km que incluíam as cidades costeiras de Youghal e de Lismore. Isto fez dele um dos principais proprietários de Munster, região histórica do sudoeste da Irlanda. Teve no entanto pouco sucesso em seduzir inquilinos ingleses para se estabelecerem nas suas propriedades.
Durante os dezassete anos que passou como senhorio irlandês, Walter Raleigh fez de Youghal a sua residência ocasional, tendo sido prefeito da cidade entre 1588 e 1589.
Na década de 1590, as propriedades de Raleigh passaram por sérias dificuldades, o que contribuiu para o declínio da sua fortuna. Em 1602 vendeu as terras por uma bagatela.
Raleigh envolveu-se depois com o início da colonização da Virginia mediante uma patente real. Os seus planos na chamada Colónia e Domínio de Virginia (que incluía os estados actuais da Carolina do Norte e da Virginia), na América do Norte, culminaram com um falhanço, mas prepararam o caminho para as subsequentes colónias. As suas viagens foram financiadas por si e por amigos, mas ele nunca obteve um fluxo estável de receitas para começar e manter uma colónia na América. As futuras tentativas de colonização, no início do século XVII, seriam financiadas por uma empresa, a Virginia Company, que foi capaz de angariar os capitais necessários para criar colónias de sucesso.
Raleigh esteve na costa do Brasil quando comandava uma companhia de comércio de escravos e especiarias, além de produtos colectados da floresta amazónica.
Em Dezembro de 1581 regressou a Inglaterra. Em 1585, foi designado Capitão da Guarda, Lorde Guardião das Estanharias de Devon e Cornualha e foi sagrado cavaleiro. No ano da Invencível Armada de 1588, foi nomeado Vice-almirante de Devon, com a responsabilidade de liderar as defesas da costa. Começou então a frequentar a Corte e tornou-se um dos favoritos da rainha Isabel I. Em 1591, casou-se secretamente com Isabel (Bess) Throckmorton, uma das aias de Isabel I, sem a permissão da rainha. O matrimónio foi descoberto e a rainha ordenou a prisão de Raleigh e que Bess fosse expulsa da Corte. Após a sua libertação, retirou-se para Sherborne Lodge. Walter e Bess permaneceram fiéis um ao outro. Decorreram vários anos até Raleigh voltar a ter as boas graças da Rainha.
Em 1594, tomou conhecimento de um mito espanhol que dava conta de uma «grande cidade dourada» que ficava na nascente do rio Caroni. Um ano mais tarde partiu para explorar o que é agora a zona Leste da Venezuela, em busca de Manoa, a lendária cidade em questão. De volta à Inglaterra, Walter publicou em 1596 o livro “The Discoverie of Guiana”, um relato da sua viagem que foi considerado exagerado. Apesar da Venezuela ter depósitos de ouro, não foram encontradas provas de que Raleigh tivesse descoberto alguma mina. De qualquer modo, o livro reforçou a crença sobre a existência de El Dorado.
O livro “El Dorado e o assassinato de Sir Walter Raleigh”, lançado em 2011 pelo professor Paulo R. Sellin, da Universidade da Califórnia, revelou alguns factos até então desconhecidos da história de Raleigh. Sellin construiu uma argumentação convincente para o inocentar das acusações que levaram à sua decapitação em 1618. O pesquisador realizou duas excursões pelo rio Orinoco, seguindo a trilha de Raleigh e usando como guia o seu livro “The Discoverie of Guiana”. Estas viagens convenceram Sellin de que, longe de ser uma fantasiosa mistura de realidade e ficção, o livro de Raleigh era um documento extremamente minucioso e consistente, que permitiu a localização da mina de ouro de Raleigh em Cerro Redondo, perto de Los Castillos de Guayana, na Venezuela. Em vez de um “Raleigh enganoso e intrigante”, Sellin demonstrou que foi o duque de Buckingham quem manobrou para promover a execução de Raleigh sob falsas acusações, visando ficar com o caminho livre para conspirar com potências estrangeiras e ficar com a mina de Raleigh, acusando-o de tê-la inventado para justificar as suas acções contra os interesses espanhóis na Venezuela. O livro reforça a posição de que Raleigh teria sido um dos maiores heróis “elizabetianos”.
Raleigh fez parte também da captura de Cádiz em 1596. Participou igualmente numa viagem aos Açores em 1597. De 1600 a 1603, Raleigh foi Governador de Jersey, uma das Ilhas do Canal, e foi-lhe reconhecido o mérito de ter modernizado as defesas da ilha, incluindo a construção de um forte para proteger Saint Helier.
Foi manifestamente favorecido durante o reinado de Isabel I mas, quando esta morreu (1603), foi novamente preso na Torre de Londres. Mais tarde, nesse mesmo ano, foi julgado por traição devido ao seu suposto envolvimento num complot contra o rei Jaime I. Raleigh conduziu a sua defesa com grande mestria, o que pode explicar a razão pela qual o Rei lhe poupou a vida, apesar de o veredicto ter sido de culpado. Esteve detido até 1616. Enquanto esteve na prisão, escreveu vários tratados e o primeiro volume de “The Historie of the World”, acerca da história antiga da Grécia e de Roma.
Em 1616, foi libertado para conduzir uma segunda expedição à Venezuela. No decurso desta expedição, os homens de Raleigh saquearam a colónia espanhola de San Tomé de Guayana, perto do rio Orinoco. Quando regressou a Inglaterra, o embaixador espanhol Diego Sarmiento de Acuña, conde de Gondomar, exigiu que o rei condenasse Walter Raleigh à morte. O pedido foi atendido e ele foi decapitado. «Despachemo-nos!» disse ele ao carrasco. «A esta hora a febre domina-me. Não quero que os meus inimigos pensem que estou a tremer de medo». Quando o deixaram ver o machado que o ia decapitar, gracejou: «Este é um afiado remédio e também um médico para todas as doenças e misérias». Segundo muitos biógrafos, foram estas as suas últimas palavras enquanto se preparava para a queda do machado: «Ataca um homem ímpar, ataca!». A cabeça foi embalsamada e entregue a sua mulher.
Apesar da sua popularidade ter diminuído bastante depois da morte de Isabel I, a execução foi vista por muitos como desnecessária e injusta. Um dos juízes disse mais tarde: «A justiça em Inglaterra nunca foi tão desacreditada e ferida como com a condenação de Sir Walter Raleigh».
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