EFEMÉRIDE – Andreï Dmitrievich Sakharov, físico nuclear russo, morreu em Moscovo no dia 14 de Dezembro de 1989, vítima de enfarte do miocárdio. Nascera na mesma cidade em 21 de Maio de 1921. Recebeu o Prémio Nobel da Paz em 1975, pela «defesa dos direitos humanos na União Soviética».
Filho de um professor de física e de uma pianista, ingressou na Faculdade de Física da Universidade de Moscovo em 1938, licenciando-se em 1942.
Para ganhar a vida, trabalhou como carpinteiro em Kovrov no Verão de 1943 e, em Setembro do mesmo ano, foi colocado como engenheiro numa fábrica de munições junto da bacia do Volga, onde esteve até 1945.
Começou o doutoramento no Instituto de Lebedev, tendo como professor Igor Tamm, que seria galardoado com o Prémio Nobel de Física em 1958. Terminou a sua tese em 1948 e foi integrado num grupo de pesquisas cuja missão principal era desenvolver as armas nucleares sob a direcção de Tamm. A primeira bomba A soviética foi testada com sucesso em 1949. Em 1953, inventou a bomba de hidrogénio. Até 1962 os seus trabalhos continuaram a ser utilizados para a concepção e realização de armas nucleares.
Em 1960, trabalhou na equipa de Igor Kourtchatov na concepção da “Tsar Bomba”, uma bomba H de 57 megatoneladas. A pedido de Nikita Khrouchtchev, ela foi concebida e testada em apenas quatro meses.
Em 1962, apercebeu-se dos perigos para a humanidade decorrentes da utilização daquelas armas e tentou alertar as consciências. Obteria um sucesso parcial, mais tarde, através da assinatura do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (1968).
Em 1965 reclamou a “desestalinização” do país e do partido. A sua obra “A Liberdade Intelectual na URSS e a Coexistência Pacífica”, publicada no exterior em 1967, deu-lhe um lugar destacado na oposição ao regime. Tal como Solzhenitsyn, a quem apoiou sem esconder o seu desacordo com o romantismo místico do escritor, denunciou violações da Constituição Soviética e dos Direitos Humanos. Nos anos 1970, criou juntamente com outros dissidentes o “Comité para a Defesa dos Direitos do Homem e a Defesa das Vítimas Políticas” e casou-se com a activista dos direitos humanos Yelena Bonner. A sua acção valeu-lhe o Prémio Nobel da Paz.
Com residência fixa em Gorki de 1980 a 1986, só conseguiu a liberdade total de movimentos após a chegada ao poder de Mikhail Gorbachev e a implementação da perestroika e da glasnost, apesar da pressão da opinião pública internacional e de uma greve de fome em 1984. Eram-lhe permitidas viagens regulares a Moscovo, mas este modo de vida degradou-lhe a saúde. Começou a escrever as suas memórias, que lhe foram retiradas por «entrarem no domínio de segredos do Estado». Recomeçou, com a ajuda da mulher, a reescrever as 800 páginas que foram de novo apreendidas.
Na sequência da revisão constitucional de 1989, Andreï Sakharov foi candidato ao Congresso, obteve a investidura na Academia das Ciências e chegou a deputado. Rebelou-se contra a intervenção no Afeganistão e entrou mesmo em rota de colisão com Gorbachev. Morreu em 1989, quando gozava de uma imensa popularidade no seu país.
Entre as honras recebidas contam-se, além do Nobel, o título de Herói do Trabalho Socialista, o Prémio Estaline (1954), o Prémio Lenine e a Medalha Elliott Cresson (1985). Em sua memória, a União Europeia instituiu desde 1988 o Prémio Sakharov, que destaca pessoas ou organizações que lutam pela defesa dos direitos humanos e pela liberdade de expressão.
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