EFEMÉRIDE – Benjamin “Ben” Sinclair Johnson, ex-velocista canadiano, nasceu na Jamaica em 30 de Dezembro de 1961. Foi considerado o homem mais rápido do mundo no fim da década de 1980. Campeão Olímpico durante 48 horas nos Jogos de Seul de 1988, perdeu a medalha de ouro, os recordes e a reputação, ao ser apanhado no mais conhecido caso de doping da história do desporto.
A família Johnson emigrara para o Canadá em 1976, onde se estabeleceu num subúrbio de Toronto. Com talento para o atletismo, Ben foi descoberto no começo da década de 1970 por Charlie Francis, ex-campeão canadiano de 100m.
Sob a orientação de Francis, conseguiu o seu primeiro resultado internacional importante em 1982, chegando em segundo lugar e ganhando a medalha de prata nos Jogos da Comunidade Britânica, realizados em Brisbane, na Austrália.
O ano de 1984 viu Ben Johnson participar nas Olimpíadas de Los Angeles e afirmar-se como um corredor de elite, ao chegar em terceiro lugar na final dos 100m. Repetiu o feito na estafeta 4x100m. Los Angeles foi assim o local do primeiro grande duelo entre Ben e o mais duro rival que, durante quatro anos, seria o seu principal adversário: o até então imbatível norte-americano Carl Lewis. No fim deste ano, ao mesmo tempo que começava a ganhar uma surpreendente massa muscular, Johnson confirmou-se como o principal sprinter do Canadá e fixou o recorde nacional em 10,12.
Em 1985, venceu finalmente Lewis, iniciando uma rivalidade que faria história nos anos seguintes. Em 1986, foi considerado o velocista número um do mundo, derrotando novamente Lewis nos Jogos da Amizade em Moscovo, correndo abaixo dos 10s (9,95).
Quando dos Mundiais de Atletismo de Roma em 1987, a rivalidade entre os dois encontrava-se no apogeu, com Ben a acumular quatro vitórias consecutivas sobre Lewis. Johnson surpreendeu o mundo, não apenas confirmando a sua superioridade, mas pulverizando o recorde mundial da prova com 9s83, quando ninguém ainda era capaz de correr abaixo de 9s93. O resultado transformou Ben Johnson numa celebridade mundial e num sucesso de marketing, passando a cobrar cerca de 500 mil dólares mensais em publicidade e sendo nomeado o Atleta do Ano de 1987 pela agência Associated Press. Recebeu igualmente a Ordem do Canadá.
Após ser vencido por Johnson, Lewis começou a dar justificações para a sua derrota nos órgãos de comunicação social. Primeiro, afirmou que Ben havia feito uma falsa partida; depois, atribuiu a sua derrota a dores no estômago e, finalmente, declarou, sem citar nomes, que «existiam vários atletas que apareciam, vindos não se sabe de onde, e que não achava que eles estivessem a conseguir certos resultados sem a ajuda de drogas». Este foi o começo das manifestações de Lewis pela “limpeza no mundo do atletismo” no tocante ao doping. Os mais cépticos lembraram que Lewis nunca se tinha preocupado com isto até começar a ser vencido por Johnson. Outros salientaram ainda a falta de humildade de Lewis ao não aceitar as derrotas.
Numa entrevista à BBC, Carl Lewis declarou: «Existem atletas que estão competindo dopados e a prova dos 100m será lembrada por muito tempo e não apenas pelos resultados nas pistas». Johnson não demorou a responder: «Quando Carl Lewis ganhava tudo, eu nunca disse nada contra ele e, quando aparecer um atleta que me derrote, também não farei nenhuma acusação». Foi neste estado de espírito e rivalidade assanhada que os dois se confrontaram nos Jogos Olímpicos de Seul.
O ano de 1988 não começara bem para Johnson. Em Fevereiro sofreu o estiramento de um músculo e a lesão agravou-se nos meses seguintes. Por seu lado, em Junho, Carl Lewis venceu o Torneio de Paris com 9,99 e, quando os dois finalmente se reencontraram em Agosto, em Zurique, Lewis venceu com 9s93, enquanto Johnson ficava em terceiro lugar. «A medalha de ouro olímpica será minha! Ben Johnson nunca mais me derrotará!», declarou Lewis.
Pela televisão e no estádio de Seul completamente lotado, milhões de pessoas aguardavam a partida do mais esperado e sensacional duelo de atletismo da época. Ao tiro do árbitro, Johnson pulou como impulsionado por molas e, numa arrancada impressionante, ficou com mais de dois metros de avanço sobre todos os outros competidores até aos 80 m da prova, perdendo depois um pouco de terreno para o segundo colocado, Carl Lewis. Ao cruzar a linha de chegada, com o braço desafiadoramente levantado e o dedo indicador apontado para o alto mostrando quem era o número um, bateu novamente o seu próprio recorde, com a marca de 9s79, deixando o mundo estupefacto e sendo o primeiro homem a correr os 100m abaixo de 9s80, quando nenhum outro ainda conseguia correr a distância em menos de 9s90.
Dois dias depois, Johnson tinha um teste antidoping positivo, era descredibilizado mundialmente, obrigado a devolver a medalha de ouro olímpica, que foi entregue a um sorridente Carl Lewis, e viu todos os seus recordes mundiais anulados. O teste de urina que deixou o mundo perplexo acusou a presença de estanozolol no organismo de Johnson, esteróide banido pelo COI. Johnson foi suspenso do atletismo por dois anos e o seu técnico Charles Francis admitiu que ele usava esteróides desde 1981, sendo também suspenso.
Após cumprir o tempo de suspensão, que passou praticamente em casa com a família e durante o qual perdeu todos os contratos publicitários que o haviam tornado rico, tentou voltar às pistas em 1991 sem conseguir resultados animadores. No ano seguinte, foi novamente apanhado num teste antidoping numa corrida em Montreal e, por ser reincidente, seria banido definitivamente do atletismo e apelidado de “desgraça nacional” pelo Ministro dos Desportos Amadores do Canadá, que sugeriu o seu regresso à Jamaica.
Nos últimos anos, completamente afastado do atletismo, tem estado à frente de um negócio de roupas desportivas. Em 2006 deu uma entrevista em que afirmou ter sido sabotado em Seul e que 40% dos atletas que hoje competem o fazem dopados para aumentar as suas performances.
Sem comentários:
Enviar um comentário