EFEMÉRIDE – José Manuel “Joly” Braga Santos, compositor de música erudita e maestro português, condecorado com a Ordem de Santiago da Espada em 1977, nasceu em Lisboa no dia 14 de Maio de 1924. Morreu, também na capital portuguesa, em 18 de Julho de 1988. Durante a sua vida, que terminou quando estava no máximo da criatividade, escreveu seis sinfonias.
A música, que começou a ouvir aos dois anos de idade, foi a sua primeira forma artística. Gostava que lhe oferecessem instrumentos musicais e o pai, apercebendo-se da sua predilecção pela música, levava-o aos concertos e à ópera.
Aos cinco anos, começou a tocar num violino de brincadeira. O seu apego a este instrumento parecia conduzi-lo a uma carreira de violinista profissional. Na verdade, chegou a estudar violino e composição no Conservatório de Lisboa, onde foi aluno de Luís de Freitas Branco. Provando ser o seu aluno mais talentoso, Joly herdou do mais proeminente compositor da altura a paleta de cores das suas orquestrações. Outra pessoa que muito contribuiu para a sua formação foi o maestro Pedro de Freitas Branco, que deu a conhecer a obra de Braga Santos em todo o mundo. O próprio compositor lembrava: «Ele ajudou-me de uma forma espantosa e abriu caminho à formação que mais tarde eu viria a ter.».
Durante a sua juventude, no contexto da guerra mundial de então, não pôde ter um contacto mais próximo com a cultura musical europeia. Joly Braga Santos procurou assim inspiração na tradição portuguesa, especialmente na obra do seu mestre Luís de Freitas Branco. O antigo folclore português e o polifonismo renascentista estão bem presentes neste período, durante o qual compôs as suas primeiras quatro sinfonias. O talento de Joly demonstra-se assim a si próprio, pelo facto das referidas obras terem sido compostas entre os 22 e os 27 anos e serem imediatamente executadas pela Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional. Antes de completar os 20 anos, já ele transpusera para a música textos de Antero de Quental, Fernando Pessoa e Luís de Camões, que voltaria a ser fonte de inspiração da sua “Sexta Sinfonia”. Contudo, na “Quarta Sinfonia”, já tinha usado um poema de Vasconcellos Sobral no seu epílogo, tema que chegou a ser proposto para Hino Mundial da Juventude.
O contacto com a Europa aconteceu com a sua ida para Itália, país onde foi bolseiro em musicologia, composição musical e direcção de orquestra. No seu regresso a Portugal, tornou-se uma figura de destaque na direcção de orquestras e, durante um longo período, deixou de lado a composição. Referia-se a essa fase como um período “sabático”, antes de se dedicar, em 1965, à sua maior criação, a “Quinta Sinfonia”. Esta obra foi o seu último trabalho puramente orquestral, pois a “Sexta Sinfonia” foi composta para coro e soprano. Por esta altura, já ele estava bastante familiarizado com a mudança de estilo musical resultante do período pós-guerra. Braga Santos também catapultou a sua carreira nesse sentido, embora sem nunca perder a qualidade melódica que fez a sua música tão brilhante, misturando-a apenas com um pouco daquela aspereza que aparecia então na música mundial. Neste período, compôs a ópera “Trilogia das Barcas”, baseada em Gil Vicente e estreada em 1970 no Festival da Gulbenkian, constituindo umas das grandes obras de sempre do repertório lírico português.
A música de Joly Braga Santos pode ser vista principalmente como uma fusão dos vários estilos europeus, particularmente da Europa Ocidental. Foi ele próprio quem disse: «Desde sempre entendi que tinha de criar o meu próprio estilo e que a minha música devia ser o resultado dessa criação.» A melodia era, para ele, a razão de ser da música.
Além da vasta obra musical, Braga Santos pertenceu ao Gabinete de Estudos Musicais da Emissora Nacional, foi Director da Orquestra Sinfónica do Porto, Maestro Assistente e de Captação da Orquestra Sinfónica da RDP, professor de Composição do Conservatório Nacional de Lisboa, crítico e articulista, entre outros, do “Diário de Notícias” e fundou ainda a Juventude Musical Portuguesa.
O musicólogo João de Freitas Branco, autor da obra de referência da história da música portuguesa, salientou a generosidade cultural do maior sinfonista português: «Ele é o inverso do artista que se dirige apenas a minorias privilegiadas. Ele queria que muitas pessoas viessem a usufruir da sua arte.». Comunicar para ele era essencial, contribuindo para isso o seu espírito aberto. Pai de uma família muito unida, adorava as suas filhas, a quem chamava as suas “pequeninas maravilhas”.
Foi eleito pela UNESCO como um dos 10 melhores compositores da música contemporânea de então.
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