EFEMÉRIDE – Rafael Augusto Prostes Bordalo Pinheiro, desenhador, aguarelista, ilustrador, decorador, caricaturista, jornalista, decorador e ceramista português, morreu em Lisboa no dia 23 de Janeiro de 1905. Nascera, também em Lisboa, em 21 de Março de 1846. O seu nome está intimamente ligado à caricatura portuguesa, à qual deu um grande impulso, imprimindo-lhe um estilo muito próprio. É autor da representação popular do “Zé-povinho”, que se tornaria um símbolo do povo português. O Museu Rafael Bordalo Pinheiro, em Lisboa, reúne a sua obra.
Começou por tentar ganhar a vida como artista plástico, apresentando pela primeira vez trabalhos seus numa exposição promovida pela Sociedade Promotora de Belas-Artes em 1868. Em 1871, recebeu um prémio na Exposição Internacional de Madrid. Paralelamente, foi desenvolvendo a sua faceta de ilustrador e decorador.
Em 1875, criou a figura do Zé-povinho, publicada no jornal “A Lanterna Mágica”. Nesse mesmo ano, partiu para o Brasil, onde colaborou em alguns jornais, enviando também colaboração para Lisboa. Voltou para Portugal em 1879, tendo lançado o jornal “O António Maria”.
Deixou um legado iconográfico verdadeiramente notável, tendo produzido dezenas de litografias. Compôs inúmeros desenhos para almanaques, anúncios e revistas estrangeiras, como “El Mundo Cómico”, “Ilustrated London News”, “Ilustración Española y Americana”, “L'Univers Illustré” e “El Bazar”.
Começou a fazer caricaturas por brincadeira, desenhando – com a ponta de charutos – as figuras de alguns dos seus professores. Desenvolveu a sequência narrativa figurada, precursora da banda desenhada. Dotado de um grande sentido de humor, mas também de uma crítica social bastante apurada, caricaturou todas as personalidades de relevo da política, da igreja e da cultura portuguesas. Apesar da crítica demolidora de muitos dos seus desenhos, as suas características pessoais e artísticas conquistaram a admiração e o respeito do público, que tiveram expressão notória em Junho de 1903, num grande jantar em sua homenagem realizado no Teatro Nacional D. Maria II, que de forma inédita congregou à mesma mesa praticamente todas as figuras que ele tinha caricaturado.
Na sua figura mais popular, o Zé-povinho, conseguiu projectar a imagem do povo português, de uma forma simples mas simultaneamente fabulosa, atribuindo um rosto ao nosso país. O Zé-povinho continua, ainda hoje, a ser retratado e utilizado por diversos caricaturistas para revelar de uma forma humorística os podres da sociedade.
Experimentou trabalhar o barro em 1884, tendo começado a produção de louça artística na Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha. Recebeu igualmente dezenas de encomendas para a decoração de palacetes: azulejos, painéis, frisos, placas decorativas, floreiras, centros de mesa, bustos, molduras, etc. Embora a fábrica não se tenha revelado um grande negócio, trabalhos seus conquistaram vários prémios em Madrid, Antuérpia, Paris e St. Louis, nos Estados Unidos.
Durante cerca de 35 anos (1870/1905), foi a alma de todos os periódicos por onde passou, quer em Portugal quer no tempo que trabalhou no Brasil. Vivendo numa época caracterizada por crises económicas, financeiras e políticas, soube manter uma indiscutível independência face aos poderes instituídos, nunca calando a sua voz, demonstrando isenção de pensamento e praticando o livre exercício de opinião. Esta atitude trouxe-lhe tal apoio público que, apesar de várias tentativas, a censura nunca conseguiu silenciá-lo.
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