EFEMÉRIDE – Tsutomu Yamaguchi, japonês que sobreviveu aos dois bombardeamentos atómicos sofridos pelo Japão no fim da Segunda Guerra Mundial, em Hiroshima e Nagasaki, morreu no dia 4 de Janeiro de 2010, vítima de cancro no estômago. Nascera em 16 de Março de 1916. Apesar de se saber que cerca de outras 160 pessoas atingidas pelas duas bombas também sobreviveram, Yamaguchi é o único reconhecido oficialmente pelo governo japonês como “duplamente sobrevivente”.
Yamaguchi encontrava-se em viagem de serviço em Hiroshima na manhã de 6 de Agosto de 1945, quando a cidade sofreu o primeiro bombardeamento atómico da história mundial. Ferido e com queimaduras na parte superior do corpo, passou a noite num abrigo antiaéreo da cidade e, no dia seguinte, foi procurar tratamento na cidade onde morava, Nagasaki. Dois dias depois, sofreu as consequências de um segundo bombardeamento, sobrevivendo mais uma vez. Dezenas de milhares de sobreviventes de Hiroshima e de Nagasaki morreram nas décadas seguintes, após doenças cancerosas, uma das consequências da contaminação do organismo pela radiação atómica.
Tsutomu Yamaguchi ingressara na Mitsubishi nos anos 1930, trabalhando como desenhador em projectos de navios petroleiros. Tinha como domicílio a cidade de Nagasaki, mas por motivos profissionais fora para Hiroshima no Verão de 1945. Depois de uma permanência de três meses, tinha previsto o regresso a casa para o dia 6 de Agosto. Às 8:15, o bombardeiro americano “Enola Gay” lançou a primeira bomba atómica sobre o Japão, que caiu a 3 km de distância do local onde Yamaguchi se encontrava. Ao contrário de outras 140 000 pessoas, que também estavam em Hiroshima naquele momento, Yamaguchi sobreviveu ao bombardeamento. A explosão rompeu-lhe os tímpanos e cegou-o temporariamente. O calor da explosão fez-lhe queimaduras graves. Voltou a Nagasaki, onde recebeu tratamento aos ferimentos e, apesar de não estar bem fisicamente, apresentou-se no trabalho em 9 de Agosto. Às 11 horas desse dia, enquanto descrevia o que se tinha passado ao seu supervisor, o bombardeiro americano “Bockscar” lançou a segunda bomba, a “Fat Man”. Yamaguchi, desta vez, não sofreu ferimentos devido à explosão e sobreviveu de novo, ao contrário de outras 90 000 pessoas. Com a destruição de Nagasaki, reduzida a ruínas, Yamaguchi não pôde tratar mais dos seus ferimentos e esteve com febre alta durante mais de uma semana.
Após o fim da guerra, trabalhou como tradutor e professor. Anos mais tarde, voltaria à Mitsubishi.
Já com cerca de oitenta anos, escreveu um livro sobre as experiências vividas e foi convidado para participar num documentário realizado em 2006. O filme, “Twice Survived: The Doubly Atomic Bombed of Hiroshima and Nagasaki”, foi exibido na Organização das Nações Unidas. Nele, Yamaguchi defendeu a abolição das armas nucleares.
Em Janeiro de 2009, requereu ao governo japonês o reconhecimento oficial do que lhe tinha acontecido, o que foi feito em Março, ou seja 64 anos depois do ocorrido. Passou então a ser considerado como um “hibakusha”, um “sobrevivente das radiações”. Foi este facto que transformou Yamaguchi na única pessoa oficialmente reconhecida como sobrevivente de ambos os ataques. Falando sobre este reconhecimento, Yamaguchi afirmou: «A minha exposição à radiação dupla está agora num registo oficial. Podem contar às gerações mais jovens como foi o horror dos bombardeamentos atómicos, mesmo depois de eu morrer».
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