EFEMÉRIDE – Dolores Duran, de seu verdadeiro nome Adiléia Silva da Rocha, cantora e compositora brasileira, nasceu no Rio de Janeiro em 7 de Junho de 1930. Morreu na mesma cidade em 24 de Outubro de 1959.
Teve uma infância pobre e não conheceu o pai. Desde pequenina que gostava de cantar e sonhava ser uma cantora famosa. Aos oito anos, contraiu a febre reumática, que quase a ia matando e lhe deixou como sequela um sopro cardíaco. Aos doze anos, influenciada pelos amigos, resolveu – com a autorização da mãe – inscrever-se num concurso de cantores. Surpreendentemente, cantou quase como uma profissional e conquistou o primeiro prémio no programa “Caloiros em Desfile” de Ary Barroso. As apresentações no programa tornaram-se frequentes. Entretanto, aos doze anos, teve de abandonar os estudos, para ajudar a mãe nas despesas de casa. Passou a trabalhar nas rádios Cruzeiro do Sul, nos programas da Tupi e no teatro, além de cantar em programas de TV. Todos estes empregos eram porém temporários, o que não garantia um dinheiro certo.
Adiléia tentou terminar os estudos, ingressando numa escola, mas como as mensalidades iam ficando atrasadas, acabou por ser expulsa. Decidiu dedicar-se inteiramente às canções, embora a mãe lhe dissesse «que os artistas também estudavam e que a fama podia acabar um dia».
No final dos anos 1940, conheceu um casal rico e influente, que já a tinha ouvido cantar e que passou a ajudá-la para se tornar realmente uma cantora profissional. Levavam-na também a diversos lugares chiques, frequentados por famosos. Passaram a chamá-la Dolores Duran, nome artístico porque ficaria a ser conhecida.
Sem nunca ter estudado línguas, aprendeu sozinha a cantar em inglês, francês, italiano, espanhol e até em esperanto. Ella Fitzgerald , durante uma passagem pelo Rio de Janeiro, nos anos 1950, foi à boîte Baccarat, especialmente para a ouvir, e entusiasmou-se com a sua interpretação de “My Funny Valentine”. «A melhor que já ouvi», declarou Fitzgerald.
As suas músicas tornaram-se grandes sucessos. Cantou em diversas salas de espectáculo. A sua fama espalhou-se e foi contratada pela Rádio Nacional, uma das várias rádios cariocas que reuniam artistas do país inteiro e que, na época, só escolhia os melhores cantores.
Dolores Duran nunca estudou canto nem música, mas a sua voz quase não precisava de correcções nem ensaios. Parecia que tinha nascido para cantar. O seu padrasto faleceu, entretanto, e a família enfrentou maiores dificuldades.
Interpretou canções internacionais no programa “Pescando Estrelas”, onde só havia cantoras jovens e conceituadas. Dolores foi-se tornando mais famosa, distribuía autógrafos pela rua, era entrevistada e muito fotografada. Passou a cantar em sofisticadas boîtes e no famosíssimo Hotel Glória.
A sua estreia em disco aconteceu em 1952, com “Músicas para o Carnaval”, em que gravou dois sambas. Em 1953, gravou “Outono” e “Lama”. Dois anos mais tarde, vieram “Canção da volta”, “Bom querer bem”, “Praça Mauá” e “Carioca”. Muitas vezes, de madrugada, criava as suas letras nas mesas de bares, bebendo, fumando e ouvindo canções de outros artistas. Inspirava-se nos seus casos amorosos e na sua vida em geral, nas suas alegrias, tristezas, dores, anseios e mágoas.
Em 1955, foi vítima de um enfarte, tendo passado trinta dias hospitalizada. Dolores resolveu não seguir as restrições que os médicos lhe determinaram, agravando os problemas cardíacos que transportava desde a infância e que se agravavam com o passar do tempo, pois abusava do tabaco (fumava mais de três maços por dia) e da bebida, principalmente vodka e uísque. Com isso, a depressão passou a marcar a sua vida. Mesmo famosa e amada por milhares de fãs, sentia-se triste e buscava refúgio na bebida e no tabaco. Nesse mesmo ano, conheceu o cantor e compositor Macedo Neto, de quem gravou diversos sambas. Rapidamente, passaram a morar juntos. Antes de se casarem, porém, Dolores engravidou e passou por uma gravidez de alto risco que acarretou a sua esterilidade e a perda do feto, interrompendo o seu sonho de ser mãe e agravando o estado depressivo em que vivia. Em 1958, divorciou-se e passou alguns meses na Europa, cantando e apresentando-se com o seu conjunto musical. Actuou também no Uruguai, na União Soviética e na China. Desentendeu-se com o grupo brasileiro que a acompanhava e regressou sozinha, passando por Paris, onde ficou algum tempo fazendo turismo.
De volta ao Brasil, adoptou uma recém-nascida, órfã, pobre e negra, a quem deu o nome de Maria Fernanda da Rocha Macedo e que foi registada por Macedo Neto, apesar de estarem divorciados. Deu-lhe todo o amor e carinho possíveis.
Na madrugada de 23 de Outubro de 1959, depois de um show na boîte Little Club, saiu com o seu último namorado e com os seus amigos para uma festa no requintado Clube da Aeronáutica. Resolveram acabar a noite bebendo e ouvindo canções no Kit Club. A cantora chegou a casa às sete da manhã. Brincou e beijou muito a filha, já com três anos. Em seguida, disse à empregada: «Não me acorde. Estou cansada. Vou dormir até morrer». Já no seu quarto, sofreu um enfarte fulminante que, posteriormente, foi associado a uma dose excessiva de barbitúricos, cigarros e álcool. Desaparecia assim, aos 29 anos, uma talentosa cantora e compositora brasileira. O seu ex-marido criou a filha adoptiva.
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