EFEMÉRIDE – Ferdinand Porsche, engenheiro austríaco, famoso pelos seus projectos inovadores, que influenciaram de maneira determinante praticamente toda a indústria automóvel alemã, nasceu em Maffersdorf, então no Império Austro-Húngaro e hoje na República Checa, em 3 de Setembro de 1875. Morreu em Estugarda no dia 30 de Janeiro de 1951.
Porsche é mais conhecido por ter desenhado o primeiro Volkswagen Käfer (em Portugal, conhecido como “Carocha”) e pelas suas contribuições para os tanques de guerra alemães, modelos Tiger I, Tiger II e Elefant. Foi condecorado por Hitler, em 1937, com o Prémio Nacional Alemão das Artes e Ciências, uma das raras condecorações do Terceiro Reich.
Desde muito jovem, Porsche demonstrou grande aptidão para trabalhos mecânicos. Estudou de noite na Escola Técnica Imperial em Liberec, ajudando o pai na sua loja durante o dia. Finalizado o curso, conseguiu um emprego em Viena quando tinha 18 anos, passando a frequentar a Universidade sempre que podia e de forma clandestina, por falta de recursos. Excluindo as aulas a que assistiu, Porsche não teve nenhuma educação superior em engenharia.
Cinco anos depois, foi trabalhar com o fabricante de carroçarias Jakob Lohner & Co. Ferdinand Porsche sentia-se atraído pela indústria automobilística que nascia e Jakob Lohner começou a construir automóveis em 1896.
O seu primeiro projecto, lançado em 1898, ficou conhecido como “Sistema Lohner-Porsche”, uma carroçaria movida por um motor de combustão interna e com um sistema de direcção híbrido, composto de quatro motores eléctricos montados nas rodas. Foi apresentada na Exposição Universal de Paris em 1900. A carroçaria, que atingia 56 km/h, bateu vários recordes de velocidade na Áustria e também venceu o Rali de Exelberg em 1901, dirigida pelo próprio Porsche. Posteriormente, foi melhorada com motores Daimler e Panhard, mais potentes, que lhe deram outros recordes de velocidade. Mais de 300 carroçarias foram vendidas. Em 1905, Porsche foi agraciado com o Prémio Poetting como o mais destacado engenheiro de automóveis austríaco.
Em 1902, fez o serviço militar. Foi motorista do arquiduque Francisco Fernando, cujo assassinato desencadearia a Primeira Guerra Mundial na década seguinte.
Em 1906, a Austro-Daimler recrutou Porsche como seu projectista chefe. O principal negócio da empresa, porém, era o fabrico de armas de guerra: camiões, canhões motorizados e aviões. Porsche tornou-se gerente da Austro-Daimler em 1916 e recebeu o grau honorífico de doutor, “Dr. techn h.c.”, da Universidade Técnica de Viena em 1917. Porsche continuou a construir automóveis de competição com êxito, ganhando 43 de 53 corridas, com o seu modelo de 1922. No ano seguinte, saiu da Austro-Daimler após divergências sobre os rumos a seguir no desenvolvimento dos automóveis.
Alguns meses depois, começou a trabalhar como director técnico na Daimler Motoren Gesellschaft, em Estugarda. Recebeu outro doutoramento honorífico da Universidade Técnica de Estugarda, pelo seu trabalho na Daimler e, posteriormente, um título honorário de professor. Ainda na Daimler Motoren, desenvolveu diversos projectos de automóveis de corrida, que dominaram as competições nos anos 1920.
Em 1926, a Daimler Motoren Gesellschaft e a Benz fundiram-se na Daimler-Benz e os seus produtos em conjunto passaram a ser conhecidos como Mercedes-Benz. O conceito de Porsche sobre um automóvel Mercedes-Benz pequeno e de baixo peso não teve, entretanto, aceitação da directoria da Daimler-Benz. Saiu da empresa em 1929 e foi para a Steyr. A “Grande Depressão” trouxe porém o colapso da Steyr e Porsche ficou desempregado.
Em Abril de 1931, fundou a sua própria empresa de consultadoria. A equipa de trabalho incluía o filho, Ferry Porsche. O primeiro projecto desta equipa foi o desenho de um carro médio para o fabricante Wanderer. Logo surgiram outros.
Conforme o negócio ia crescendo, Porsche decidiu trabalhar no seu próprio desenho, que era uma reencarnação do pequeno carro que projectara na Daimler-Benz em Estugarda. A fábrica Zündapp decidiu patrocinar o projecto, mas perdeu o interesse após conseguir sucesso com as suas motocicletas. Mais tarde, a NSU também quis patrociná-lo, mas também desistiu devido aos altos custos. Depois disso, ninguém parecia interessado num projecto deste tipo, até que Adolf Hitler incluiu na sua agenda a ideia de motorizar o país e que todos os alemães deveriam ter um automóvel ou um tractor no futuro. Em Junho de 1934, Porsche conseguiu um contrato para construir três protótipos baseados no seu desenho. Os três carros ficaram prontos no Inverno de 1936.
Mais ou menos por essa época, Porsche desenhou um carro de corridas para a Auto Union, a fim de competir com os Silver Arrows da Daimler-Benz. O carro ficou conhecido por “P-Wagen” e foi tanto inovador quanto bem sucedido.
Após a guerra, em Novembro de 1945, Porsche foi solicitado para continuar o desenho do Volkswagen em França e para deslocar a fábrica e os seus equipamentos para aquele país como “reparações de guerra”. Diferenças de opinião dentro do governo francês e objecções da indústria automobilística francesa fizeram abortar o processo antes dele se iniciar. Ferdinand e Ferry Porsche acabaram por ser presos como criminosos de guerra em Dezembro de 1945. Ferry foi libertado, mas Ferdinand foi mantido numa prisão em Dijon durante 20 meses sem julgamento.
Enquanto Ferdinand esteve preso, Ferry mantinha a empresa em funcionamento. Um contrato foi concluído para a participação num “Grand Prix”, com o modelo 360 Cisitalia. O carro acabou por nunca participar em competições, mas o dinheiro que a Porsche recebera foi usado para libertar Ferdinand da prisão francesa. A empresa, entretanto, também vinha a consertar viaturas, bombas de água e guindastes, tendo iniciado igualmente um novo projecto, o Porsche 356, o primeiro veículo a ter a marca Porsche. Instalara-se em Gmünd, na época território austríaco, onde se abrigava dos bombardeamentos aliados.
A família Porsche voltou a Estugarda em 1949, sem saber como reiniciar os seus negócios. Os bancos não lhes davam crédito, pois as fábricas continuavam sob custódia americana e não podiam servir de garantia.
Porsche foi posteriormente contratado pela Volkswagen como consultor e recebeu royalties por cada Volkswagen do Tipo I (“Carocha”) fabricado. Isto deixou-o numa situação financeira confortável, pois foram produzidas mais de 20 milhões de unidades. Em Novembro de 1950, visitou a fábrica da Volkswagen em Wolfsburg pela primeira vez desde o final da Segunda Guerra Mundial. Durante a visita, conversou com o então presidente da fábrica acerca do futuro do Volkswagen “Carocha”.
Poucas semanas depois, Ferdinand Porsche sofreu um derrame cerebral, do qual nunca recuperou completamente, vindo a falecer em Janeiro de 1951. Em 1987, foi incluído no Automotive Hall of Fame. Em 1996, foi indicado para o International Motorsports Hall of Fame e, em 1999, recebeu o título de “Engenheiro de Automóveis do Século”.
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