EFEMÉRIDE - Tereza de
Arriaga, pintora portuguesa, morreu em Oeiras no dia 12 de Agosto de 2013.
Nascera em Lisboa, em 5 de Fevereiro de 1915.
Com um percurso discreto e não linear, iniciou-se nas artes plásticas sob a motivação do neo-realismo, nos anos 1940, tendo evoluído então para trabalhos abstractizantes de carácter geométrico. Todavia, só a partir do final dos anos 1950/60 é que a sua obra ganha mais consistência. Mantendo a sensibilidade social como traço da sua expressão plástica, evoluiu para uma exploração aprofundada da cor e das linhas, inspirando-se numa poética da relação humana ao mistério dos elementos naturais. As suas obras são assinadas simplesmente com “Tereza Arriaga” ou “Tarriaga”.
Sendo neta de Manuel de Arriaga, primeiro presidente da República Portuguesa, Tereza, cujo nome completo era Maria Thereza d'Almeida Pinheiro d' Arriaga, nasceu no Palácio de Belém, pois o seu pai, Roque Manuel de Arriaga, era na altura secretário pessoal do presidente e vivia com a família numa parte arrendada do palácio. Cedo teve de abandonar esta morada, pois em 14 de Maio de 1915 deu-se uma revolução que pôs fim ao mandato presidencial, tendo Tereza Arriaga andado então debaixo de balas. Com três anos, ficou órfã da mãe, que morreu de gripe pneumónica aos 27 anos de idade.
Foi educada num meio cultural privilegiado e politicamente esclarecido, onde preponderavam as ideias republicanas, que lhe suscitaram desde cedo a compreensão dos problemas sociais. Passou a infância no Monte Estoril, onde recebeu, tal como os seus irmãos, a primeira instrução dada pelo pai, embora este a sujeitasse a outras experiências educativas que passavam, nomeadamente, por uma preceptora inglesa e pelo internato no Colégio da Pena, em Sintra, de pendor religioso. Como estas experiências não tiveram os resultados desejados, a família voltou para Lisboa e Tereza foi finalmente para uma escola, o Colégio Inglês, particular e de orientação severa, onde conclui a instrução primária já tardiamente.
Apesar do republicanismo do pai, a sua educação tendeu para o que era o ideal burguês da época: saber ler e escrever, tocar piano e aprender francês. Esta educação atrasou o seu percurso artístico e académico. Tendo tentado seguir o estudo de piano, foi no desenho que, já no fim da adolescência, investiu fortemente por mote próprio, decidindo preparar-se para a Escola de Belas Artes. Entretanto, frequentou o atelier de pintura de Raquel Roque Gameiro, filha do grande aguarelista Roque Gameiro, que logo abandonou por conselho da própria, pois o que lá se aprendia e pintava não a satisfaziam minimamente.
Frequentou então um curso nocturno na Sociedade Nacional de Belas-Artes, onde era a única mulher. Nesta escola, teve como professor Frederico Aires, que lhe emprestava bustos de gesso do seu atelier para Tereza treinar o desenho.
Com a sua dedicação e ambição, no ano seguinte, conseguiu entrar para a Escola de Belas Artes para frequentar o curso de Pintura, «num tempo em que eram raras as mulheres que abraçavam de um modo profissional a carreira artística». É lá que conhece o estudante e futuro pintor Jorge de Oliveira, que reencontra mais tarde em Leiria e com quem veio a casar.
No final do 3º ano, resolveu ir trabalhar e interrompeu o curso. Foi então leccionar Desenho para a Escola Industrial de Marinha Grande, uma cidade-oficina do vidro situada em pleno Pinhal de Leiria, na região centro do País, onde residiu entre 1944 e 1945. Esta escola estava situada no perímetro da antiga Fábrica Nacional dos Vidros, a maior fábrica de vidro do País, mais tarde designada Fábrica-Escola Irmãos Stephens, fundada em 1769 por William Stephens (e onde hoje está instalado o Museu do Vidro). Para além da actividade de ensino, onde procurou implementar métodos de pedagogia pela arte, contactou directamente com a realidade operária e desenhou uma série de esboços, “Meninos operários”, uma grande parte deles em papel de embrulho. Nesta série, retratou sobretudo os gestos e os rostos cansados e enrugados pela desidratação, das crianças que trabalhavam nas fábricas de vidro.
Em 1952, concluiu o curso de Pintura com uma tese (uma pintura a óleo de grandes dimensões) nomeada “Vidreiros” e baseada na experiência da Marinha Grande, que se encontra em poder da actual Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa.
Entre 1944 e 1985, foi professora de Desenho em várias escolas, incluindo a Escola de Artes Decorativas António Arroio.
Dedicando-se com empenho quer à maternidade (é mãe pela única vez em 1948), quer à profissão, e devido à sua discrição, a carreira de pintora vai durante anos ficar para segundo plano, diferentemente do marido, cuja obra desde cedo se tornou uma referência na história da arte portuguesa, tendo participado nos movimentos emergentes do neo-realismo e do surrealismo, e sido um dos pioneiros do abstracto-geometrismo em Portugal.
A pulsão criativa esteve sempre presente e, mesmo na ausência de um trabalho sistemático, fez inúmeros esboços e projectos, muitos deles em simples bilhetes de eléctrico ou em papelinhos de telefone, que mais tarde viriam a traduzir-se em apontamentos desenvolvidos. Neste longo período, dedicou-se também à aguarela, explorando o seu potencial técnico na elaboração de projectos para telas a óleo, que viria a usar para a grande maioria dos seus trabalhos, pois como a própria pintora dizia, «o óleo é como cavar a terra». A aguarela permite uma maior liberdade e rapidez no momento da criação conceptual. Sendo também uma desenhadora exímia, nos anos 1950 e 60 dedicou-se principalmente ao Retrato. É desta época, 1951 e 1952, a pintura em atmosfera geométrica. Colaborou ainda, em 1966 e 1967, com a Sociedade Cooperativa de Gravadores Portugueses, expondo nas exposições de final de curso.
Mas foi só a partir de finais dos anos 1960 que Tereza Arriaga começou a dedicar-se com mais disciplina e assiduidade à pintura, adoptando o estilo que, evoluindo na continuidade, manteve até ao fim.
Ainda na Marinha Grande, sensibilizada pela terrível realidade que testemunhara, e motivada pela conjuntura (final da II Guerra Mundial e desenvolvimento de actividades políticas anti-regime de Salazar), vem a desenvolver uma série de iniciativas de âmbito cultural-político, designadamente através de clubes e associações operárias, conferências temáticas sobre os direitos das mulheres, a música ou a história, levando à vila industrial intelectuais e artistas de Lisboa como Fernando Lopes Graça, Maria Isabel Aboim Inglês ou o historiador Flausino Torres.
Envolveu-se (anos 1940/50) numa participação política antifascista que a levou a ser detida pela PIDE e encarcerada na prisão de Caxias durante 110 dias. Esta prisão viria a trazer-lhe inúmeros problemas profissionais.
Apesar dos inúmeros esboços (como, por exemplo, a série de carvões sobre os meninos operários, de pendor neo-realista) e criações pontuais mais elaboradas, foi só a partir de 1967 que Tereza de Arriaga se entregou com maior consistência e profissionalismo à pintura.
A sua obra está representada na colecção do Museu do Chiado e em diversas colecções institucionais e particulares, nacionais e estrangeiras.
Com um percurso discreto e não linear, iniciou-se nas artes plásticas sob a motivação do neo-realismo, nos anos 1940, tendo evoluído então para trabalhos abstractizantes de carácter geométrico. Todavia, só a partir do final dos anos 1950/60 é que a sua obra ganha mais consistência. Mantendo a sensibilidade social como traço da sua expressão plástica, evoluiu para uma exploração aprofundada da cor e das linhas, inspirando-se numa poética da relação humana ao mistério dos elementos naturais. As suas obras são assinadas simplesmente com “Tereza Arriaga” ou “Tarriaga”.
Sendo neta de Manuel de Arriaga, primeiro presidente da República Portuguesa, Tereza, cujo nome completo era Maria Thereza d'Almeida Pinheiro d' Arriaga, nasceu no Palácio de Belém, pois o seu pai, Roque Manuel de Arriaga, era na altura secretário pessoal do presidente e vivia com a família numa parte arrendada do palácio. Cedo teve de abandonar esta morada, pois em 14 de Maio de 1915 deu-se uma revolução que pôs fim ao mandato presidencial, tendo Tereza Arriaga andado então debaixo de balas. Com três anos, ficou órfã da mãe, que morreu de gripe pneumónica aos 27 anos de idade.
Foi educada num meio cultural privilegiado e politicamente esclarecido, onde preponderavam as ideias republicanas, que lhe suscitaram desde cedo a compreensão dos problemas sociais. Passou a infância no Monte Estoril, onde recebeu, tal como os seus irmãos, a primeira instrução dada pelo pai, embora este a sujeitasse a outras experiências educativas que passavam, nomeadamente, por uma preceptora inglesa e pelo internato no Colégio da Pena, em Sintra, de pendor religioso. Como estas experiências não tiveram os resultados desejados, a família voltou para Lisboa e Tereza foi finalmente para uma escola, o Colégio Inglês, particular e de orientação severa, onde conclui a instrução primária já tardiamente.
Apesar do republicanismo do pai, a sua educação tendeu para o que era o ideal burguês da época: saber ler e escrever, tocar piano e aprender francês. Esta educação atrasou o seu percurso artístico e académico. Tendo tentado seguir o estudo de piano, foi no desenho que, já no fim da adolescência, investiu fortemente por mote próprio, decidindo preparar-se para a Escola de Belas Artes. Entretanto, frequentou o atelier de pintura de Raquel Roque Gameiro, filha do grande aguarelista Roque Gameiro, que logo abandonou por conselho da própria, pois o que lá se aprendia e pintava não a satisfaziam minimamente.
Frequentou então um curso nocturno na Sociedade Nacional de Belas-Artes, onde era a única mulher. Nesta escola, teve como professor Frederico Aires, que lhe emprestava bustos de gesso do seu atelier para Tereza treinar o desenho.
Com a sua dedicação e ambição, no ano seguinte, conseguiu entrar para a Escola de Belas Artes para frequentar o curso de Pintura, «num tempo em que eram raras as mulheres que abraçavam de um modo profissional a carreira artística». É lá que conhece o estudante e futuro pintor Jorge de Oliveira, que reencontra mais tarde em Leiria e com quem veio a casar.
No final do 3º ano, resolveu ir trabalhar e interrompeu o curso. Foi então leccionar Desenho para a Escola Industrial de Marinha Grande, uma cidade-oficina do vidro situada em pleno Pinhal de Leiria, na região centro do País, onde residiu entre 1944 e 1945. Esta escola estava situada no perímetro da antiga Fábrica Nacional dos Vidros, a maior fábrica de vidro do País, mais tarde designada Fábrica-Escola Irmãos Stephens, fundada em 1769 por William Stephens (e onde hoje está instalado o Museu do Vidro). Para além da actividade de ensino, onde procurou implementar métodos de pedagogia pela arte, contactou directamente com a realidade operária e desenhou uma série de esboços, “Meninos operários”, uma grande parte deles em papel de embrulho. Nesta série, retratou sobretudo os gestos e os rostos cansados e enrugados pela desidratação, das crianças que trabalhavam nas fábricas de vidro.
Em 1952, concluiu o curso de Pintura com uma tese (uma pintura a óleo de grandes dimensões) nomeada “Vidreiros” e baseada na experiência da Marinha Grande, que se encontra em poder da actual Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa.
Entre 1944 e 1985, foi professora de Desenho em várias escolas, incluindo a Escola de Artes Decorativas António Arroio.
Dedicando-se com empenho quer à maternidade (é mãe pela única vez em 1948), quer à profissão, e devido à sua discrição, a carreira de pintora vai durante anos ficar para segundo plano, diferentemente do marido, cuja obra desde cedo se tornou uma referência na história da arte portuguesa, tendo participado nos movimentos emergentes do neo-realismo e do surrealismo, e sido um dos pioneiros do abstracto-geometrismo em Portugal.
A pulsão criativa esteve sempre presente e, mesmo na ausência de um trabalho sistemático, fez inúmeros esboços e projectos, muitos deles em simples bilhetes de eléctrico ou em papelinhos de telefone, que mais tarde viriam a traduzir-se em apontamentos desenvolvidos. Neste longo período, dedicou-se também à aguarela, explorando o seu potencial técnico na elaboração de projectos para telas a óleo, que viria a usar para a grande maioria dos seus trabalhos, pois como a própria pintora dizia, «o óleo é como cavar a terra». A aguarela permite uma maior liberdade e rapidez no momento da criação conceptual. Sendo também uma desenhadora exímia, nos anos 1950 e 60 dedicou-se principalmente ao Retrato. É desta época, 1951 e 1952, a pintura em atmosfera geométrica. Colaborou ainda, em 1966 e 1967, com a Sociedade Cooperativa de Gravadores Portugueses, expondo nas exposições de final de curso.
Mas foi só a partir de finais dos anos 1960 que Tereza Arriaga começou a dedicar-se com mais disciplina e assiduidade à pintura, adoptando o estilo que, evoluindo na continuidade, manteve até ao fim.
Ainda na Marinha Grande, sensibilizada pela terrível realidade que testemunhara, e motivada pela conjuntura (final da II Guerra Mundial e desenvolvimento de actividades políticas anti-regime de Salazar), vem a desenvolver uma série de iniciativas de âmbito cultural-político, designadamente através de clubes e associações operárias, conferências temáticas sobre os direitos das mulheres, a música ou a história, levando à vila industrial intelectuais e artistas de Lisboa como Fernando Lopes Graça, Maria Isabel Aboim Inglês ou o historiador Flausino Torres.
Envolveu-se (anos 1940/50) numa participação política antifascista que a levou a ser detida pela PIDE e encarcerada na prisão de Caxias durante 110 dias. Esta prisão viria a trazer-lhe inúmeros problemas profissionais.
Apesar dos inúmeros esboços (como, por exemplo, a série de carvões sobre os meninos operários, de pendor neo-realista) e criações pontuais mais elaboradas, foi só a partir de 1967 que Tereza de Arriaga se entregou com maior consistência e profissionalismo à pintura.
A sua obra está representada na colecção do Museu do Chiado e em diversas colecções institucionais e particulares, nacionais e estrangeiras.
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