domingo, 19 de agosto de 2018

19 DE AGOSTO - MANUEL GUIMARÃES


EFEMÉRIDE - Manuel Fernandes Pinheiro Guimarães, pintor, caricaturista e cineasta português, nasceu em Valmaior, Albergaria-a-Velha, no dia 19 de Agosto de 1915. Morreu em Lisboa, em 29 de Janeiro de 1975. Destacou-se pela aplicação dos princípios ideológicos do neo-realismo na arte do cinema em Portugal. A ditadura salazarista, mais atenta às manifestações da sétima arte do que às ‘transgressões’ no domínio da literatura, impediu-o de levar a bom termo os seus propósitos artísticos.
Depois de ter concluído o Curso Geral dos Liceus, seguiu o de Pintura, em 1931, na Escola de Belas Artes do Porto. A partir de 1936, foi decorador teatral, ilustrador e caricaturista. Desenhador de cartazes de cinema, interessou-se pela arte cinematográfica. Aderiu à profissão como assistente de vários realizadores como Manoel de Oliveira, António Lopes Ribeiro, Jorge Brum do Canto e Arthur Duarte.
Em 1949, realizou o documentário de curta-metragem “O Desterrado”, sobre a vida e obra do escultor Soares dos Reis. O filme recebeu o Prémio Paz dos Reis, atribuído pelo Secretariado Nacional da Informação (SNI) para as melhores curtas-metragens. A sua primeira longa-metragem foi “Saltimbancos”, obra adaptada do romance “Circo” do escritor Leão Penedo, cujo tema central era a vida dum pequeno circo ambulante. Entretanto, trabalhou em publicidade na distribuidora Metro Goldwyn-Mayer e começou a frequentar os meios intelectuais da capital.
Em 1952, Manuel Guimarães realizou o filme “Nazaré”, com argumento do escritor neo-realista Alves Redol, retratando a vida e hábitos dos pescadores da Nazaré, tal como Leitão de Barros já fizera antes (“Nazaré, Praia de Pescadores” – 1929), mas desta vez numa perspectiva de crítica social. A obra foi amputada pela censura.
Vidas Sem Rumo” (1956), com argumento do próprio Manuel Guimarães e com diálogos de Redol, sofreu amputações mais graves. Cerca de metade do filme foi censurado, com várias cenas cortadas. O resultado final da intervenção dos censores tornou a obra quase ininteligível.
Acossado pelo regime e desejando não abandonar o ofício, Guimarães viu-se forçado a optar, a partir de 1956, pela realização de filmes de cariz comercial sobre eventos desportivos. A sua tentativa de retomar a ficção, com “A Costureirinha da Sé”, em 1958, não compensou pois teve de integrar no filme publicidade explícita. Fez em seguida alguns documentários de divulgação sobre Barcelos, o Porto e os vinhos seculares.
António da Cunha Telles, que entretanto se envolvera como produtor dos primeiros filmes do Cinema Novo português, interessou-se por ele e aceitou fazer a produção executiva e co-produção de dois dos seus filmes seguintes: “O Crime da Aldeia Velha” (1964), adaptação da peça homónima de Bernardo Santareno, e “O Trigo e o Joio” (1965), que  Fernando Namora adaptou ao cinema do seu próprio romance. Na época, o grande público interessava-se sobretudo por filmes com uma vertente de entretenimento mais forte. Voltou ao documentário, aplicando-se em temas artísticos.
Manuel Guimarães teve períodos em que regressou ao grafismo e à ilustração em jornais e outras publicações periódicas e nunca deixou em absoluto de pintar, actividade que voltou a ocupar amiúde nos últimos anos de vida, embora sem expressão pública.
O 25 de Abril de 1974 trouxe-lhe esperança, mas já era tarde. Doente, Manuel Guimarães não terminaria o seu novo filme, “Cântico Final”, adaptado do romance homónimo de Vergílio Ferreira. A obra, afectada pelo desaire, seria concluída pelo seu filho Dórdio Guimarães.
Manuel Guimarães foi considerado por vários comentadores como injustiçado (e não só pelo velho regime). Faleceu em Janeiro de 1975.

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