quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

10 DE JANEIRO - JÚLIO POMAR


EFEMÉRIDE - Júlio Artur da Silva Pomar, artista plástico/pintor português, nasceu em Lisboa no dia 10 de Janeiro de 1926. Morreu na mesma cidade em 22 de Maio de 2018. Pertenceu à 3ª geração de pintores modernistas portugueses, sendo autor de uma obra multifacetada, centrada na pintura, desenho, cerâmica e gravura, com importantes desenvolvimentos nos domínios da tri-dimensão (escultura; assemblage) ou da escrita. Os primeiros anos da sua carreira estão ligados à resistência contra o regime do Estado Novo e à afirmação do movimento neo-realista em Portugal, marcando a especificidade deste no contexto europeu. Teve uma acção artística e cívica intensa ao longo das décadas de 1940 e 1950 e é consensualmente considerado o mais destacado dos cultores do neo-realismo nacional.
Começou a distanciar-se do activismo político e do idioma figurativo inicial, na segunda metade da década de 1950 e, em 1963, radicou-se em Paris. Sem nunca abandonar o pendor figurativo, libertou-se do compromisso neo-realista, enveredando pela «exploração de práticas pictóricas diversas que o centrarão na pintura enquanto tal, interrogando as suas formas, composições e processos, pintando das mais variadas maneiras na exploração ou na recusa das possibilidades que o seu tempo lhe abriu».
Ao longo das últimas quatro décadas, abordou uma grande variedade de universos temáticos, da reflexão auto-referencial ao erotismo, do retrato às alusões literárias e matérias mitológicas. Do ponto de vista formal, encontramos idêntica riqueza de meios e soluções. «A obra de Júlio Pomar constrói sucessivas cadeias de relações formais e semânticas entre os diferentes materiais, processos e técnicas».
Entre as grandes exposições realizadas nas últimas décadas, salientam-se: Fundação Calouste Gulbenkian; Museu de Arte Contemporânea de Serralves; Sintra Museu de Arte Moderna – Colecção Berardo; e museus de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, que consagraram a sua obra, que se destaca como uma das mais significativas expressões da criação artística portuguesa contemporânea.
Júlio Pomar frequentou a Escola António Arroio. Inscreveu-se depois na Escola de Belas-Artes de Lisboa em 1942. Nesse mesmo ano, em associação com ex-colegas da António Arroio, alugou um quarto na Rua das Flores, onde instalou um atelier e que servirá de improvisado local para uma exposição de grupo, a primeira em que participou. A mostra foi visitada por personalidades de relevo no mundo das artes, entre as quais Almada Negreiros, que lhe adquiriu uma pintura, hoje desaparecida, (“Saltimbancos”).
Descontente com a Escola de Lisboa, em 1944 transferiu-se para a Escola de Belas-Artes do Porto, que abandonou em definitivo dois anos mais tarde, na sequência de um processo disciplinar. Participou em Exposições Independentes (Porto e Coimbra, 1944; Lisboa, 1945), dinamizadas por Fernando Lanhas, com quem estabeleceu uma «estreita relação de cumplicidade».
Entre Junho e Outubro de 1945, dirigiu a página semanal de arte do diário “A Tarde” (Porto), onde divulgou o trabalho dos muralistas mexicanos (corrente onde se incluem Orozco e Siqueiros), do regionalista norte-americano Thomas Hart Benton, de Grosz ou Portinari, todos eles figuras de referência do neo-realismo nacional emergente.
Nos anos que se seguiram, colaborou com críticas e textos de intervenção estética, em revistas como “Mundo Literário” (1946/1948), “Seara Nova”, “Vértice”, “Horizonte”, etc. Embora afirmando a necessária independência da criação artística, em muitos desses textos, iria associar o trabalho de pintor ao combate político, dando prioridade à defesa da responsabilidade social do artista na criação de uma arte acessível e interveniente. Data de 1945, a sua filiação nas Juventudes Comunistas, ilegais (abandonaria o PCP anos mais tarde, de forma gradual).
Em 1946, iniciou um grande mural no Cine-Teatro Batalha, no Porto. Seria um dos principais organizadores (e expositores) das Exposições Gerais de Artes Plásticas realizadas na Sociedade Nacional de Belas Artes, entre 1946 e 1956. Uma das suas pinturas foi apreendida pela polícia política na segunda exposição em 1947, ano em que expôs individualmente pela primeira vez e foi preso pela PIDE, durante 4 meses, por pertencer à direcção do MUD juvenil. O mural do Cine-Teatro Batalha foi destruído por imposição governamental, no ano seguinte. Em 1949, foi afastado do lugar de professor de Desenho no ensino técnico devido à sua participação na candidatura presidencial de Norton de Matos (de quem desenhou um retrato, muito divulgado na altura).
No início da década de 1950, realizou novas exposições individuais (1950, 1951, 1952). Uma pintura sua foi adquirida pelo Museu de Arte Contemporânea de Lisboa (1953). Em 1956, participou na fundação da Cooperativa Gravura, da qual seria o principal dinamizador (até 1963). Participou na I e na II Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian (Lisboa, 1957 e 1961), onde lhe foram atribuídos o Prémio de Gravura e o 1º Prémio de Pintura, respectivamente. Participou na comissão organizadora (e enquanto expositor) da exposição 50 Artistas Independentes (SNBA, 1959), marco simbólico da ruptura de muitos artistas com as actividades culturais promovidas pelo governo. Realizou viagens a Madrid (1950), Paris (1951, 1956, 1961), Itália (1958), etc.
Em Junho de 1963, fixou residência em Paris. A mudança representou o afastamento definitivo da acção cívica, que marcou o arranque da sua carreira.  Regressou a Portugal apenas de forma esporádica e só vinte anos mais tarde adquiriu uma casa em Lisboa para aí instalar um segundo atelier. Expôs individualmente em Lisboa (Galeria do Diário de Notícias, 1962 e 1963) e em Paris (Galerie Lacloche, 1964 e 1965), cidades onde iria expor com regularidade ao longo dos anos e construir uma carreira estável.
Em 1967, realizou as primeiras assemblages com materiais encontrados e, no ano seguinte, iniciou duas séries paralelas, uma das quais acerca das convulsões de Maio de 1968 em França. Expõe de novo em Lisboa e, a partir de 1969, deu início à colaboração regular com a Galeria 111 de Manuel de Brito, que passou a representá-lo em Portugal.
Quando se deu a revolução de Abril de 1974, encontrava-se em Lisboa, onde permaneceu durante vários meses. Ao longo da década de 1970, publicou uma recolha de poemas, participou em mostras internacionais de relevo – nomeadamente na Bienal de S. Paulo, Brasil (1976) e realizou importantes exposições individuais, de onde se pode destacar a primeira retrospectiva da sua obra (Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, e Museu Nacional de Soares dos Reis, Porto, 1978).
Nos anos 1980, a obra de Pomar descobriu sintonias com a figuração expressionista, que se afirmava a nível internacional. Nas décadas seguintes, as exposições multiplicaram-se, em galerias e museus, nacionais e internacionais.
Fez duas viagens ao Brasil (1987 e 1988), de onde resultaram importantes séries de pinturas, que expôs em Lisboa, Madrid e Paris. Em 1999, Júlio Pomar deu início ao levantamento exaustivo da sua obra, com vista à organização do respectivo catálogo “Raisonnée”.
Em 2003, foi-lhe atribuído o Prémio Amadeo de Souza-Cardoso. No ano seguinte, o Sintra Museu de Arte Moderna – Colecção Berardo apresentou uma vasta retrospectiva intitulada “Pomar/Autobiografia”, enquanto o Centro Cultural de Belém expôs a antologia “A Comédia Humana”, dedicada à obra das décadas mais recentes. Em 2008, o Museu de Arte Contemporânea de Serralves, Porto, incluiu numerosas assemblages (esculturas) inéditas na mostra Cadeia da Relação.
Pomar dedicou-se especialmente ao desenho e pintura, mas a sua área de acção estendeu-se à gravura, escultura e «assemblage», ilustração, cerâmica, tapeçaria, cenografia para teatro, decoração mural em azulejo (de onde podem destacar-se os painéis para a estação de Alto dos Moinhos, Metropolitano de Lisboa, 1983/84).
Entre os inúmeros textos que publicou ao longo dos anos, podem destacar-se os seus livros de ensaios sobre pintura: “Discours sur la Cécité des Peintres” (1985), “Da Cegueira dos Pintores” (1986) e “Então e a Pintura?” (2003). Publicou também dois livros de poesia: “Alguns Eventos” (1992) e “TRATAdoDITOeFeito” (2003).
Em 2013, inaugurou o Atelier-Museu Júlio Pomar, num edifício adquirido em 2000 pelo Município de Lisboa (remodelado segundo projecto do arq. Álvaro Siza Vieira). O atelier-museu possui um acervo de várias centenas de obras, doadas pelo artista à Fundação Júlio Pomar e que inclui pinturas, esculturas, desenhos, etc.

Sem comentários:

Arquivo do blogue

Acerca de mim

A minha foto
- Lisboa, Portugal
Aposentado da Aviação Comercial, gosto de escrever nas horas livres que - agora - são muitas mais...