EFEMÉRIDE
– Euclides Pinto Martins, aviador brasileiro, morreu no Rio de Janeiro em 12
de Abril de 1924. Nascera em Camocim, Ceará, no dia 15 de Abril de 1892.
Em
1903, paralelamente aos seus estudos normais, ingressou num curso nocturno de
náutica, o que era já um sinal do seu gosto pelas viagens e aventuras.
Alguns
anos depois, embarcou no navio “Maranhão”, saindo mais tarde para ser
segundo piloto do “Pará”. Um acidente a bordo interromperia a sua curta
carreira naval e, Euclides, com problemas na carótida, deixou o navio.
No
início de 1909, o pai mandou-o para os Estados Unidos com 300 dólares e uma
recomendação para que uma empresa de amigos seus lhe entregasse uma quantia
mensal. Euclides não perdeu tempo e matriculou-se no Drexell Institute de
Filadélfia onde, três anos depois, se formou em Engenharia Mecânica.
Além de estudar, Pinto Martins trabalhava como estagiário na Baldwin
Locomotive, uma fábrica de vagões. Aprendeu a falar inglês fluentemente e
inseriu-se na sociedade local, arranjando uma namorada com quem se casou.
Regressou
ao Brasil, desembarcando em Fortaleza. Convidado pelo pai, viajou para Natal,
onde passou a trabalhar como engenheiro. Em 1914, nasceu a sua primeira filha,
que viria a morrer, tragicamente, aos 31 anos de idade num acidente de avião em Porto Rico.
A
vida de Euclides foi marcada por constantes viagens e mudanças. No final da 1ª
Grande Guerra, mudou-se para o Recife onde viveu dois anos. Em 1918,
faleceu a sua jovem mulher e Euclides voltou aos Estados Unidos. Apesar da dor
da perda, acalentava no peito o desejo de uma grande aventura entre o Brasil e os
Estados Unidos.
Procurou
parcerias e acabou por se associar a Ladislau do Rego para comprar um navio, com
a ideia de criar, no Brasil, uma companhia de cabotagem. O negócio não deu
certo, porque o navio se afundou. Não esmoreceu e casou-se com uma advogada
americana, doze anos mais velha do que ele. Em 1920, nasceu a sua segunda
filha.
Colocou
então o seu foco na aviação, que se desenvolvia de forma espectacular. Fez um
curso e obteve o brevet de piloto em 1921. Com a sua entrada no mundo
aeronáutico, conheceu um veterano, Walter Hilton, instrutor na Flórida. Com
este novo amigo e a afinidade de ideias, resolveu confidenciar-lhe um velho
sonho: atravessar o Atlântico numa viagem aérea Nova Iorque – Rio de Janeiro. O
projecto encontrou eco no colega e, juntos, começaram a trabalhar nele.
Em
1922, ei-lo a fazer parte da tripulação do hidroavião biplano Curtis H-16
fretado pelo jornal “The New York World”, que patrocinava a tentativa de
uma viagem aérea pioneira entre as Américas do Norte e do Sul.
A
viagem começou em Nova
Iorque em 4 de Setembro de 1922 e terminou no Rio de Janeiro
em 8 de Fevereiro de 1923, após terem sido cobertos os 5 678 quilómetros
do percurso. Foram cem horas de voo, a cada instante interrompidas pelos mais
variados problemas.
O
primeiro poiso, já em águas brasileiras, ocorreu em 17 de Novembro, quando Euclides
Martins e os seus colegas americanos amararam na foz do rio Cunani. O episódio foi posteriormente
narrado pelo próprio Euclides a um repórter do jornal “O Estado do Pará”:
«Quando levantámos voo de Caiena, encontrámos um forte temporal pela proa.
Rompemos o mau tempo com dificuldade, mas tivemos de procurar abrigo. Tomei o
comando do aparelho (eu era co-piloto) e, depois de reconhecer o
rio Cunani, ali descemos às 3,30 da manhã. O tempo, lá fora, estava impetuoso e
ameaçador. Não nos foi possível prosseguir e passámos a noite a matar mosquitos
e com bastante fome, pois não contávamos interromper a rota naquele momento…».
Este e muitos outros acontecimentos tornaram a viagem Nova Iorque – Rio de
Janeiro numa terrível aventura, com obstáculos só superados pela coragem dos
tripulantes.
Euclides
Martins viajou depois para a Europa e, no regresso ao Rio de Janeiro, iniciou
negociações para explorar petróleo. Depois, ocorreu a sua morte brutal e
inesperada. Até hoje, o caso não está bem explicado, mas Monteiro Lobato, no
seu livro “Escândalo do Petróleo e do Ferro”, sustenta que ele foi
vítima dos poderosos lobbies interessados em atrasar o desenvolvimento
brasileiro. A verdade talvez nunca venha a ser conhecida. Sabe-se apenas que
foi encontrado morto no seu apartamento, vítima de um tiro. Versão oficial, o
suicídio.
Em
1952, tendo em conta o desejo dos seus conterrâneos, o presidente Café Filho assinou
uma Lei no Congresso que oficializou o nome de Euclides Pinto Martins
para o aeroporto de Fortaleza. Fazia-se justiça a um homem dinâmico que, na
década de 1920, soube antever a importância económica da ligação aérea
regular entre os Estados Unidos e o Brasil e, seguidamente, teve a coragem de querer
investir na exploração de petróleo, no Brasil, quando isso era apontado como
uma verdadeira loucura.
Sobre
a sua relação com a exploração do petróleo, há algumas informações adicionais
no já citado livro de Monteiro Lobato, que o colocam como um dos mártires dos
estudos para a prospecção de petróleo no Brasil. A viagem Nova Iorque – Rio de
Janeiro também fora considerada uma loucura e ele, no entanto, contribuiu para
a sua concretização. A população de Camocim, terra natal de Euclides Martins,
considera-o um herói, pela sua coragem e pelo seu pioneirismo.
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