EFEMÉRIDE
– Flora Gomes, realizador da Guiné-Bissau, pioneiro do cinema no seu país e
um dos mais representativos cineastas africanos, nasceu em Cadique no dia 31 de
Dezembro de 1949. É conhecido pelo modo original como traça retratos
africanos, recorrendo ao mito e à história actual, numa fusão com delicada
carga poética e forte sentido universal.
Filho
de pais iletrados, lutando contra toda a espécie de dificuldades, empenhou-se
desde criança em superar a sua condição social de origem. Conheceu as adversidades
que o sistema colonial português, gerido por Salazar, impunha aos seus
súbditos. Viu com admiração os líderes do seu país baterem-se de armas na mão
contra a injustiça e nunca escondeu a sua admiração por Amílcar Cabral que, nas
suas palavras, terá sido «como um pai» para ele. Conheceu a dura
experiência do exílio e, empenhado no seu próprio combate, estabeleceu laços de
amizade com outros lutadores: não só do seu país como de Cabo Verde e de vários
outros países africanos.
Estudou
cinema em Cuba (1972) no Instituto Cubano de Arte e Industria
Cinematográficas. Prosseguiu a sua aprendizagem no Senegal, no Jornal de
Actualidades Cinematográficas Senegalesas. Co-realizou dois filmes com
Sérgio Pina. Foi assistente de Chris Marker e de Anita Fernandez.
Regressado
ao seu país, filmou a independência (24 de Setembro de 1974), satisfazendo o
desejo de Amílcar Cabral de serem os próprios guineenses a registar em película
esse momento histórico. A Guiné, que se libertara do jugo colonial, foi
visitada por repórteres e cineastas progressistas e, dados os conhecimentos já
adquiridos nas lides do cinema, Flora Gomes era bastante solicitado para os
ajudar, o que enriqueceu o seu saber.
Trabalhou,
no final da década, como fotógrafo e operador de câmara, colaborando com o ministério
da Informação. Realizou documentários históricos. A sua primeira
longa-metragem de ficção foi rodada em 1987 – “Mortu Nega”, um filme que
evoca a luta pela independência. A obra foi exibida em vários festivais
internacionais e Flora Gomes despertou a atenção de comentadores e críticos. Em
França, foi acolhido de braços abertos, o que no futuro lhe permitiria reunir
meios financeiros para a produção de novos filmes. Foi distinguido neste país,
em 2000, com o título de Cavaleiro das Artes e das Letras.
Participou
e foi premiado em diversos festivais, como os Veneza (1988) e Cannes
(1996). Dada a sua nacionalidade e o facto de vários dos seus filmes serem
co-produções com Portugal, Flora Gomes ocupa também um lugar especial na
história do cinema português.
Podendo
ter escolhido trabalhar no estrangeiro, Flora Gomes – apesar das dificuldades
encontradas para a produção dos seus filmes na Guiné-Bissau – continua a viver
e a trabalhar no seu país.
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