EFEMÉRIDE
– Eunice do Carmo Muñoz, considerada unanimemente uma das melhores
actrizes portuguesas de todos os tempos, nasceu em Moura no dia 30 de Julho de
1928.
Oriunda
de uma família de actores, estreou-se em 1941, na peça “Vendaval” com a Companhia
Rey Colaço/Robles Monteiro, sediada no Teatro Nacional D. Maria II.
O seu talento foi reconhecido e admirado de imediato por Palmira Bastos, Raul
de Carvalho, João Villaret e pela própria Amélia Rey Colaço, o que lhe permitiu
uma rápida integração na Companhia. Em 1943, contracenou com Palmira
Bastos em “Riquezas da Sua Avó”, uma comédia espanhola aportuguesada por
Ascensão Barbosa, José Galhardo e Alberto Barbosa. Seguiu-se, no ano seguinte,
“Labirinto” de Manuel Pressler. No Verão desse ano, protagonizou a opereta
“João Ratão”, ao lado de Estêvão Amarante. Continuou a coleccionar
sucessos, tendo trabalhado ao lado de Maria Lalande e Irene Isidro (“Raparigas
Modernas” de Leandro Torrado) e sendo ainda dirigida por Maria Matos em “A
Portuguesa” de Carlos Vale.
Já
aluna da Escola de Teatro do Conservatório Nacional, celebrizou-se com “A
Casta Susana” de Georg Okonkowikski. Terminou o Conservatório com 18
valores e popularizou-se no palco do Teatro Variedades, com Vasco
Santana e Mirita Casimiro, na peça “Chuva de Filhos” de Margaret Mayo.
Em
1946, estreou-se no cinema, aparecendo no filme de Leitão de Barros “Camões”.
Com esta interpretação, Eunice ganhou o Prémio do Secretariado Nacional de
Informação para a Melhor Actriz Cinematográfica do Ano. “Um Homem
do Ribatejo” (1946) de Henrique Campos e “Os Vizinhos do Rés-do-Chão”
(1947) de Alejandro Perla, foram os trabalhos que se seguiram. Em 1947,
casou-se pela primeira vez, com o arquitecto Rui Ângelo de Oliveira do Couto,
de quem teve uma filha.
Em
1948, voltou ao Teatro Nacional para protagonizar “Outono em Flor”
de Júlio Dantas. Seguiu-se “Espada de Fogo” de Carlos Selvagem, que foi
mais um grande êxito.
Trabalhou
novamente no cinema, em “A Morgadinha dos Canaviais” de Caetano Bonucci
e Amadeu Ferrari (1949), adaptado do romance homónimo de Júlio Dinis.
Participou ainda em “Ribatejo” de Henrique Campos.
Voltou
aos palcos em 1950, com a comédia “Ninotchka” de Melchior Lengyel,
contracenando com Igrejas Caeiro, Maria Matos e Vasco Santana. Em 1951,
ingressou na Companhia do Teatro Ginásio, dirigida por António Pedro.
Dessa época, salienta-se “A Loja da Esquina” de Edward Percy. Passou
pelo Teatro da Trindade e, depois, retirou-se durante quatro anos da
actividade teatral, com grande espanto dos jornais, dos críticos e do público.
A sua reaparição deu-se com “Joana D'Arc” de Jean Anouilh, no palco do Teatro Avenida. Filas
infindáveis de pessoas perfilaram-se então pela Avenida da Liberdade, para
obter um «bilhete para ver Eunice», que toda a crítica considerava uma
actriz genial.
Em
Fevereiro de 1956, casou-se pela segunda vez, com o engenheiro Ernesto Borges,
tendo 4 filhos deste casamento. Em 1957, depois da peça “A Desconhecida”
de Pirandello, ingressou – juntamente com Maria Lalande, Isabel de Castro,
Maria José, Ruy de Carvalho, Curado Ribeiro e Fernando Gusmão – no Teatro
Nacional Popular, sob a direcção de Ribeirinho, onde interpretou
Shakespeare (“Noite de Reis”), Júlio Dantas (“Um Serão Nas
Laranjeiras”) e Luiz Francisco Rebello (“Pássaros das Asas Cortadas”),
entre outros autores.
Já
nos anos 1960, passou para a comédia na Companhia de Teatro Alegre,
ao lado de nomes como António Silva e Henrique Santana. No Teatro Monumental,
fez “O Milagre de Anna Sullivan” de William Gibson (Prémio de Melhor
Actriz do SNI ex-aequo com
Laura Alves - 1963).
Passou
a aparecer regularmente na televisão, em diversas peças e séries. Regressou à
comédia, contracenando com Virgílio Teixeira e Igrejas Caeiro, em “Mary-Mary”,
no Teatro Variedades. Em 1965, Raul Solnado fundou a Companhia Portuguesa
de Comediantes, no recém inaugurado Teatro Villaret. Eunice recebeu
o maior salário até então pago a uma actriz dramática: 30 contos mensais. A
peça de estreia foi “O Homem Que Fazia Chover” de Richard Nash.
Seguiram-se interpretações de peças de Tennessee Williams e Bernardo Santareno.
Em
1967, actuou no Teatro Variedades e no Teatro Experimental de Cascais,
onde protagonizou “Fedra” de Jean Racine. Casou pela terceira vez, com o
poeta António Barahona da Fonseca, de quem tem uma filha.
Em 1970, criou – com José de Castro – a Companhia Somos
Dois, com a qual faz uma longa tournée por Angola e Moçambique. Estreou-se
depois, como encenadora, em “A Voz Humana” de Jean Cocteau.
Em
1971, voltou ao palco do Teatro da Trindade, ao lado de João Perry, para
fazer “O Duelo” de Bernardo Santareno. No mesmo ano, integrou uma nova
formação artística no Teatro São Luiz, onde interpretou José Régio. Com
a proibição pela censura, a poucas horas da estreia, de “A Mãe” de
Stanislaw Wiktiewicz, em
que Eunice era a protagonista, o director da companhia, Luiz
Francisco Rebello, demitiu-se e cessou a actividade deste promissor conjunto.
Dedicou-se,
então, à divulgação de poetas, quer em disco, quer em recitais, dando voz a
Florbela Espanca, António Nobre ou António Maria Lisboa. Voltou ao teatro, para
interpretar “As Criadas” de Jean Genet, juntamente com Glicínia Quartin
e Lurdes Norberto, no Teatro Experimental de Cascais. Fez uma nova e
longa tournée por África na companhia de Carlos Avilez, onde se representaram
as peças “Fedra” de Jean Racine e “A Maluquinha de Arroios” de
André Brun.
Integrada
na companhia residente do reaberto Teatro Nacional D. Maria II, Eunice
voltou aos palcos portugueses apenas em 1978, tendo vivenciado êxitos enormes,
ao interpretar peças de Bertolt Brecht
e Eurípedes, entre outros. Neste período, surgiu também em vários filmes, tendo
interpretações antológicas em “Manhã Submersa” de Lauro António (1980) e
“Tempos Difíceis” de João Botelho (1987).
Em
Julho de 1981, foi feita Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada.
Em 1991, celebraram-se os seus 50 anos de Teatro, com uma exposição no Museu
Nacional do Teatro, sendo condecorada, em pleno palco do Teatro Nacional,
pelo presidente da República, Mário Soares, com o grau de Grande-Oficial da
Ordem do Infante D. Henrique. Em 1993, estreou-se em telenovelas com a
interpretação de D. Branca em “A Banqueira do Povo”.
“A
Maçon”, peça escrita pela romancista Lídia Jorge propositadamente para
Eunice, foi à cena em 1997 no palco do Teatro Nacional. Em 2001,
representou “A Casa do Lago” de Ernest Thompson, encenada por La Féria e estreada no Politeama.
Em
2006, representou pela primeira vez na casa a que deu o nome, o Auditório
Municipal Eunice Muñoz, em Oeiras, com a peça “Miss Daisy”. Em 2007,
contracenou com Diogo Infante “Dúvida” de John Patrick Shanley, no Teatro
Maria Matos. Em Maio de 2008, foi agraciada com o Globo de Ouro de
Mérito e Excelência.
Em
2009, voltou ao Teatro Nacional D. Maria II, com o monólogo “O Ano do
Pensamento Mágico” de Joan Didion, encenado por Diogo Infante. Em Junho de
2010, foi elevada a Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada.
Em
2011, voltou à cena com “O Comboio da Madrugada” de Tennessee Williams,
no Teatro Experimental de Cascais. Ainda em 2011, apresentou “O Cerco
a Leninegrado” de José Sanchis Sinisterra, no Auditório Municipal Eunice
Muñoz. A actriz celebrou no dia 28 de Novembro, dia da estreia, 70 anos de
carreira. Nesse mesmo dia, foi condecorada com a Grã-Cruz da Ordem do
Infante D. Henrique.
Em Maio
de 2012, a
actriz – então com 83 anos – sofreu uma queda no Teatro Nacional D. Maria II,
durante os ensaios de reposição da peça de Tennessee Williams “O Comboio da
Madrugada”. Fracturou os dois pulsos e lesionou-se na cervical, sendo a
estreia cancelada. Recentemente, ainda admitiu regressar aos palcos.
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